A saída do deputado federal Alexandre Frota e a disputa no Senado em torno da instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Lava Toga reacenderam o debate em torno da estabilidade do PSL. O partido do presidente Jair Bolsonaro passou de minúsculo a gigante em menos de um ano e, desde o início de 2019, tem convivido com crises internas. A atual envolve dois pesos-pesados do partido, os senadores Flávio Bolsonaro (RJ) e Major Olímpio (SP). Em meio aos debates sobre a Lava Toga, Olímpio chegou a dizer que Flávio "morreu" para ele e que o filho do presidente deveria deixar a sigla.
As controvérsias também reabriram a possibilidade de que o próprio presidente da República e seus filhos mudem de partido. Bolsonaro estaria descontente com a atuação do presidente nacional do PSL, o deputado Luciano Bivar (PE).
A migração dos Bolsonaro a outras agremiações é cogitada desde o início do ano. Em março, uma especulação dava conta de que o presidente iria para um partido que seria fundado no Rio Grande do Sul. O filho Carlos, o único político da família que não integra o PSL, seria o principal articulador da nova legenda. Mas a hipótese não se concretizou.
O PSL nega que a crise possa crescer. Mas, enquanto algumas feridas permanecem abertas, outras forças políticas ficam à espreita para receber Bolsonaro e os familiares.
Uma delas é o Patriota, partido do qual o presidente se aproximou no fim de 2017, mas cuja filiação acabou não se concretizando. A outra legenda que estaria disposta a receber o presidente é a União Democrática Nacional (UDN) – grupo que busca reavivar o partido existente até a década de 1940. A entrada de Bolsonaro seria uma reestreia em grande estilo na política nacional.
"A chance de Bolsonaro sair é zero"
Líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO) minimiza as controvérsias internas do partido. O deputado tenta passar imagem oposta: as discussões públicas seriam um ponto positivo do PSL. "Todo partido tem suas confusões, suas divergências. Nós também. Mas a diferença é que nós não fazemos isso nos bastidores. Nós lavamos a roupa suja em público. Isso é reflexo de nossa criação, muito relacionada com as redes sociais", afirma.
O próprio Waldir foi protagonista de um desses embates públicos: no início do ano, ele e o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), trocaram farpas via Instagram e Twitter.
O deputado diz que as especulações em torno do PSL são "tempestade em copo d'água". E alega que o partido é menos fragmentado do que o PT. "Aqui nós temos apenas três correntes: a ideológica, a militar e a pragmática. E em quantos grupos o PT está dividido?", questiona. O partido dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff é célebre por correntes internas, que se articulam principalmente nos períodos eleitorais.
Waldir acredita que a possibilidade de Bolsonaro e os filhos deixarem o partido é "zero". "Não existe isso. É zero de chance. É só lembrar que os filhos dele comandam os dois maiores diretórios do PSL no país [Flávio é presidente do PSL-RJ e Eduardo, do PSL-SP]. Qual a razão para eles saírem?", questiona.
O deputado diz que a prioridade atual para o partido é a preparação para as eleições de 2020, a primeira disputa municipal que o PSL encarará depois de ter se tornado um partido grande. "Queremos eleger a maior rede possível de prefeitos para criar uma base que nos ajude na reeleição de Bolsonaro em 2022."
Mas mesmo a eleição municipal é foco de disputa no PSL, e logo nas duas principais cidades do país. Em São Paulo, a deputada Joice Hasselmann se lançou candidata para a prefeitura da capital, mas encontra resistência entre correligionários, como Major Olímpio e a também deputada Carla Zambelli. Já no Rio, o deputado estadual Rodrigo Amorim se apresentou para a disputa, mas Bolsonaro manifestou recentemente interesse em ter como candidato o deputado Hélio Lopes, o "Hélio Negão".
"Todo partido tem seus problemas, suas subdivisões. É que no nosso caso tudo acaba tendo mais relevância porque somos o partido do presidente da República", minimiza o deputado federal Delegado Pablo (PSL-AM).
Patriota de portas abertas
O Patriota quase foi o partido de Jair Bolsonaro. O então deputado federal anunciou, em dezembro de 2017, que deixaria o PSC e ingressaria na legenda – à época, ainda chamada PEN (Partido Ecológico Nacional) – para concorrer à Presidência da República no ano seguinte. Mas desgastes entre o núcleo mais próximo de Bolsonaro e o presidente do Patriota, Adilson Barroso, impediram que a filiação se concretizasse.
Apesar do entrevero, o Patriota permanece "de portas abertas" para Bolsonaro. A declaração é do próprio Barroso. "Ainda não fiz nenhum convite recente a ele [Bolsonaro], mas sempre deixei claro que as portas estão sempre abertas a ele. Quando o encontro ou quando encontro deputados ligados a ele, sempre reforço isso", disse o presidente do partido.
O Patriota acabou tendo Cabo Daciolo como candidato na eleição presidencial de 2018. Além de Bolsonaro, o partido também convidou o ex-jogador Ronaldinho Gaúcho para concorrer, pela sigla, à Presidência da República.
UDN confirma "namoro" com Bolsonaro
Já a UDN se utiliza da proximidade ideológica para convencer Bolsonaro. O partido – que ainda não está formalmente regularizado na Justiça Eleitoral – se apresenta como a única força "verdadeiramente" de direita do Brasil.
"Existe, sim, um interesse em termos Bolsonaro conosco. Estamos chegando, falando com interlocutores. É uma espécie de namoro", brinca o presidente da UDN, Marco Vicenzo.
Ele diz que também tem conversado com parlamentares do PSL para trazê-los à UDN, mas prefere não citar os nomes dos contatados. "Procuramos pessoas que levantam as bandeiras da direita, que tenham afinidade com o pensamento da UDN."
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