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Diferentemente do Senado, onde a impossibilidade de reeleição de Davi Alcolumbre (DEM-AP) mudou todo o cenário e abriu as portas para diversas candidaturas e outros cotados, a disputa pela presidência da Câmara é mais previsível. Muitos dos postulantes à sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) já estão com suas candidaturas postas, como o líder do Centrão, Arthur Lira (PP-AL), que se lançou oficialmente na disputa nesta quarta-feira (9).
A candidatura de Lira freia a de um dos principais aliados de Maia, o líder da Maioria, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). Lira é o candidato do presidente Jair Bolsonaro e uma das principais forças nessa eleição. Do outro lado, a principal disputa pelos espólios políticos de Maia está entre os deputados Baleia Rossi (MDB-SP), líder e presidente nacional do partido, e Elmar Nascimento (DEM-BA), ex-líder da legenda e indicado à Comissão Mista de Orçamento (CMO).
Os três são vistos, hoje, como os nomes mais fortes na disputa. Mas outros ainda podem viabilizar sua candidatura. A exemplo do deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP), primeiro-vice-presidente da Câmara e um dos principais integrantes da bancada evangélica. Atualmente, contudo, aparece em desvantagem na disputa para absorver os votos de Maia.
Confira abaixo um breve histórico políticos dos candidatos à sucessão de Maia no comando da Câmara:
Arthur Lira (PP-AL)
O líder do Centrão é o candidato do governo. Desde quando o Palácio do Planalto iniciou sua recomposição de forças no Congresso, trouxe Lira para dentro do Executivo. Distribuiu cargos e emendas a aliados do parlamentar. O deputado construiu seu poder aos moldes clássicos da política, entregando espaços e recursos para aliados em troca de apoio na Câmara.
Arthur Lira iniciou sua trajetória política como vereador em Maceió, onde foi eleito por dois mandatos. Depois, exerceu o cargo de deputado estadual em Alagoas por três mandatos. Desde as eleições de 2010, é deputado federal. Ou seja, está em seu terceiro mandato na Câmara dos Deputados.
Tido como um dos nomes mais fortes da disputa, mesmo com a saída de DEM e do MDB do Centrão, ainda lidera 135 deputados. Para a largada de sua candidatura, entretanto, acredita-se que ele comece com um apoio superior a 160 deputados. Estima-se, ainda, que ele tenha poder sobre alguns deputados emedebistas e demistas do baixo clero.
O deputado foi alvo de cinco investigações no STF. Entretanto, em uma destas investigações, a Procuradoria-Geral da República (PGR), depois de denunciá-lo, voltou atrás argumentando que o parlamentar não tinha responsabilidade sobre os atos dos quais era acusado. Recentemente, foi absolvido pela Justiça do Alagoas das acusações de que teria chefiado um esquema de rachadinhas quando era deputado estadual.
Baleia Rossi (MDB-SP)
Tido como o principal candidato a receber os votos de Maia, Rossi tenta viabilizar seu nome. Nos bastidores, busca os votos do DEM, PSDB, Republicanos, PV, Cidadania e da ala “bivarista” do PSL. Com os 35 votos do MDB, ele acredita que possa chegar a ter os mesmos cerca de 160 votos de Lira.
Líder do partido na Câmara, Rossi é filho de Wagner Rossi, ex-ministro da Agricultura dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Iniciou sua vida política como vereador em Ribeirão Preto, aos 20 anos, em 1993. Foi reeleito em 1996 e 2000. Em 2002, foi eleito deputado estadual e, dois anos depois, lançou candidatura à prefeitura de Ribeirão Preto, mas foi derrotado no segundo turno.
Em 2010, foi novamente eleito deputado estadual. Em 2014, elegeu-se deputado federal. Em 2018, foi reeleito. Com apenas dois mandatos na Câmara Federal, foi eleito presidente nacional do partido. Nos bastidores, dizem que sua vitória na legenda veio do apoio do ex-presidente Michel Temer. O emedebista é o autor da proposta de emenda à Constituição (PEC) 45/19, a reforma tributária em discussão no Congresso.
Em 2016, foi acusado pelo lobista Marcel Júlio de extorquir fornecedores de merendas para escolas públicas de São Paulo. Por isso, chegou a ser investigado com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF), por supostas fraudes na compra das merendas. Contudo, por falta de provas, o ministro Gilmar Mendes arquivou o inquérito.
Elmar Nascimento (DEM-BA)
O DEM não terá Maia para disputar o pleito, mas isso não significa que não tenha um candidato. Nascimento é o porta-voz do presidente nacional do partido, ACM Neto. Tem o apoio da cúpula da legenda e mais do que isso: também tem o apoio da esquerda. Conforme mostrou a Gazeta do Povo, ele articulou nos bastidores e afirma a correligionários ter conseguido 120 votos de parlamentares de partidos da oposição.
O parlamentar iniciou sua trajetória política em 1996, quando foi eleito vereador em Campo Formosa, sua cidade natal. Reelegeu-se ao cargo em 2000 e, nas eleições de 2002, foi eleito deputado estadual. Ocupou o cargo por três mandatos, até que, em 2014, elegeu-se a deputado federal e conquistou a vitória nas urnas. Em 2018, foi reeleito para mais quatro anos.
O deputado chegou a ser designado relator na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos recursos da defesa no processo de cassação do mandato de Eduardo Cunha (MDB-RJ), ex-deputado e ex-presidente da Casa. Aliado de Cunha, Nascimento deixou a relatoria do caso.
Desde 2019, Nascimento articulou pautas importantes para o Nordeste, onde ampliou sua força política além do DEM. Em 2017, o parlamentar votou contra o encaminhamento da denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o então presidente Michel Temer ao Supremo Tribunal Federal.
Marcos Pereira (Republicanos-SP)
Bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, Pereira fez seu nome político por meio da bancada evangélica do Congresso mesmo quando não era parlamentar. Em seu primeiro mandato, eleito em 2018, já ocupa a primeira vice-presidência da Câmara. O apoio da Frente Parlamentar Evangélica o cacifa como um dos candidatos à presidência da Casa.
O deputado chegou a ser formalmente apoiado pela bancada evangélica em jantar durante a pandemia, em Brasília. O problema, ponderam seus adversários políticos, é que a frente parlamentar não tem força dentro dos partidos. O desafio de Pereira será puxar votos para si fora das alianças partidárias construídas.
Em 2016, Pereira foi escolhido para ser o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, na gestão do ex-presidente Michel Temer. Deixou o cargo em 2018, após ser mencionado na Operação Lava Jato como beneficiário de propina da Odebrecht. Ele é suspeito do recebimento ilegal de R$ 7 milhões.
Aguinaldo Ribeiro (PP-PB)
Tido como candidato de Maia até o início deste ano, perdeu espaço para Baleia Rossi e Elmar Nascimento. Recentemente, seu partido até se reuniu para lançar a candidatura de Arthur Lira. Relator da reforma tributária, tampouco conseguiu apresentar seu parecer em meio à pandemia e das dificuldades de acordo com o governo, por pressão do Centrão.
Fiel o suficiente ao partido, é esperado que Ribeiro desista de sua pré-candidatura. Ele construiu sua vida política na Paraíba, quando foi eleito deputado estadual por dois mandatos, em 2002 e 2006. Desde 2010, conseguiu sair vitorioso na eleição para deputado federal.
Fez sua força em âmbito nacional no governo da ex-presidente Dilma Rousseff, quando foi ministro das Cidades. Uma das atribuições da extinta pasta era a condução da política do Minha Casa, Minha Vida, uma das principais ambições entre os políticos.
Em 2019, se tornou réu no Supremo Tribunal Federal (STF) em uma ação penal por desvio de recursos da Petrobras. Foi apontado por Rodrigo Janot, ex-procurador-geral da República, como membro de uma suposta organização criminosa que atuava na estatal durante a gestão petista.
Luciano Bivar (PSL-PE)
Presidente nacional do PSL, Bivar tenta viabilizar sua candidatura a presidente da Câmara, mas, dentro do partido, alguns admitem que ele não terá a força política para fazer frente a candidaturas como as de Arthur Lira, Baleia Rossi e Elmar Nascimento. Seria mais uma estratégia para ampliar seu “capital político” e “vendê-lo”, como fez em 2019.
Um ano atrás, o PSL ensaiou o lançamento de uma candidatura, mas recuou. Decidiu apoiar Maia em sua reeleição e, assim, ganhou postos privilegiados na Mesa Diretora e em comissões permanentes. Bivar, por exemplo, é o segundo vice-presidente da Câmara. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (Creden) são presididas por deputados do partido.
Em 2019, Bivar foi indiciado pela Polícia Federal (PF). Ele é investigado sobre um suposto esquema de candidaturas laranjas nas eleições de 2018.