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Bolsonaro é um entusiasta do uso da cloroquina para o combate à Covid-19.| Foto: Reprodução

A cloroquina foi o pivô da segunda queda de um ministro da Saúde desde que a pandemia do coronavírus atingiu o Brasil. O ministério já admite o uso do medicamento em casos graves, mas o presidente Jair Bolsonaro, orientado por alguns médicos que apoiam a aplicação da cloroquina, quer o uso precoce do remédio também em pacientes com sintomas leves de Covid-19. O ex-ministro Nelson Teich discorda e resolveu pedir demissão na sexta-feira (15).

Alguns estudos científicos em estágios iniciais indicaram a possível eficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina (seu derivado menos tóxico) para tratar a doença. No entanto, também há estudos sinalizando que o efeito é nulo.

A pandemia circula no mundo há cerca de só seis meses, e a comunidade científica ainda não teve tempo suficiente para chegar a um entendimento comum. A falta de consenso científico abre espaço para uma variedade de opiniões – e, nas redes sociais, para uma batalha de links de notícias sobre estudos apontando a eficácia ou ineficácia da droga.

Veja uma lista das principais evidências favoráveis e contrárias à cloroquina:

Chineses inauguram as pesquisas com a cloroquina

A cloroquina começou a entrar no radar da comunidade científica quando, no início de fevereiro, a revista Cell Research publicou um texto de cientistas chineses sobre testes realizados com células infectadas pelo coronavírus em laboratório.

Os cientistas obtiveram resultados positivos com o uso da cloroquina para o combate ao vírus nessas células. Como essa pesquisa não foi feita com seres humanos, mas em laboratório com células, seu resultado não significava muito, mas indicava um caminho para estudos posteriores.

Cloroquina ganha fama e gera controvérsia

Um estudo feito na França com pacientes humanos, publicado pelo International Journal of Antimicrobial Agents (IJAA), analisou os efeitos de uma combinação da hidroxicloroquina com o antibiótico azitromicina.

A pesquisa apontou uma redução na carga viral dos participantes. O estudo se tornou popular especialmente depois que o bilionário Elon Musk, CEO da Tesla, divulgou via Twitter um documento baseado nele. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, passou a recomendar o remédio, e Bolsonaro o acompanhou.

Os críticos desse estudo apontam problemas na metodologia usada pelos pesquisadores. Os próprios autores reconhecem, no artigo, que a população utilizada no estudo – de 36 pessoas – é muito reduzida.

Estudos espanhol e chinês apontam eficácia do tratamento precoce

Um estudo feito na China indicou que o uso precoce da hidroxicloroquina poderia ser eficaz no combate à Covid-19. Os 62 pacientes que participaram da pesquisa, todos em estágio leve da doença, foram divididos em dois grupos: um de tratamento e outro de controle.

O grupo tratado com a hidroxicloroquina se curou de forma significativamente mais rápida do que o grupo que não tomou o remédio.

Na Espanha, um estudo recente feito por meio da análise de registros clínicos de 220 pacientes mostrou que pacientes que usam a hidroxicloroquina em estágio precoce têm chance de sobreviência de 1,4 a 1,8 vezes maior do que aqueles que não tomam o remédio.

Prevent Senior sugere eficácia da Covid-19

Um estudo de abril da operadora de saúde brasileira Prevent Senior apontou que o uso de hidroxicloroquina associado à azitromicina reduziu o número de internações pela Covid-19. Os pacientes eram em sua maioria idosos e doentes crônicos, com sintomas de síndrome gripal e com algum fator de risco para complicação da doença.

Participaram do ensaio clínico 636 pacientes, dos quais 412 fizeram uso da medicação e os outros 224 optaram por não fazer o tratamento. Aos que aceitaram se submeter à terapia, a hidroxicloroquina foi administrada durante sete dias e a azitromicina, por cinco dias. Entre o grupo que usou a combinação de hidroxicloroquina com azitromicina, 1,9% dos pacientes evoluiu para um quadro mais grave e foi hospitalizado. No grupo que não fez o tratamento, o índice de internados foi maior, de 5,4%.

Os próprios autores ressaltaram que havia limitações na metodologia que impediam considerar o resultado evidência definitiva da eficácia da hidroxicloroquina contra a infecção pelo coronavírus.

Dois estudos apontam risco de arritmia cardíaca com cloroquina

A revista Nature Medicine publicou um estudo norte-americano sobre os possíveis efeitos colaterais do uso da hidroxicloroquina. Segundo os pesquisadores, o medicamento traz risco significativo de arritmia cardíaca e morte súbita. Um estudo brasileiro de diversas instituições, como a Fiocruz e a Universidade de Brasília (UnB), foi interrompido depois que os pesquisadores chegaram à conclusão de que as doses altas usadas nos testes com a hidroxicloroquina podiam colocar pacientes em risco.

Análises retrospectivas na França e nos EUA apontam ineficácia da cloroquina

Um tipo de estudo que vem sendo feito em alguns lugares do mundo é a análise retrospectiva, que avalia os efeitos da cloroquina contra a Covid-19 recuperando dados de ex-pacientes. Essas pesquisas comparam os dados de pessoas que tomaram a cloroquina com os de pessoas que não tomaram.

A vantagem desse tipo de pesquisa é a possibilidade de analisar um número maior de pessoas do que nos estudos clínicos mencionados acima. Por outro lado, os pesquisadores dos estudos retrospectivos têm muito menos controle sobre as informações coletadas.

Na França, um estudo retrospectivo sugeriu que não há evidências de que a hidroxicloroquina combata a Covid-19. Nos EUA, um estudo semelhante teve o mesmo resultado.

Entidades de saúde recomendam cautela

No Brasil, em meados de abril, nove associações médicas assinaram um documento intitulado "Orientações sobre Diagnóstico, Tratamento e Isolamento de Pacientes com Covid-19”, alertando sobre os riscos de arritmia cardíaca da cloroquina e da hidroxicloroquina.

Nos EUA, a Food and Drugs Administration (FDA), agência federal reguladora de medicamentos, publicou no final de abril um alerta para que a hidroxicloroquina e a cloroquina só sejam usadas dentro de ambientes clínicos e hospitalares, também por conta do risco de complicações cardíacas.

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