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Na cúpula do Mercosul, Bolsonaro tenta desfazer má imagem ambiental do Brasil
Jair Bolsonaro e o chanceler Ernesto Araújo durante videoconferência da Cúpula do Mercosul.| Foto: Marcos Correa/PR

Na primeira reunião da história do Mercosul realizada por videoconferência, o presidente Jair Bolsonaro voltou a defender nesta quinta-feira (2) a necessidade de modernizar e reestruturar o bloco formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Disse que o país quer buscar novos parceiros comerciais. Bolsonaro também tentou desfazer a má imagem ambiental do Brasil no exterior, que ameaça implodir o acordo comercial do Mercosul com a União Europeia (UE).

Ao lado do chanceler Ernesto Araújo e do ministro da Economia, Paulo Guedes, Bolsonaro foi o único presidente a citar questões internas na reunião internacional. Ele leu um discurso de pouco mais de cinco minutos, metade do tempo à disposição.

"No ano passado, alcançamos uma conquista histórica ao conseguir aprovar a reforma da Previdência. Estamos empenhados agora em outras reformas. Temos atuado com o mesmo empenho na melhoria do ambiente de negócios, atração de investimentos e renovação da infraestrutura", disse Bolsonaro, que em seguida defendeu a política ambiental.

"Nosso governo dará prosseguimento ao diálogo com diferentes interlocutores para desfazer opiniões distorcidas sobre o Brasil e expor a preservação, as ações que temos tomado em favor da proteção da floresta Amazônica e do bem-estar das populações indígenas", afirmou o presidente.

Na quarta-feira (1.º), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou os números das queimadas na Amazônia em junho, a maior devastação para o mês desde 2007. O aumento foi de 19,6% em comparação com o mesmo mês no ano passado: foram 2.248 focos ativos contra 1.880 em 2019.

Acordo com a União Europeia

Os dados pioraram a imagem do Brasil em países europeus, que avaliam frear o acordo com o Mercosul por causa da política ambiental brasileira.

Durante a cúpula do Mercosul desta quinta-feira, todos os presidentes do bloco reiteraram a necessidade de concluir a implementação do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, que foi assinado no ano passado, mas que depende da ratificação dos parlamentos de todos os países europeus. Uma das principais causas a ter emperrado a negociação é a política ambiental brasileira.

"Os históricos acordos selados em 2019 com a União Europeia e a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA - formada por Noruéga, Suíça, Liechtstein e Islândia) evidenciam que estamos no caminho certo", afirmou Bolsonaro.

Ao lembrar que a implementação do acordo com a UE criaria um bloco comercial com 800 milhões de pessoas com um PIB equivalente a cerca de um quarto do produto interno bruto mundial, o alto representante da União Europeia, Josep Borrell frisou a importância da cooperação em temas ambientais.

"O pacto verde, ou Green Deal, é uma das prioridades fundamentais para a ação exterior da União Europeia. Me alegro que através desse acordo nossos países possam colaborar mais estreitamente em temas de meio ambiente e mudanças climáticas para maximizar os benefícios de uma transição para uma economia verde", declarou.

Bolsonaro defende acordos comerciais com mais países

"Nosso governo endossou integralmente as prioridades da presidência paraguaia que aprofundam a modernização do Mercosul", afirmou o presidente. "Sob a presidência do Paraguai [no bloco], demos novos passos para a reestruturação interna do Mercosul", emendou.

Todos os presidentes do bloco defenderam a necessidade de avançar na integração regional. Bolsonaro concordou com o presidente paraguaio, Mario Abdo Benitez, na necessidade de revisar a tarifa externa comum (TEC) do bloco, que completa 25 anos.

Bolsonaro garantiu também que o Mercosul é "aliado essencial" para a "ambiciosa agenda de reformas" e o "nosso principal veículo para essa inserção" na América Latina e no mundo. Mas afirmou que o país "está disposto a avançar em outros entendimentos com parceiros mundo afora".

"Queremos levar adiante [acordos comerciais com] Canadá, Coreia [do Sul], Cingapura e Líbano. Queremos expandir acordos vigentes com Israel e Índia e abrir novas frentes na Ásia. Temos todo interesse de buscar tratativas com países da América Central" disse.

Bolsonaro desejou também que a Venezuela, que foi suspensa do grupo em 2017 por ruptura da ordem democrática, "retome o quanto antes o caminho da liberdade".

Uruguai defende pragmatismo na relação do Mercosul com EUA e China

O presidente argentino Alberto Fernandez, cuja relação com Bolsonaro é marcada pela tensão, pediu para deixar em segundo plano as diferenças ideológicas. "Somos obrigados a buscar um destino comum porque são nossos povos que o exigem", afirmou.

A defesa mais contundente da integração veio do presidente uruguaio, Luis Alberto Lacalle Pou, que assumiu a presidência interina do bloco. Ele pediu o fortalecimento da zona de livre comércio, o aperfeiçoamento da união aduaneira e a colaboração nas áreas da educação, saúde e meio ambiente.

Lacalle Pou também apelou para o pragmatismo nas relações com China e Estados Unidos. "Não podemos cair na falsa dicotomia de estar mais perto de um que do outro. Os países que triunfaram no desenvolvimento estiveram perto dos dois", afirmou.

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