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Chefe da Casa Civil, Braga Netto tem atuado para construir pontes com partidos do Centrão no Congresso Nacional.
Chefe da Casa Civil, Braga Netto tem atuado para construir pontes com partidos do Centrão no Congresso Nacional.| Foto: Anderson Riedel/PR

A crise política e de saúde pública fez emergir um novo articulador político no Palácio do Planalto. O ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, ganhou força nos bastidores com as saídas dos ministros Luiz Henrique Mandetta, da Saúde, e Sergio Moro, da Justiça e Segurança Pública. O general da reserva tem coordenado ações de resposta à pandemia do coronavírus e investido na articulação com o Congresso.

Avesso à exposição e pragmático no trato político, Braga Netto assumiu o protagonismo no governo. Ostenta status parecido com o de Paulo Guedes, a ponto de vencer uma queda de braço com o ministro da Economia ao lançar o programa Pró-Brasil, uma espécie de novo PAC. É visto como um conciliador nato que preza, acima de tudo, pela disciplina. Missão dada é missão cumprida.

O chefe da Casa Civil é o coordenador do gabinete de crise montado no Palácio do Planalto para acompanhar a situação e os efeitos do coronavírus no país. Supervisiona o trabalho de outros 15 ministros e representantes de seis autarquias do governo federal. A criação do gabinete foi uma resposta do presidente Jair Bolsonaro ao protagonismo do ex-ministro Luiz Mandetta nas primeiras semanas da crise sanitária.

Braga Netto passou a coordenar as coletivas de imprensa diárias para atualização de casos de Covid-19 no país. Os encontros eram uma iniciativa do Ministério da Saúde. Mas, com a escalada da tensão entre o presidente e Mandetta, as coletivas passaram a ser realizadas no Palácio do Planalto, sob coordenação do chefe da Casa Civil e sempre com a presença de mais ministros do governo para diminuir o protagonismo do então ministro da Saúde, que acabou demitido.

Durante as coletivas, Braga Netto chega a interromper os demais ministros enquanto eles respondem a perguntas dos jornalistas e é comum que o ministro-general passe bilhetinhos aos colegas durante o encontro com a imprensa. Tudo para evitar declarações desnecessárias e que possam gerar novos conflitos.

Braga Netto coordena resposta da economia

Também foi Braga Netto quem anunciou, no dia 22 de abril, um plano para recuperação da economia pós-coronavírus. O programa Pró-Brasil tem como objetivo gerar emprego e recuperar a infraestrutura do país em resposta aos impactos trazidos pelo combate ao novo coronavírus. A proposta terá sua implantação começando em larga escala a partir de outubro e deve movimentar mais de R$ 250 bilhões em investimentos em 10 anos, segundo o governo.

O anúncio foi feito sem a presença do ministro Paulo Guedes ou de algum técnico do Ministério da Economia. Braga Netto garantiu que o projeto tem apoio de toda a equipe ministerial. "Todos os ministros foram favoráveis ao programa. Sem nenhum problema", disse.

A equipe econômica, no entanto, vê o plano lançado por Braga Netto com ressalvas e é contra o aumento do gasto público. Guedes segue pregando a necessidade de manter a agenda liberal, com incentivos ao investimento privado. Uma hora antes do lançamento do Pró-Brasil, o secretário especial de Desestatização do Ministério da Economia, Salim Mattar, declarou que o Brasil não tem dinheiro público para investir.

Articulação com o Congresso nacional 

Também coube ao ministro-chefe da Casa Civil atuar para uma aproximação de Bolsonaro com partidos influentes no Congresso Nacional — o bloco conhecido como Centrão, formado por legendas como DEM, PTB, PP, Solidariedade, PRB, PSD, MDB, PR, Podemos, Pros e Avante.

Em duas semanas, Braga Netto articulou reuniões entre o presidente e representantes de sete partidos do bloco. O objetivo é formar uma base governista na Câmara e no Senado num momento de fragilidade política do presidente Jair Bolsonaro e o governo está oferecendo, inclusive, cargos em troca de apoio.

De acordo com a Folha de São Paulo, o movimento de aproximação com o Centrão segue uma tática militar conhecida como "vencendo o inimigo pelo coração". O significado é que, para se conquistar um objetivo, deve-se ouvir as "necessidades das pessoas".

Braga Netto sinalizou aos líderes do Centrão que vai atender os pedidos do bloco. O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, chegou a se referir ao general como "primeiro ministro" durante live com investidores promovida pela XP Investimentos, no dia 19 de abril.

Quem é o general Braga Netto

Braga Netto assumiu a chefia da Casa Civil em fevereiro deste ano, depois da saída de Onyx Lorenzoni, que foi para o Ministério da Cidadania. Em 2018, foi chefe da intervenção federal na segurança pública no Rio de Janeiro.

Nascido em Belo Horizonte, Braga Netto tem 62 anos e cumpre o "perfil mineiro": prefere o trabalho ao verbo. É conciliador ao extremo — agiu nos bastidores para tentar impedir a demissão de Luiz Henrique Mandetta e a saída de Sergio Moro. Não teve sucesso, mas ninguém pode acusá-lo de ficar com os braços cruzados.

Descrito como respeitoso, bem humorado e afável, o general é tido como capaz de reconhecer talentos e limitações próprias e de sua equipe. Ele não toma decisões tempestivamente.

Começou a carreira militar na Academia Militar das Agulhas Negras (RJ), onde se formou em 1978 aspirante a oficial da Cavalaria. Em 42 anos no Exército, trabalhou na Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, assessorou o ministro do Exército, coordenou pelo Exército os Jogos Olímpicos do Rio em 2016 e chefiou as principais unidades dos mais importantes postos militares do país, entre eles o Comando Militar do Leste, que abrange os estados do Sudeste. O general foi ainda observador militar das Nações Unidas no Timor Leste, e adido na Polônia e nos Estados Unidos. Tem pelo menos 25 condecorações nacionais e quatro no Exterior

O ministro gosta de mandar e, mais ainda, de ser obedecido. Ao assumir o comando da intervenção no Rio, que lhe concedeu poderes de governador do estado na área da segurança pública, em 2018, Braga Netto determinou a seus subordinados e pediu aos familiares discrição nas redes sociais. A gestão dele à frente das polícias fluminenses durou oficialmente de fevereiro a dezembro de 2018. Antes, já havia comandado operações de Garantia da Lei da Ordem na cidade do Rio.

Obteve sucesso ao conseguir reduzir a maioria dos índices de criminalidade, com destaque para as quedas no número de homicídios de civis e de policiais. Mas a morte da vereadora Marielle Franco (Psol), durante a intervenção, deixou uma mancha no currículo do general. O assassinato demorou a ser elucidado e até hoje pairam dúvidas sobre quem mandou matar a parlamentar carioca.

No início do governo Bolsonaro, Braga Netto chegou a ser convidado pelo ministro Sergio Moro para ocupar a Secretaria Nacional de Segurança Pública, mas recusou. Não havia chegado a hora de deixar o Exército. Essa decisão veio apenas no início deste ano, quando aceitou o convite para a Casa Civil e entrou para a reserva das Forças Armadas.

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