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A estratégia de Bolsonaro para se reeleger em 2022
Bolsonaro no canal de transposição do Rio São Francisco: Nordeste está no centro da estratégia de reeleição.| Foto: Alan Santos/PR

Já pensando na disputa eleitoral de 2022, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vem implantando uma série de ações de governo e intensificou sua agenda de viagens pelo Brasil com dois objetivos: elevar os níveis de aprovação de sua gestão e, paralelamente, tentar anular eventuais adversários políticos na próxima disputa rumo ao Palácio do Planalto.

Em julho, Bolsonaro decidiu fazer um tour pelo Brasil e tem sido convidado por aliados de partidos do Centrão como o Progressistas (ex-PP), PL e até mesmo de siglas da esquerda, como o PSB, a participar de inaugurações e atos políticos. No fim de julho, Bolsonaro visitou São Raimundo Nonato (PI), Campo Alegre de Lourdes (BA) Bagé (RS). Em agosto, o presidente já esteve em São Vicente, cidade da Baixada Santista (SP) e em Pelotas e Barra do Ribeiro, ambas no Rio Grande do Sul.

Segundo interlocutores do presidente, a ideia é visitar estados dominados pela esquerda ou aqueles cujos governadores têm algum potencial eleitoral. Três exemplos: o prefeito de Campo Alegre de Lourdes é Dr. Enilson, do PCdoB. Já o município de São Vicente, mesmo sendo chefiado pelo emedebista Pedro Gouvêa, é considerada uma base eleitoral do PSB, do pré-candidato à prefeitura de São Paulo Márcio França. Já a viagem para Pelotas visava atingir diretamente o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), aliado da atual prefeita, a também tucana Paula Mascarenhas.

Justamente por essa razão, já existem viagens previstas para Belém (PA), Rio de Janeiro (RJ) e há a articulação para que o presidente visite até o final do ano cidades do interior do Maranhão. O recado é claro. Responder aos governadores Helder Barbalho (MDB), Wilson Witzel (PSC) e Flávio Dino (PCdoB) a críticas feitas por eles pela forma como o presidente conduziu a pandemia do coronavírus.

Renda Brasil, o novo trunfo do presidente

Paralelamente às visitas, o governo federal já prepara uma reformulação do Bolsa Família, tentando implantar o programa Renda Brasil. Também haverá uma nova versão do Minha Casa, Minha Vida. Além disso, serão lançadas medidas de estímulo para a economia nordestina. Tudo para tentar seduzir o eleitor da região, tradicionalmente identificado como o PT e partidos de esquerda.

A ideia é que o Projeto de Lei do executivo sobre o novo programa de transferência de renda seja enviado ao Congresso até o final de outubro. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o benefício do Renda Brasil deve variar entre R$ 250 e R$ 300. Já o novo programa habitacional deve ser lançado no início do ano que vem. O ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, tem realizado reuniões sistemáticas com o próprio presidente para definir diretrizes para esse novo projeto.

Para não dar um caráter meramente assistencialista a essas ações, o governo também estuda implementar ações no Nordeste, para estimular a economia local. Uma ideia em discussão, conforme assessores do Palácio do Planalto, é viabilizar uma linha de crédito anual de R$ 25 bilhões por meio de instituições públicas como o Banco do Nordeste e a Caixa Econômica.

Esse programa deve prever o desenvolvimento socioeconômico do semiárido, sobretudo a partir do aproveitamento racional dos recursos naturais do bioma da caatinga nos setores da agropecuária. Assim, esse projeto deve integrar pequenos produtores rurais ao grande circuito do agronegócio não somente com recursos, mas com assistência técnica, consultoria e compra da produção.

Segundo assessores do presidente, pesquisas internas do governo vêm mostrando que o pagamento do auxílio emergencial em função da pandemia da Covid-19 elevou a popularidade de Bolsonaro, principalmente entre os nordestinos e os mais vulneráveis. A ideia do Planalto é formular agora políticas públicas específicas para a população de baixa renda e tentar obter dividendos políticos com isso.

Bolsonaro acredita que vai partir de 35% das intenções de voto

O próprio presidente Bolsonaro vem admitindo a aliados que está animado com os resultados das últimas pesquisas de opinião, mas evita o clima do “já ganhou”. Dentro do Planalto, há a certeza de que Bolsonaro partirá, em 2022, com piso de pelo menos 30% do eleitorado. A ideia é que, com essas ações, o presidente possa começar a sua campanha à reeleição com ao menos 35% de intenções de voto.

“Fazer qualquer previsão neste momento é difícil. Bolsonaro tem um forte capital político, mas ele pode crescer ou cair dependendo de vários fatores como a economia, uma segunda ou terceira onda do coronavírus, entre outros”, afirma o presidente do Instituto Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo.

Com essas ações, Bolsonaro tenta repetir a fórmula da eleição passada, quando começou sua campanha, de fato, a partir de 2015 ao posicionar-se como o grande antagonista do PT, surfando em movimentos como nos protestos em favor do impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT). Já durante a gestão Temer, em 2017, Bolsonaro viajou a várias cidades brasileiras sob a justificativa de realizar palestras em associações de cabos e soldados. Entre as cidades visitadas pelo então deputado federal em 2017 estavam, por exemplo, Recife (PE), Boa Vista (RR), São Paulo, Belo Horizonte (MG), Campina Grande e João Pessoa, estas últimas na Paraíba.

"Pacificação" com o STF e Congresso é estratégia para evitar problemas

Paralelamente à implantação de uma agenda social e à tentativa de conquistar o eleitor do Nordeste, Bolsonaro também trabalha em outra frente: evitar atritos com o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF). Desavenças com os demais poderes têm potencial para desgastar a imagem do presidente até 2022, além de eventualmente criar embaraços legislativos e judiciais para ele.

No caso do STF, desde que o presidente moderou seu discurso contra a Corte, viu uma melhora em seus índices de aprovação popular.

Bolsonaro trabalha ainda para montar uma base mais sólida no Congresso, que garanta a aprovação de seus projetos e que também o defenda das investidas e críticas da oposição. O presidente já firmou aliança com o Centrão (inclusive por meio da distribuição de cargos); e tenta atrair o MDB. O recente convite para que o ex-presidente Michel Temer (MDB) liderasse a missão humanitária brasileira de ajuda ao Líbano foi um movimento nesse sentido.

Ritmo das obras é a grande dúvida no plano eleitoral de Bolsonaro

O que ainda está indefinido na estratégia eleitoral de Bolsonaro é o ritmo de obras para ele inaugurar e, assim, conquistar a simpatia do eleitorado beneficiado por elas. Uma ala do governo defende a aceleração dos gastos para haver mais obras prontas até 2022. Já o ministro da Economia, Paulo Guedes, prega maior contenção dos gastos públicos – o que significa menos quantidade de inaugurações para o presidente apresentar aos eleitores.

Nesta semana, a disputa dentro do governo entre a ala "gastadora" e Guedes veio a público. E foi vencida, ao menos por ora, pelo ministro da Economia. Após rumores de que o Planalto estaria tentando criar artifícios para furar o teto de gastos estabelecido pela Constituição e conseguir acelerar os investimentos, Bolsonaro veio a público para se comprometer com a responsabilidade fiscal.

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