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Presidente da República, Jair Bolsonaro, durante reunião com o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe. Os dois devem se encontrar novamente na quinta-feira (24).
Presidente da República, Jair Bolsonaro, durante reunião com o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe. Os dois devem se encontrar novamente na quinta-feira (24).| Foto: Presidência da República

O presidente Jair Bolsonaro começará pelo Japão, a partir desta segunda-feira (21), uma série de visitas a países da Ásia e do Oriente Médio. Em Tóquio, a comitiva do presidente assistirá à cerimônia de entronização do novo imperador japonês, mas também discutirá um estreitamento da parceria comercial com o Japão, que é o quinto principal destino de produtos brasileiros (2,4% das exportações).

Segundo Eduardo Saboia, embaixador do Brasil em Tóquio, os japoneses têm visto com bons olhos as reformas em curso na economia do Brasil, o que está abrindo um novo estágio na relação entre os dois países.

"O Japão é um parceiro tradicional do Brasil. Só que, nos últimos anos, esse comércio ficou aquém do seu potencial. Agora, nós queremos retomar. O presidente Bolsonaro dá muita importância para a retomada dos investimentos e dos fluxos de comércio entre Brasil e Japão", afirma.

O embaixador diz que a presença na entronização do novo imperador "é uma demonstração da importância que nós atribuímos às relações com o Japão do ponto de vista político, econômico e também humano".

Além de ver a cerimônia, Bolsonaro terá uma reunião particular com o primeiro-ministro do Japão, Shinzu Abe, e participará de compromissos com lideranças empresariais do país. Também estão previstos encontros com a comunidade brasileira no Japão, que é a terceira maior do Brasil no exterior.

Ciência, tecnologia e nióbio: Bolsonaro vê no Japão um parceiro promissor

A frequência de conversas do presidente brasileiro com Shinzu Abe, primeiro-ministro japonês, mostra como Bolsonaro vê potencial na parceria com o Japão: esta será a terceira ocasião em que eles realizam uma reunião em particular em menos de um ano.

A primeira foi em Davos, em janeiro, e a segunda, durante o G20, que ocorreu em Osaka, em junho. Além disso, Abe tem uma visita marcada ao Brasil, no mês que vem.

Desta vez, o encontro deverá ocorrer na quarta-feira (23) à tarde. "Os dois já têm uma relação pessoal muito boa e sólida, o que é algo muito auspicioso", diz Eduardo Saboia.

Bolsonaro vê no Japão um parceiro confiável e manifesta seu interesse em estreitar as relações com o país desde quando era deputado federal. A força japonesa na área de ciência e tecnologia, e o interesse do país em materiais novos que o presidente considera promissores, como grafeno e nióbio, são alguns dos motivos que despertam o interesse do presidente.

O governo brasileiro já demonstrou interesse em um intercâmbio científico sobre o uso desses materiais. "Há pesquisadores brasileiros se integrando à rede de pesquisa japonesa, que está buscando formas de aplicação desses materiais à indústria. Há um grupo que estuda isso em São Paulo, e há brasileiros estudando em instituições japonesas. É uma questão de conectar", afirma Saboia.

Brasil quer com o Japão acordo parecido com o de UE-Mercosul

O governo brasileiro está trabalhando para que o Japão estabeleça com o Mercosul um acordo comercial semelhante ao que está sendo firmado entre o bloco sul-americano e a União Europeia. As embaixadas do Brasil e de outros países do Mercosul já transmitiram às autoridades japonesas o desejo de uma parceria do tipo.

Em julho, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), órgão que reúne indústrias brasileiras, e a Federação das Indústrias do Japão (Keidanren) fizeram uma declaração conjunta em defesa de um aprofundamento da parceria comercial dos dois países.

A visita que Shinzu Abe deverá fazer ao Brasil, em novembro, terá essa parceria como um dos focos principais. A reunião que Bolsonaro terá com o "grupo de notáveis", que reúne dirigentes das principais empresas do Japão, também tem como um dos objetivos tratar de diretrizes para esse acordo.

Saboia esclarece que "o foco é a entronização" e que não se trata de uma visita bilateral, mas o presidente aproveitará para tratar de comércio com esses empresários. "São lideranças que já conhecem o Brasil, já têm investimentos no Brasil, e querem aumentar. Querem um novo ciclo de investimentos. Eles têm manifestado confiança no governo, sobretudo nas reformas que estão em curso, e o presidente dará uma palavra de encorajamento para que eles venham investir no Brasil."

Investimentos já estão ganhando impulso

Segundo o embaixador brasileiro em Tóquio, o fluxo de investimentos japoneses no Brasil já teve um aumento, e há sinais de que o crescimento continuará.

Saboia cita como exemplo dessa tendência a SoftBank, uma empresa de telecomunicações japonesas que anunciou investimentos em startups na América Latina, incluindo muitas brasileiras. "Eles têm um fundo de US$ 5 bilhões para investimentos em startups latino-americanas. Quarenta empresas brasileiras estão se beneficiando ou vão se beneficiar desse fundo."

A cooperação no campo energético também tem sido um fator de fortalecimento das relações. "O Japão precisa fazer uma transição energética. Depois do desastre de Fukushima, os japoneses tiveram que fechar boa parte de suas usinas nucleares e estão fortemente dependentes de combustíveis fósseis para gerar energia. Eles têm o hidrogênio como opção estratégica para o futuro, mas precisam gerar energia para obter o hidrogênio. Isso pode ser feito a partir de fontes renováveis como biocombustíveis, como pellets. São projetos que permitirão ao Brasil exportar sua bioenergia", explica Saboia.

No campo da infraestrutura, o diplomata também vê um grande potencial de fortalecimento na relação com empresas japonesas, principalmente em áreas como saneamento, ferrovias, mobilidade urbana e logística portuária.

"O Brasil tem uma infinidade de demandas de infraestrutura. O Japão já tem uma participação na infraestrutura brasileira, mas perdeu um pouco o terreno nos últimos anos. Outros países e investidores aumentaram sua participação. Hoje, o Japão, que é a terceira maior economia do mundo, precisa investir em países emergentes, e o Brasil é uma oportunidade", diz.

Ele elogia a atuação do ministro Tarcísio Gomes, da Infraestrutura, por ser "muito ativo em promover as oportunidades para investimento". "Gostaria muito que ele visitasse o Japão, porque tenho certeza de que aqui ele seria muito bem recebido. Queremos que haja uma participação maior do Japão nas concessões e privatizações."

Encontro com a comunidade brasileira

Durante a visita, o presidente deve realizar pelo menos um encontro com brasileiros que vivem no Japão. O Japão tem a terceira maior comunidade de brasileiros no exterior – 200 mil brasileiros –, e Bolsonaro é popular entre eles.

Em fevereiro de 2018, quando ainda era deputado federal, Bolsonaro foi recebido aos gritos de "mito" por centenas de brasileiros em uma estação de trem em Hamamatsu. Nas eleições, recebeu votação expressiva dos residentes no Japão, chegando a ficar com mais de 90% dos votos em algumas seções eleitorais.

Agenda

O presidente deve permanecer no Japão até o dia 24. Depois, parte para a China, onde deve ficar até o dia 26. Em seguida, passa pelos Emirados Árabes e pelo Catar, e deve terminar a viagem em visita à Arábia Saudita entre os dias 28 e 30. A chegada a Brasília está marcada para o dia 31.

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, acompanhará o presidente nas viagens.

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