sede do cade
Sede do Cade, em Brasília.| Foto: Divulgação.

O presidente Jair Bolsonaro cedeu a pressões de senadores e indicou nesta sexta-feira (23) cinco novos nomes para integrar o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Pelo menos dois deles foram negociados diretamente com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) - os dos advogados Luiz Augusto Hoffmann e Lenisa Rodrigues Prado, esta última indicada para ocupar o cargo de procuradora-geral do órgão que cuida da concorrência entre empresas no país.

Os outros indicados são o também advogado Sérgio Costa Ravagnani e o economista Luiz Henrique Bertolino Braido. O atual superintendente-geral do órgão, Alexandre Cordeiro, foi reconduzido ao cargo. A indicação de Cordeiro foi defendida por senadores, mas, desde o início do ano, ele tem se aproximado da equipe econômica por causa de negociações de acordos com a Petrobras.

 O atual superintendente-geral do órgão, Alexandre Cordeiro, foi reconduzido ao cargo.  Foto: Divulgação.
O atual superintendente-geral do órgão, Alexandre Cordeiro, foi reconduzido ao cargo. Foto: Divulgação.| Andrea Torrente

Todos os indicados passarão por sabatina em comissão do Senado e precisam ter seus nomes aprovados pelo plenário da Casa. Ainda há uma vaga no conselho, que também deverá ser preenchida por indicação do Senado.

No início do mês, num primeiro movimento, Bolsonaro retirou dois nomes que haviam sido apresentados por ele em maio e não teriam agradado aos senadores - eles haviam sido escolhidos pelos ministros da Economia, Paulo Guedes, e da Justiça, Sérgio Moro. Alcolumbre demonstrou resistência aos conselheiros escolhidos pelo presidente e "segurou" a tramitação até que o Planalto recuasse.

Parlamentares avaliaram que o presidente do Senado atendeu a demandas de aliados próximos nas escolhas para o Cade. Questionado na quarta-feira passada sobre se uma indicação para o órgão sairia do Senado, Alcolumbre foi irônico: "Daqui? Agora me deu medo".

Nesta sexta-feira, em nota, Alcolumbre afirmou que as indicações ao Cade ou a qualquer outra agência reguladora "são prerrogativa exclusiva do Executivo". "Todos os nomes indicados serão devidamente sabatinados no Senado, onde os indicados poderão provar suas capacidades."

Quem são os indicados

As escolhas feitas pelo presidente surpreenderam integrantes do Cade, já que advogados e economistas atuantes na área da concorrência vinham sendo sondados. Os indicados foram vistos com reservas por não terem experiência na área antitruste - a exceção é Cordeiro, que foi conselheiro do órgão antes de ocupar a superintendência. "Espero que as indicações tardem, mas não falhem, porque, pela primeira vez na história, não vêm nem da Justiça nem da Economia", afirmou o advogado José Del Chiaro, que atua em processos no Cade.

Hoffmann é graduado em Direito e doutor em Direito Civil pela Universidade de São Paulo. É sócio de um escritório de advocacia. Ravagnani é subchefe adjunto de Política Econômica e graduado em Direito pela Universidade de Brasília (UnB). Lenisa é graduada em Direito pelo Centro de Ensino Unificado de Brasília e mestre em Constituição e Sociedade pelo Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP). É advogada e foi conselheira do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). Já Cordeiro é graduado em Direito e Economia e mestre em Direito Constitucional pelo Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP).

Moro não teve influência

Apesar de o Cade ser ligado ao Ministério da Justiça, o ministro Sergio Moro não foi consultado e não teve influência em nenhuma das indicações. Tradicionalmente, os escolhidos para o conselho são apontados pelas equipes da Economia e da Justiça. A equipe de Guedes, porém, foi quem escolheu Braido. Ele é PHD em Economia pela Universidade de Chicago, onde Guedes estudou. Procurados, os indicados não se pronunciaram. A reportagem não conseguiu contato com Lenisa.