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Bolsonaro se filia ao PL
Bolsonaro discursa durante cerimônia em que se filiou ao PL.| Foto: Reprodução/Youtube/PL

O presidente Jair Bolsonaro assinou nesta terça-feira (30) sua filiação ao Partido Liberal (PL), sigla pela qual irá concorrer à reeleição em 2022. Em discurso marcado por um tom conciliador com a política tradicional, Bolsonaro disse estar se sentindo "em casa" no PL e justificou a escolha do partido – uma das principais siglas do Centrão. O presidente também elogiou seu relacionamento com o Congresso.

Bolsonaro também reafirmou vários posicionamentos políticos que marcaram sua Presidência e que tendem a dar o tom de sua campanha de 2022: defendeu a liberdade (inclusive de imprensa e das redes sociais), destacou seus valores cristãos e patrióticos, afirmou que o Brasil resgatou seu patriotismo e disse que evitou que o socialismo fosse implantado no país. Foi um aceno à base mais ideológica do presidente – que, em 2018, era contrária a alianças com o que chamavam de "velha política".

Em seu discurso, o presidente afirmou que estava se sentindo em casa e alegou que a escolha do PL foi difícil. Bolsonaro lembrou que teve conversas com outras legendas, como o PP, do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o Republicanos, do deputado Marcos Pereira (SP). Representantes desses outros partidos do Centrão estiveram presentes na filiação de Bolsonaro ao PL.

“Estou me sentindo em casa [no PL]. Estou me sentindo dentro do Congresso Nacional. Vocês me trazem lembranças agradáveis, de luta e de embate. Mas, acima de tudo, momentos que juntos fizemos muitos pelo Brasil. Eu vim do meio de vocês. Eu fiquei 28 anos como deputado. Existem muitas semelhanças entre nós. Confesso que a decisão [de filiação] não foi fácil. A filiação é um casamento; não seremos marido e mulher, serremos uma família”, disse Bolsonaro.

Sobre as eleições de 2022, Bolsonaro afirmou que pretende compor com todos que estejam dispostos a ajudar o Brasil. “Eu e o Valdemar [Costa Neto, presidente nacional do PL] não seremos as pessoas que vamos decidir tudo sozinhos. A nossa visão vai passar por vocês [os políticos de vários partidos, sobretudo do Centrão, que estavam na plateia]. Nós queremos compor e, com essa composição, fazer o melhor para o nosso Brasil. Pode ter certeza que nenhum partido será esquecido por nós. Queremos compor nos estados, compor para senador, governador”, disse.

O presidente afirmou ainda que todos que compõe o governo são importantes e que nesses quase quatro anos de gestão foi possível recuperar o patriotismo dos brasileiros e livrar o Brasil do socialismo. “Todos são importantes para nós. Somos privilegiados, pois somos pessoas que podemos decidir o futuro de Brasil. Quando se viaja por esse país fantástico. Nós tiramos o Brasil da esquerda. Recuperamos o sentimento de patriotismo nos brasileiros e hoje as bandeiras verde e amarela são maioria entre as bandeiras vermelhas”, completou o presidente. Também disse que foi seu grupo político que resgatou a valorização de três princípios morais da sociedade brasileira: "Deus, pátria e família".

Sem citar o Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro afirmou que na Praça dos Três Poderes “alguns extrapolam os poderes” e afirmou que é preciso “zelar pela liberdade”. “Temos um bem que está na nossa frente e não podemos desprezá-lo e não podemos achar que ele não vai acabar nunca. É um bem que devemos sempre zelar por ele que é a nossa liberdade. Alguns extrapolam aqui na região na Praça dos Três Poderes, mas a pessoa vai se enquadrando e vendo que a maioria somos nós”, disse.

Além disso, Bolsonaro fez um aceno para a imprensa, alegando que nunca irá propor qualquer tipo de regulamentação da mídia. Mas, além de citar a imprensa, também falou em lutar pela liberdade das redes sociais – algo que Bolsonaro costuma fazer. “Jamais da minha parte qualquer proposta para regular a mídia”, disse. A fala ocorre dias depois de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ter afirmado que seria necessário regular as redes sociais e a mídia.

Presidente nacional do PL, o ex-deputado Valdemar Costa Neto, afirmou que o partido conquistou um lugar de destaque com a filiação de Bolsonaro. “Com muito trabalho, conquistamos uma posição de destaque entre os grandes partidos da política nacional. Sabemos que vivemos um dia depois do outro e desde sempre sabíamos que faltava um nome que representasse o nosso projeto para o Brasil. É nesse momento que o PL recebe uma grande liderança como o presidente Bolsonaro”, disse o presidente do PL.

Outra lideranças ligadas a Bolsonaro também se filiaram ao PL

O evento ocorreu em Brasília na data em que a capital celebra o Dia do Evangélico; e a cerimônia contou com a presença de diversas lideranças religiosas que apoiam o governo federal. Antes de Bolsonaro começar a falar, por sinal, o presidente pediu para o deputado Marcos Feliciano (PL-SP), que é pastor evangélico, para fazer uma oração.

Além de Bolsonaro, assinaram a filiação ao partido o senador Flávio Bolsonaro (RJ) e o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. A expectativa agora é de que parte dos 54 deputados que hoje estão no PSL também migrem para a legenda, no entanto, isso só deve ocorrer durante a janela partidária que será aberta em maio de 2022.

Parte dessa bancada esteve presente no evento de filiação, entre eles os deputados Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Major Vitor Hugo (PSL-GO), Bia Kicis (PSL-DF), entre outros. A cerimônia de filiação também teve a presença de integrantes do alto escalão do governo, como os ministros Tarcísio Freitas (Infraestrutura), Damares Alves (Mulher e Direitos Humanos), Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), Tereza Cristina (Agricultura).

Também prestigiaram a filiação lideranças de outros partidos, especialmente do PP: o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PR); e o presidente da Câmara, Arthur Lira (AL). O PP tende a indicar o vice na chapa de reeleição de Bolsonaro.

O deputado Ricardo Barros afirmou que a composição de reeleição do presidente Bolsonaro será formada pelo trio de partidos: PL, Progressistas (PP) e o Republicanos. As siglas compõem o núcleo duro do Centrão, base de sustentação do Palácio do Planalto no Congresso.

“O presidente escolhe o Partido Liberal e nós temos um tripé de apoio: de republicanos, progressistas e liberais, além de outros partidos que vão estar com o presidente Bolsonaro. A partir de hoje começamos a costura de alianças regionais, uma vez que está decidida a filiação do presidente Bolsonaro. Vai ser um esforço de conciliação para fortalecer os palanques regionais e para que o presidente Bolsonaro possa ter uma reeleição tranquila”, disse Barros.

De acordo com o deputado, existe um acordo para que a filiação dos demais aliados do Planalto sejam distribuídas entre os três partidos do Centrão. “As negociações em cada estado vão evoluir agora a partir desta decisão do presidente e da filiação das pessoas próximas ao presidente, que escolherão entre o Partido Liberal, o Progressistas e o Republicanos. Teremos ministros em todos esses partidos para mostrar a força dessa aliança de três partidos e mais outros que virão”, disse Barros.

Também presente no evento, o líder do governo no Congresso, o senador Eduardo Gomes (MDB-TO), afirmou que agora o presidente tem um problema a menos. “Agora temos um número né?”, disse o emedebista ao chegar no evento, referindo ao número do PL (22), que é o que terá de ser digitado na urna eletrônica para escolher o atual presidente em 2022. O partido de Eduardo Gomes vai oficializar a pré-candidatura da senadora Simone Tebet (MS) no próximo dia 8 de dezembro. O MDB, no entanto, não conta com unanimidade sobre o nome dela; e parte do partido tende a apoiar outros nomes – como Bolsonaro e Lula.

Indiretas para Sergio Moro

O evento de filiação de Bolsonaro contou com a presença de cerca de 300 pessoas e ocorreu em um centro de eventos menor que o de outros possíveis adversários como o ex-ministro Sergio Moro (Podemos) e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Segundo aliados do Planalto, a ideia era se contrastar com a “cerimônia de luxo de Moro”.

Durante o evento, o senador Flávio Bolsonaro afirmou que, por ele e por Valdemar Costa Neto (presidente do PL), o evento “seria no Maracanã”. Mas a escolha pelo local foi do próprio presidente Bolsonaro. Sem citar nominalmente o ex-ministro Sergio Moro, o senador afirmou que “a política pode até perdoar a traição, mas não se perdoa o traidor”.

Aliados do governo classificam o episódio da saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça como uma traição. O agora pré-candidato à Presidência pelo Podemos deixou a pasta acusando o presidente Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal.

“Traidor é aquele que expõe publicamente uma pessoa pensando no poder porque o convidou para ser o seu padrinho de casamento”, disse.

De acordo com o senador, existia uma orientação (supostamente de Moro) para dificultar a aquisição de armas de fogo pela população, sendo que essa era uma das bandeiras do presidente Bolsonaro. "Num governo conservador, havia uma orientação superior para que dificultasse a aquisição de armas de fogo para que as pessoas exercessem o direito à legítima defesa, no governo de um presidente que foi eleito com essa bandeira. Traidor é aquele que não tomou as providências para descobrir quem mandou matar Bolsonaro", completou Flávio Bolsonaro.

Filiação de Bolsonaro ao PL abre caminho para a construção de candidaturas

Além da articulação da candidatura à reeleição de Bolsonaro, a filiação do presidente ao PL vai pavimentar a candidatura de aliados aos governos estaduais e ao Senado. Uma das exigências de Bolsonaro é indicar os nomes de candidatos ao Senado em todos os estados na disputa do ano que vem.

Até então o presidente vinha sendo pressionado por aliados para que a escolha de seu partido fosse feita ainda em 2021, para que eles tivessem tempo de construírem suas alianças e palanques regionais. Além do PL, Bolsonaro deve contar com o apoio do PP, presidido pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e do Republicanos, ligado à igreja Universal do Reino de Deus. O trio compõe o núcleo duro do Centrão, base de sustentação do governo no Congresso.

A expectativa é de que as filiações de aliados bolsonaristas sejam divididas entre os três partidos. A ideia, segundo aliados do Planalto, é que a construção dos palanques e as candidaturas a deputados federais e estaduais passem necessariamente pelas negociações conjuntas dos três principais partidos. A deputada Alê Silva (PSL-MG), por exemplo, deve ir para o Republicanos, enquanto a ministra Tereza Cristina tende a se filiar no PP.

Na Bahia, por exemplo, o ministro da Cidadania, João Roma, pretende disputar o governo pelo Republicanos com apoio do Palácio do Planalto. Na Paraíba, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, pretende disputar uma cadeira do Senado, mas ainda não houve acordo para onde irá sua filiação.

No Rio Grande do Sul, o ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, pretende disputar o governo estadual e já encaminha sua filiação ao PL. A candidatura, no entanto, depende de uma composição com o senador Luiz Carlos Heinze, que é pré-candidato pelo PP. Lideranças dos dois partidos admitem que um acordo terá que ser construído nos próximos meses para que não haja uma divisão do grupo no estado.

Veja em vídeo como foi a filiação

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