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Antonio Anastasia (PSD-MG) é um dos senadores cotados para substituir Alcolumbre no comando do Senado.
Antonio Anastasia (PSD-MG) é um dos senadores cotados para substituir Alcolumbre no comando do Senado.| Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado

A menos de dois meses para a disputa da presidência do Senado, seis senadores trabalham para se viabilizar como candidatos. Outros dois ainda analisam o terreno para decidir se lançam ou não seus nomes. Se cacifar ao pleito não é uma missão simples. Envolve diálogo, convencimento e habilidade política para obter votos com promessas de campanha e costuras partidárias.

Três das seis candidaturas postas vêm do MDB, que tem a maior bancada na Casa. Apenas uma delas permanecerá ao fim. São os senadores Eduardo Braga (AM), líder do partido; Simone Tebet (MS), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ); e Eduardo Gomes (TO), líder do governo no Congresso. E, no que depender do histórico e da força ainda existente, a legenda tem tudo para emplacar o sucessor do atual presidente, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

O principal adversário do MDB deve surgir do PSD, legenda que detém a segunda maior bancada. Diferentemente dos emedebistas, a tendência é lançar imediatamente um candidato, o senador Antonio Anastasia (MG). O objetivo é evitar divisão e largar com uma candidatura forte capaz de puxar votos antes mesmo das festas de fim de ano, quando o Congresso fica esvaziado.

Outros nomes do PSD, PP e DEM são cotados, como aliados de Alcolumbre. À Gazeta do Povo, interlocutores afirmam que o principal aliado do presidente do Senado é Eduardo Gomes, mas outros nomes podem, eventualmente, se viabilizar. Alguns exemplos são os dos senadores Fernando Bezerra (MDB-PE), Nelsinho Trad (PSD-MS), Lucas Barreto (PSD-AP), Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e Daniella Ribeiro (PP-PB).

O Muda Senado, grupo composto por 21 senadores, planeja lançar a candidatura do senador Alvaro Dias (Podemos-PR), líder do partido. Outro membro desse grupo, o senador Major Olimpio (PSL-SP), também planeja ser candidato.

Conheça melhor os senadores que devem entrar na disputa pela presidência do Senado:

Eduardo Braga (MDB-AM)

Líder do MDB e da Maioria no Senado, Braga é o candidato do senador Renan Calheiros (MDB-AL), ex-presidente da Casa e um dos mais influentes até hoje, mas que, como antecipou a Gazeta do Povo, pode abdicar da disputa a depender de acordos com o governo. O parlamentar tem um currículo extenso e vitorioso na política.

Começou sua trajetória como deputado estadual pelo Amazonas, entre 1987 a 1991. Entre 1991 e 1992 foi deputado federal, mas abdicou do cargo após vencer as eleições municipais de 1992 como vice-prefeito de Amazonino Mendes. Com a renúncia de Amazonino para o governo estadual, Braga virou prefeito de Manaus.

Depois, ainda foi governador do Amazonas, entre 2003 e 2006, sendo reeleito por mais quatro anos. Em 2010, lançou candidatura ao Senado, onde permanece desde 2011. Durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, se licenciou do Senado para assumir o Ministério de Minas e Energia, entre 2015 e 2016.

Em 2017, o senador passou a ser investigado por suspeitas de receber R$ 1 milhão da Odebrecht após o Supremo Tribunal Federal (STF) abrir inquérito contra ele e mais outros 28 senadores. Entretanto, o inquérito contra ele foi arquivado em 2018 pelo ministro Alexandre de Moraes, sob argumento da própria Suprema Corte de restringir o foro privilegiado de deputados e senadores a crimes cometidos no exercício do mandato e em razão da atividade parlamentar.

Em 2019, a Lava Jato abriu outro inquérito contra o senador e outros integrantes do MDB, sob a acusação de recebimento de R$ 6 milhões da JBS na campanha de 2014. Mesmo investigado, o senador foi escolhido para ser o relator da indicação de Kassio Nunes Marques ao STF, em 2020.

Simone Tebet (MDB-MS)

A senadora emedebista vai tentar pela segunda vez a candidatura. Nas eleições de 2019, lançou seu nome internamente no partido, mas foi voto vencido à época. O partido lançou Renan Calheiros, que desta vez vai ficar de fora. Contudo, não significa que deixará de atuar nos bastidores. Calheiros acha Tebet muito independente, ou seja, não gosta da possibilidade de não tê-la sob seu poder. Por isso, a candidatura da parlamentar não deve ter vida longa enquanto ela for do MDB.

O desejo de sua candidatura não é à toa. Tebet é filha Ramez Tebet, ex-presidente do Senado. A carreira política da senadora começou como deputada estadual. Se candidatou pelo Mato Grosso do Sul, nas eleições de 2002, e ficou no mandato por dois anos. Nas eleições de 2004, lançou sua candidatura para a prefeitura de Três Lagoas (MS), sua terra natal e a terceira maior cidade do estado, e se saiu vitoriosa.

Na política de Mato Grosso do Sul, Tebet se lançou, em 2010, vice-governadora na chapa “puro-sangue” com o emedebista André Puccinelli. Vitoriosos na disputa, ela ocupou complementarmente o cargo de secretária de Governo entre 2013 e 2014. Nas eleições de 2014, lançou sua candidatura para o Senado, onde cumpre mandato desde então.

A parlamentar foi alvo de inquérito no STF que investigava suposta fraude do “caráter competitivo de tomadas de preço” e o desvio de recursos públicos federais e municipais “em favor de empresa fraudulenta contratada”. Em relação ao suposto esquema de desvios de verbas públicas, a parlamentar, que chegou a ter os bens bloqueados pela Justiça Federal, foi absolvida e teve a efetiva devolução dos bens. O processo contra ela foi arquivado pelo ministro Marco Aurélio por prescrição.

Eduardo Gomes (MDB-TO)

O líder do governo no Congresso é o candidato do governo. Apesar de ser o favorito do presidente Jair Bolsonaro, tamanha é a habilidade do parlamentar em circular entre os diferentes partidos, acredita-se que ele possa conseguir até os votos de senadores da oposição. A proximidade com a articulação política pode render a ele o reconhecimento para indicar um sucessor afeito às negociações do Orçamento e de medidas provisórias, pautas atualmente costuradas por ele.

Sua trajetória política não é recente. Foi vereador por três mandatos em Palmas, entre 1997 e 2003, e, depois, deputado federal por três mandatos, entre 2003 e 2015. Entre 2011, foi o primeiro-secretário da Câmara, um cargo de peso dentro da Casa. Nas eleições de 2014, concorreu ao Senado, mas foi derrotado pela senadora Kátia Abreu (PP). Com duas vagas na disputa, conseguiu a eleição em 2018.

Por um curto período de tempo, entre julho e agosto de 2019, chegou a ser secretário da Governadoria do estado do Mato Grosso, na gestão do atual governador Mauro Carlesse (DEM). Mas pediu licença do cargo para ser o líder do governo no Congresso de Bolsonaro.

O senador, que também é segundo-secretário da Mesa Diretora do Senado, chegou a ser denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF), mas o inquérito foi arquivado. O inquérito apurava supostas licitações fraudulentas e produtos superfaturados no pagamento de despesas da Câmara Municipal de Palmas.

Fernando Bezerra (MDB-PE)

Apontado como um possível nome a ser apoiado por Alcolumbre, o líder do governo no Senado não é o indicado de Bolsonaro, mas, se sentir que tem alguma chance de viabilizar sua candidatura, colocará o nome a postos. Bezerra iniciou sua trajetória como deputado estadual e, depois, foi eleito deputado federal.

Após sua passagem pelo Congresso, se elegeu prefeito de Petrolina (PE), sua terra natal, posto que ocupou após ser eleito em três ocasiões. Em Pernambuco, Bezerra ainda foi secretário de Desenvolvimento Econômico do estado e presidente do Complexo Industrial Portuário de Suape. Em âmbito nacional, foi ministro da Integração Nacional do governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), entre 2011 e 2013.

Em 2019, Bezerra começou a ser investigado pela Polícia Federal, denunciado por um suposto esquema criminoso de pagamentos indevidos por empreiteiras. Seu gabinete foi alvo de busca e apreensão. O caso foi encaminhado ao STF, sob relatoria do ministro Luís Roberto Barroso.

Antonio Anastasia (PSD-MG)

O candidato que pode rivalizar com mais força a candidatura emedebista é o atual primeiro-vice-presidente do Senado. Até fevereiro, Anastasia vai tentar viabilizar sua candidatura e obter votos de outros partidos, como o PSDB, e obter os votos do Muda Senado, que, em princípio, terá candidato. O parlamentar é cauteloso e só vai para o “voto a voto” com uma base robusta.

Sua trajetória na política começou com cargos técnicos. Foi assessor do ex-deputado estadual Bonifácio Mourão (PSDB), relator do regimento interno da IV Assembleia Constituinte do estado. Entre 1995 a 1999, foi secretário-executivo do Ministério do Trabalho no governo de Fernando Henrique Cardoso. Por um curto período de uma semana, em 1998, foi ministro interino do Trabalho.

Nas eleições de 2006, foi vice na chapa com Aécio Neves para o governo de Minas Gerais. Reeleito vice em 2010, Anastasia assumiu o cargo em março de 2010, com a renúncia de Neves para disputar o Senado. Nas eleições de 2014, lançou candidatura ao Senado e foi eleito para seu primeiro mandato. Em 2018, se lançou candidato para o governo de Minas, mas foi derrotado pelo atual governador, Romeu Zema (Novo).

Em 2016, Anastasia foi relator do processo de impeachment que levou à cassação de Dilma. Como outros senadores, ele também é investigado por corrupção. Citado em em um dos cinco inquéritos que tratam também de Aécio Neves, ele é investigado por suspeita de receber vantagens indevidas em forma de doações de campanha eleitoral em 2009 e 2010. Segundo delatores da Odebrecht, sua campanha recebeu R$ 1,8 milhão em 2009 e R$ 5,47 milhões em 2010.

Nelsinho Trad (MDB-MS)

Caso Anastasia não consiga viabilizar sua candidatura, o presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (Creden) do Senado é outro que pode representar o partido. Trad é visto como um dos parlamentares que teria o apoio de Alcolumbre. Ele também é aliado de Bolsonaro, tendo viajado com o presidente da República para a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2019.

O senador foi vereador por Campo Grande em três mandatos e deputado estadual por menos de um. Se licenciou do cargo quando venceu a disputa pela prefeitura da capital sul-mato grossense, nas eleições de 2004. Reeleito quatro anos depois, cumpriu o mandato até o fim. Em 2014, tentou as eleições para o governo do estado, mas tendo recebido 16,42% dos votos válidos, nem sequer foi ao segundo turno. Quatro anos depois, foi eleito senador.

Em 2018, Trad foi condenado pela Justiça Federal, que acatou pedido do Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul, por atos de improbidade administrativa. Ele foi acusado e condenado por fazer propaganda pessoal em obras públicas, utilizando-se de totens com “clara menção do próprio nome, além da numeração da obra realizada em mandato.”

Lucas Barreto (PSD-AP)

Outro nome cotado a receber o apoio de Alcolumbre é o senador Lucas Barreto, seu conterrâneo. Seria alguém que o presidente do Senado vê a possibilidade de manter seu poder de olho na população amapaense. Porém, o partido está convicto a mitigar todas as chances de outros peesedistas na disputa para tornar Anastasia seu candidato.

Barreto iniciou sua trajetória política como deputado estadual por Amapá, onde foi eleito em quatro mandatos consecutivos, desde 1990. Em 2006, foi candidato a vice-governador na chapa de Papaléo Paes, mas ambos ficaram em terceiro lugar. Quatro anos depois, ele tentou o governo do estado, sendo derrotado no segundo turno por Camilo Capiberibe (PSB). Em 2012, elegeu-se vereador por Macapá e, em 2014, candidatou-se a governador mais uma vez, mas, novamente, ficou fora do segundo turno.

Não há informações sobre denúncia ou citação de Barreto em algum suposto esquema de corrupção.

Rodrigo Pacheco (DEM-MG)

Outro nome cotado para receber o apoio de Alcolumbre, Pacheco é o que pode ser dito um fenômeno da política. Em sua primeira eleição, em 2014, foi eleito deputado federal por Minas Gerais. Chegou a coordenar a bancada do MDB, seu partido à época, e presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, considerado o colégio permanente mais importante.

Em sua segunda eleição, em 2016, disputou a prefeitura de Belo Horizonte, tendo ficado em terceiro lugar. Um ano depois, presidindo a CCJ, articulou nos bastidores para atrasar as votações das denúncias contra o ex-presidente Michel Temer, a fim de dar tempo para o emedebista se articular. Na Câmara, alegou na segunda denúncia, por exemplo, que enfrentava dificuldades para escolher o relator.

Não há informações sobre denúncia ou citação de Barreto em algum suposto esquema de corrupção.

Daniella Ribeiro (PP-PB)

Cogitada por Alcolumbre por representar uma “renovação” na Casa, pelo fato de ser mulher, a senadora Daniella Ribeiro é irmã do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), pré-candidato à presidência da Câmara dos Deputados. No momento, contudo, está licenciada por motivos pessoais e retorna à Casa em janeiro.

A senadora foi eleita vereadora por Campina Grande em 2008, onde permaneceu por dois anos. Interrompeu o mandato no meio quando se candidatou a deputada estadual nas eleições de 2010. Foi eleita e reeleita na Assembleia até que, em 2018, candidata a senadora, foi eleita em sua primeira tentativa.

Não há informações sobre denúncia ou citação de Barreto em algum suposto esquema de corrupção.

Alvaro Dias (Podemos-PR)

O senador é o nome escolhido para ser o candidato do Muda Senado. Dentro do grupo, há quem entenda que a melhor estratégia é ter uma candidatura, nem que às vésperas da eleição eles negociem o “capital político” acumulado a um candidato que, eventualmente, tenha puxado mais votos. Parlamentares desse grupo, entretanto, garantem que não apoiarão a candidatura do MDB.

Natural de São Paulo, Alvaro Dias construiu sua vida política no Paraná. Começou a carreira como vereador em Londrina, entre 1969 e 1971. Nos quatro anos seguintes, foi deputado estadual. Imediatamente após a carreira nos Legislativos municipal e estadual, foi ser um legislador nacional, eleito deputado federal, em 1974. Ocupou o posto por dois mandatos, quando, em 1982, foi candidato ao Senado e venceu a disputa.

A consolidação de seu nome na política paranaense não se limitou ao período da ditadura militar. Em 1986, já na redemocratização, Dias foi eleito governador do Paraná. Em 1989, disputou as prévias para ser o candidato do MDB (então PMDB) à presidência da República, mas foi preterido. Em 1994, tentou se eleger novamente governador, mas foi derrotado por Jaime Lerner. Desde as eleições de 1998 vem assegurando seu assento no Senado.

Defensor da luta contra a corrupção, Dias lançou sua candidatura para a Presidência da República em 2018. O nome dele já foi citado como beneficiário de propinas pagas em dois episódios investigados pela Operação Lava Jato. Apesar disso, nunca foi oficialmente investigado pela força-tarefa.

Em 2018, uma reportagem da Veja aponta que Dias foi citado em e-mail de Samir Assad, condenado junto com o lobista Adir Assad a 13 anos de prisão por lavagem de dinheiro e pertinência à organização criminosa na Operação Irmandade. O e-mail, datado de 2012, foi enviado ao então diretor do Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht, e sugeria que o senador teria pedido R$ 5 milhões para aliviar para Adir Assad na CPMI do Cachoeira.

Em 2001, Luís Antônio Paolicchi, apontado como pivô de um esquema de corrupção em Maringá (PR), citou Dias, então no PSDB, e o ex-governador Lerner (PFL) por suposto beneficiamento com dinheiro desviado em operações que teriam sido comandadas pelo ex-prefeito Jairo Gianoto.

Major Olimpio (PSL-SP)

O candidato considerado “independente” nessa disputa é o senador Major Olimpio (PSL-SP). Integrante do Muda Senado, ele já disse que será candidato. Sem apoio de seus aliados, contudo, sua candidatura não vingará e pode ser possível que entre em posterior acordo para apoiar algum outro senador.

Sua trajetória até o Senado foi quase meteórica. Eleito e reeleito deputado estadual nas eleições de 2006 e 2010, lançou candidatura em 2014 para a Câmara dos Deputados e conseguiu a vitória. Foi candidato à prefeitura de São Paulo em 2016 e, nas eleições de 2018, conseguiu, na onda do bolsonarismo, um posto ao Senado.

O senador não é investigado em nenhum inquérito policial, mas uma reportagem publicada pelo The Intercept Brasil sugere que o parlamentar é cercado por uma rede de empresas de segurança no nome de todos os membros de sua família, menos o dele. A Lei Orgânica da Polícia de São Paulo proíbe que policiais militares e civis sejam administradores ou donos de empresas.

Os negócios, denunciou a reportagem, acumulavam à época R$ 45 milhões em dívidas pelo não pagamento de impostos e processos trabalhistas. Três empresas das quais a esposa do senador foi sócia também foram citadas na Lista de Devedores da Dívida Ativa da União e no Banco Nacional de Devedores Trabalhistas.

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