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centro - eleições 2022
Huck, Doria, Moro e Ciro, os pré-candidatos cotados nas negociações para unir o centro.| Foto: Fotos Públicas/Agência Brasil/Facebook

Em articulação desde o ano passado, uma possível candidatura unificada de centro começou a ser rediscutida com a possibilidade de o ex-presidente Lula (PT) entrar na disputa pela Presidência. Nos últimos dias houve acenos de possíveis presidenciáveis de que eles podem até mesmo abrir mão da candidatura para apoiar um nome mais viável. Mas outros pré-candidatos caminharam no sentido oposto.

As conversas vinham sendo mantidas por lideranças do PDT, PSB, Rede, PV, PSDB, DEM e Cidadania para evitar a possível polarização entre PT e o presidente Jair Bolsonaro, que agora tende a se acentuar.

Até então, nomes como os de Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB), Sergio Moro (sem partido) e Luciano Huck (sem partido) vinham sendo cotados como opção para essa terceira via unificada. A aposta dos defensores da unificação era de que, com um candidato único, fosse possível vencer o candidato do PT no primeiro turno, que até então era Fernando Haddad, para ir para o segundo turno contra Bolsonaro.

Mas a ideia de unificação nunca havia avançado de forma mais concreta. E nem mesmo todos os partidos que defendiam a proposta conversavam entre si. Até mesmo porque as pesquisas indicavam que, mesmo sem unificação, um nome do centro poderia ir para o segundo turno.

Em 5 de março, três dias antes de Lula recuperar os direitos políticos por decisão do ministro do STF Edson Fachin, levantamento do Instituto Paraná Pesquisas mostrou que Bolsonaro liderava as intenções de voto com 31,9%. Os demais vinham embolados na sequencia: Sergio Moro (11,5%); Fernando Haddad (10,5%); Ciro Gomes (10%); Luciano Huck (8%); João Doria (5,3%); Guilherme Boulos (3,2%) e por último João Amoêdo (2,8%).

Mas a entrada de Lula na disputa muda o cenário eleitoral e enfraquece a competitividade dos candidatos de centro. Segundo esse o levantamento da Paraná Pesquisas, Bolsonaro manteve a vantagem com 32,2%, mas Lula aparecia isolado na segunda posição com 18% das intenções de voto. Os dois eram seguidos por Sergio Moro (11,6%); Ciro Gomes (8,7%); João Doria (5,3%); Guilherme Boulos (3,5%); João Amoêdo (3%) e por último Henrique Mandetta (1,4%). Luciano Huck não entrou neste cenário.

Dois dias depois da decisão de Fachin, outro levantamento, encomendado pela CNN Brasil ao Instituto Real Time Big voltou a mostrar que o ex-presidente Lula se mantinha isolado na segunda posição com 21% (Bolsonaro liderava com 31%). Atrás de ambos, houve um empate técnico no terceiro lugar entre quatro candidatos: Sergio Moro (10%), Ciro Gomes (9%), Luciano Huck (7%) e João Doria (4%).

Temendo a polarização entre Bolsonaro e Lula, articuladores da frente de centro já se movimentam para tentar antecipar a definição de um nome do grupo.

Mesmo assim, por enquanto há inclusive incerteza se a articulação vai dar resultado para a escolha de um único nome ou se o centro terá uma série de candidaturas pulverizadas. Por enquanto, a unificação é improvável. A chance maior é de haver pelo menos duas candidaturas nesse segmento: uma de centro-direita e outra de centro-esquerda.

Doria admite que pode desistir, mas aliados apostam que ele será viável do centro

No fim de semana, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), admitiu que pode abrir mão de sua candidatura a presidente para disputar a reeleição ao governo paulista – algo que também havia sido feito recentemente por Luiz Henrique Mandetta (DEM).

No meio político, a declaração de Doria foi vista como um reconhecimento de que, se ele não melhorar o desempenho nas pesquisas, será melhor apoiar outro nome com mais viabilidade eleitoral.

Mas interlocutores de Doria ainda não descartam sua candidatura ao Planalto. Eles afirmam que o governador paulista seria hoje o único nome com discurso pronto para ganhar o voto dos "40% nem-nem" – proporção de votos válidos que os tucanos estimam que não votariam nem em Lula, nem em Bolsonaro.

“O Doria é hoje o nome que rivaliza com o Bolsonaro e sempre esteve longe do petismo. Além de ter a imagem de pessoa que conseguiu uma vacina contra a Covid-19 para o Brasil”, argumenta um aliado de João Doria.

Como vice, o PSDB sonha com Luiz Henrique Mandetta (DEM), ex-ministro da Saúde. “A questão da pandemia vai dominar o discurso de 2022. Doria tem a cartada da vacina enquanto Mandetta tem a popularidade e o reconhecimento da sociedade como ministro que quis conduzir a pandemia de forma diferente no Brasil”, explica outro integrante do PSDB.

Porém, Doria precisa vencer a disputa interna dentro do próprio PSDB pela sua candidatura. O partido marcou para outubro a definição de quem será o candidato tucano. A prévia interna deve ser entre o governador de São Paulo e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.

Luciano Huck ainda não sabe se será candidato

Já lideranças de outros partidos como Cidadania, PV e PSB querem o apresentador de TV Luciano Huck como opção de terceira via. Huck, contudo, ainda vive o dilema de escolher entre largar a carreira artística para embarcar na carreira política.

Logo após da decisão que favoreceu Lula, Huck chegou a alfinetar o petista ao afirmar que “figurinha repetida não completa álbum”. Dias depois, em artigo publicado no jornal britânico Financial Times, o apresentador de TV citou a forma como o ex-presidente causou uma reação negativa no mercado financeiro.

Além disso, o possível presidenciável voltou a criticar a gestão de Bolsonaro na crise sanitária e na proteção do meio ambiente e o episódio de interferência do presidente brasileiro na Petrobrás. Internamente, os aliados afirmam que Huck quis expor para o mercado global a polarização causada por Bolsonaro e Lula.

Moro está enfraquecido até mesmo para quem o apoia

Nome do sonhos do Podemos para disputar a Presidência em 2022, o ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro vive hoje seu momento de menor prestígio político devido os desgastes da operação Lava Jato. Além do episódio de nulidade dos processos de Lula determinada por Fachin, Moro corre o risco de ser considerado suspeito no julgamento do ex-presidente petista pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

O caso foi retomado pela Segunda Turma do STF na semana passada e, até o momento, o placar está empatado em dois a dois. O voto decisivo será do ministro Kassio Nunes Marques, indicado ao tribunal pelo presidente Jair Bolsonaro e que já admitiu nos bastidores que pode votar contra Moro. Neste momento o julgamento está interrompido por um pedido de vista feito por Marques e não há previsão de ser retomado.

Moro sempre negou a intenção de disputar a Presidência. Mas, ainda assim, tinha defensores dessa ideia no meio político. Agora, contudo, até mesmo essas lideranças veem que ele está enfraquecido para ser candidato.

“Ele poderá influenciar na disputa ao se posicionar como apoiador de determinado candidato para 2022. Quem ele apoiar deverá receber o voto dos 'lavajatistas'. Com todo esse imbróglio no STF, ficou inviável o nome de Moro”, admite um integrante do Podemos.

PDT de Ciro Gomes "esnoba" outros partidos de centro

Pré-candidato desde que ficou em terceiro lugar na disputa de 2018, Ciro Gomes (PDT) tem afirmado que não pretende abrir mão de sua candidatura. Pelo contrário, segundo interlocutores, o pedetista tem admitido que a chegada de Lula o favorece na construção de suas alianças.

Até o momento, no campo da esquerda o pedetista conseguiu apenas a sinalização de apoio da ex-senadora e ex-candidata à presidência Mariana Silva, do partido Rede Sustentabilidade. Outras siglas como PSol e PCdoB, por exemplo, seguem mais alinhadas com o PT.

Ciro chegou a cogitar uma aliança com os partidos de centro-direita. No entanto, o presidente do PDT, Carlos Lupi, afirma que os demais nomes foram eliminados. “Essa volta do Lula abre um espaço para o Ciro. O ódio vai se nutrir na campanha entre Lula e Bolsonaro e, por isso, elimina de cara a candidatura de Luciano Huck e Sergio Moro”, afirma Lupi.

O líder pedetista ainda afirma que Ciro Gomes deverá crescer no campo da centro-esquerda. “O Ciro vai crescer e vamos fazer uma aliança de centro-esquerda. Acredito que assim ele pode furar essa polarização”, completou.

Metodologia das pesquisas citadas na reportagem

O levantamento do Instituto Paraná Pesquisas ouviu 2.080 eleitores em todas as unidades da federação entre os dias 25 de fevereiro a 1.º de março de 2021. O nível de confiança é de 95% e a margem de erro é de dois pontos percentuais.

O Instituto Real Time Big Data realizou a pesquisa entre os dias 8 e 9 de março com 1.200 pessoas em todas as regiões do país. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%.

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