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Apesar de apreensão por causa da Amazônia, os militares brasileiros não apostam em uma relação conflituosa entre Biden e Bolsonaro.
Apesar de apreensão por causa da Amazônia, os militares brasileiros não apostam em uma relação conflituosa entre Biden e Bolsonaro.| Foto: Evaristo Sá/AFP

O habitual pragmatismo dos militares brasileiros os impede de cravar um vitorioso nas eleições norte-americanas. Apesar de alguns manterem otimismo com a vitória do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não descartam, resignados, uma vitória do democrata Joe Biden.

Evidentemente, membros das três forças lembram que, assim como no pleito de 2016, a democrata Hillary Clinton chegou a ter “99%” de chances de vencer a disputa. Mas, dessa vez, acham real a probabilidade de uma derrota do candidato republicano. Por isso, um tom de apreensão já toma conta das projeções feitas por alguns deles sobre a relação entre o presidente Jair Bolsonaro e Joe Biden.

Os militares, como mostrou anteriormente Gazeta do Povo, são avessos à ideia de intervenção de uma nação estrangeira sobre a soberania brasileira em qualquer área, principalmente a ambiental. Como são eles que, em grande maioria, cuidam da Amazônia, reconhecem a apreensão em relação a um governo Biden. Mas garantem que não seria motivo para esmorecer e abaixar a cabeça para os Estados Unidos, pelo contrário.

Quando o democrata sugeriu que poderia oferecer uma ajuda de US$ 20 bilhões para a região amazônica, alguns militares zombaram da oferta. Entre eles, o discurso é de que o Brasil não está “à venda” e não se sujeitará a aceitar imposições dos norte-americanos. “É gentileza dele, mas que seu possível governo fique com o dinheiro lá, obrigado. Da Amazônia cuida o Brasil”, ironizou um membro das Forças Armadas.

Apesar da apreensão em como seria uma relação entre Brasil e Estados Unidos por causa da Amazônia, os militares não apostam em uma relação conflituosa. Ponderam que, assim como não houve alinhamento automático com Trump por parte deles, também não terá com Biden. Apontam até que um alinhamento estratégico não está descartado.

“Talvez não seja uma relação como é com Trump, mas a China vai continuar no ‘cangote’ deles e eles vão ter que lidar com isso. Não seria inteligente abrir mão de um importante aliado na América Latina como o Brasil”, aposta um interlocutor militar do Palácio do Planalto.

A rivalidade geopolítica com a China, por sinal, é um dos fatores que levam os militares a crer que Biden possa adotar uma postura pragmática com o Brasil. Se, por um lado, há um certo temor em relação a possíveis interferências na agenda ambiental brasileira — que pode afetar alguns acordos e novas parcerias, como mostrou Gazeta do Povo —, o mesmo não se prevê em outras áreas. A exemplo de parcerias na área de tecnologia, como o leilão de licenças da telefonia 5G.

Até mesmo a pressão por uma saída do ditador venezuelano, Nicolás Maduro, tenderia a permanecer em um governo Biden, dizem os militares. Afinal, apostam que, em caso de ascensão de um governo democrático que zele pela abertura econômica do país, empresas norte-americanas seriam as primeiras a se mobilizar para pegar os “espólios de guerra”. A própria indústria de defesa dos Estados Unidos poderia, eventualmente, ter interesse em negociar com uma nova gestão, a fim de desidratar a presença chinesa e russa no país.

Especialista aposta em manutenção de relações mais estratégicas entre Biden e Bolsonaro

Ter um aliado com o porte geográfico e econômico como o Brasil é estratégico para a ambição dos Estados Unidos em expandir sua influência em toda a América Latina, como atualmente aposta Trump. Com Biden, isso não vai mudar, prevê o especialista em segurança e defesa Alexis Risden, consultor da BMJ Consultores Associados. “Trump pode ser mais incisivo e falar mais alto, guerrear um pouco mais em palavras em relação a Biden sobre a Venezuela, mas um governo democrata não vai mudar esse discurso porque tem toda a questão chinesa e russa, e um forte tráfico de drogas no país”, justifica.

A Colômbia, outro aliado norte-americano, tem um perfil mais combativo do que o Brasileiro em relação à Venezuela. A doutrina dos Estados Unidos é de defender interesses do país e de aliados em qualquer lugar do mundo, e Risden, que conversa muito com militares das Forças Armadas brasileiras, diz que isso não mudaria com Biden. O mesmo vale para a postura antichina, o que reforçaria a aliança entre Brasil e EUA na disputa contra a chinesa Huawei. “Os Estados Unidos prometem ‘jorrar’ dinheiro aqui para o 5G caso Bolsonaro não abra as portas para os chineses, e isso é algo que não mudaria”, projeta.

O mesmo vale para as relações entre as Forças Armadas de ambos os países. Risden aposta que cooperações militares, treinamentos e operações conjuntas não mudariam — apesar de militares em cargos no Planalto não descartarem impactos à designação do Brasil como aliado extra-Otan. “Em termos militares, não muda nada caso Biden entre. É interesse americano que sejam amigos”, diz.

Os principais impactos, pondera, seriam, de fato, em outras áreas. “O Biden, como já disse que vai fazer, vai começar a olhar em certas pautas que o Trump, atualmente, ignora. O republicano não fala das queimadas, de vacina. Mas ele vai começar a opinar na Amazônia sobre os incêndios e pode retirar algum investimento”, avalia o especialista.

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