O embaixador Celso Amorim, principal assessor do presidente Lula (PT) para assuntos internacionais, defendeu a sugestão do petista para a realização de novas eleições na Venezuela, mas disse que "não há saída mágica” para a situação em que se encontra o país após a suposta reeleição do ditador Nicolás Maduro.
A declaração de Celso Amorim foi registrada em entrevista concedida ao jornal El País, publicada nesta quarta-feira (28).
Amorim tem atuado como mediador, junto com a Colômbia, para que Maduro e a oposição negociem uma saída para a crise instaurada após a eleição.
Questionado sobre que saída enxerga para o problema, Amorim disse que “não há saída mágica”.
“O presidente Lula está tentando incentivar, junto com outros, como o presidente [da Colômbia, Gustavo] Petro, que haja um mínimo de compreensão. Sabemos que é difícil, mas é o espírito do acordo de Barbados [pelo qual eles concordaram com as condições das eleições presidenciais]. Agora, quando as partes nem se falam, é muito mais difícil”, disse Amorim.
“Uma hipótese é uma eleição, como um segundo turno. Se ambos dizem que venceram com folga, não devem ter medo. Mas isso deve fazer parte de um pacote que inclua o respeito pelo perdedor em um sentido mais amplo, a anistia, mas também o direito de ser politicamente organizado e poder participar”, completou.
Mediação
Amorim evitou responsabilizar Maduro pela crise e destacou que Brasil, Colômbia e México tentam mediar uma solução, mas diferente dos Estados Unidos, União Europeia e outros países latino-americanos, não reconhecem a vitória da oposição.
“Vamos buscar um entendimento porque não vejo viabilidade em dizer que o outro candidato venceu. Talvez eles ainda mostrem as atas [oficiais]. Vamos supor que eles também não cheguem na data determinada pela Suprema Corte, e daí? Precisamos encontrar uma solução, criar uma espécie de grupo de facilitadores que dialogue com um, depois com o outro, para encontrar uma solução que inclua o levantamento das sanções”, disse Amorim
“A União Europeia cometeu um erro grave ao não suspender as sanções, teria sido o principal observador internacional porque o Centro Carter não tem recursos suficientes. Achei arrogante a UE manter as sanções. E ele perdeu as condições de atuar como observador”, completou.
Segundo Amorim, Lula demonstrou “imparcialidade” ao sugerir a realização de novas eleições e o Brasil “não está intervindo” na Venezuela.
Brasil manterá relação com Venezuela mesmo sem solução para a crise
No caso de a situação não mudar e Maduro tomar posse no dia 10 de janeiro, Amorim sinalizou que a relação do Brasil com o regime venezuelano seguirá.
“Nossa doutrina do direito internacional é reconhecer Estados, não governos. Isso não significa que você goste deles ou não, mas você tem que manter relacionamentos”, afirmou.
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