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Bancada do Partido Novo em visita à Presidência da República.
Bancada do Partido Novo em visita à Presidência da República.| Foto: Marcos Correa / Presidência da República

As últimas semanas fizeram o partido Novo se sentir 'querido' pelo Planalto. O ministro da Economia, Paulo Guedes, recebeu a bancada de deputados federais do Novo dia 30, em Brasília. Um dia antes, os parlamentares da legenda haviam participado de um café da manhã com o presidente Jair Bolsonaro (PSL) - e caminharam com ele até o Congresso Nacional.

O Planalto não é o único a dar moral para o partido. Dia 28, um dos deputados federais do Novo, Paulo Ganime (RJ), esteve em um seleto grupo de parlamentares convocados pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para discutir com Guedes sugestões para melhorar as contas públicas.

Os eventos reforçam o status que o Novo conquistou em Brasília, mesmo sendo a primeira experiência do partido no Congresso Nacional e com a legenda detendo uma bancada de apenas oito deputados federais, e sem senadores.

A reputação da sigla já havia chamado a atenção nos primeiros meses do ano, principalmente por conta da defesa da reforma da Previdência feita pelos seus integrantes, e a passagem do tempo indicou que a imagem destacada não era "fogo de palha".

Partido Novo: aliado de Bolsonaro

O Novo é, ao lado do PSL, o partido que mais vota de maneira favorável às propostas do governo federal na Câmara, segundo levantamento do jornal O Estado de S. Paulo.

A única ocasião em que os deputados do partido "desagradaram" o governo foi em uma votação que derrubou um decreto do vice- presidente General Mourão sobre a ampliação do sigilo de documentos. Na ocasião, até mesmo membros do PSL votaram contra o Palácio do Planalto, e uma das interpretações da época era de que a negativa era uma retaliação a Mourão, que ocupava interinamente a chefia do Executivo.

O Novo votou junto com o governo até mesmo no controverso episódio de convocação do ministro da Educação, Abraham Weintraub, em 15 de maio. A alegação do partido foi a de que Weintraub poderia prestar esclarecimentos em uma comissão da Câmara, sem envolver a totalidade dos membros da casa.

A adesão à proposta econômica do governo Bolsonaro é a principal razão que dá ao Novo a condição de "queridinho". O partido tem em seu programa bandeiras liberais, como a redução do tamanho do estado na economia, que se encaixam com precisão com o defendido pelo ministro Paulo Guedes - e não encontram tanto eco em outros deputados que, em tese, são da base aliada. O próprio presidente Bolsonaro, nos tempos de deputado federal, tinha discurso estatizante e era um opositor ferrenho da reforma da Previdência.

Outro aspecto que reduz a rejeição ao Novo é o fato de o partido não se envolver em "guerras ideológicas" tratadas como prioritárias por parte do governo e da bancada do PSL. Um exemplo da diferença veio durante votação da medida provisória que possibilita ao INSS fazer um 'pente-fino' em benefícios. Na votação, parlamentares ligados à bancada evangélica, muitos deles do PSL, protestavam por conta do uso, no texto da lei, da palavra "gênero" para designar o sexo de bebês. O impasse quase travou a votação e, por pouco, não levou à falta de análise da medida, o que prejudicaria o governo.

O deputado Tiago Mitraud (Novo-MG) protestou em suas redes sociais: "Em votação que está entrando na madrugada para não perdermos o prazo de MPs, ficamos meia hora discutindo se o termo gênero poderia ser usado para identificar o sexo de uma criança. Boa parte da base do governo quase permitiu cair a sessão para não deixar a palavra 'gênero' ser usada. É a primeira vez que esse fundamentalismo que tanto receio deu as caras no Plenário. Espero que não tenha a palavra 'gênero' na PEC da Previdência, porque parece que tem gente que estaria disposta a deixar de votar pelo bem do Brasil para permitir suas convicções religiosas falarem mais alto".

Apoio "in-con-di-cio-nal", mas "sem idolatria"

Líder do Novo na Câmara, Marcel van Hattem (RS) participou dos atos favoráveis em defesa do governo Bolsonaro realizados dia 26 de maio. Em Porto Alegre, num discurso enfático, o deputado disse que o partido dá apoio "in-con-di-cio-nal" às políticas dos ministros Paulo Guedes e Sérgio Moro (Economia).

O parlamentar, entretanto, não usou a mesma palavra para falar do presidente Bolsonaro. Ao contrário, reforçou que seu partido tem uma postura independente em relação ao Palácio do Planalto e rechaçou a "idolatria" em torno de políticos. Van Hattem também se apressou em mostrar que o Novo não endossa sugestões como fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF) - as bandeiras mais radicais haviam sido levantadas por defensores de Bolsonaro e levaram a rachas dentro da direita, fazendo com que segmentos não participassem das manifestações do dia 26.

Em entrevista à Gazeta do Povo, o deputado disse que a "unidade" da bancada federal do partido é um dos pontos que explica a relevância que o Novo tem adquirido ao longo deste primeiro semestre de legislatura. "Temos uma bancada em que todos remam para o mesmo lado. Parte disso ocorre também porque todos passamos por um processo seletivo, foi realizada uma triagem dentro do partido. E aí temos um grande compromisso comum nas pautas da área econômica, como os princípios de livre mercado e a defesa da reforma da Previdência", apontou.

As divergências que existem dentro da bancada, segundo Van Hattem, ficam para o campo dos costumes. Ele mesmo se apresenta como defensor de pautas comportamentais mais ligadas ao espectro conservador, como o combate ao aborto e à liberação das drogas, que não são defendidas pela totalidade de seus colegas. O Novo abrigou, no ano passado, parte dos integrantes do Movimento Livres, que estavam no PSL mas deixaram a legenda após a chegada de Jair Bolsonaro - a discordância do grupo com o presidente da República se dá, entre outros pontos, justamente por temas do universo comportamental.

Costumes à parte, Van Hattem enumera um aspecto que, segundo ele, diferencia o Novo do PSL: o fato de que parte dos membros do partido de Bolsonaro "têm ligações com corporações", e isso, para o líder da sigla, reduz o compromisso de alguns deles na defesa da reforma da Previdência.

Um deputado do PSL, Charlles Evangelista (MG), apresentou uma emenda à proposta de reforma que indica o pagamento de aposentadoria especial aos oficiais de justiça, sugestão que contraria os membros do Novo.

Em outra mostra do descompasso entre PSL e Novo no campo do liberalismo, membros do partido de Bolsonaro têm pedido ao presidente que mantenha o trecho da lei aprovada pelo Congresso que obriga as companhias aéreas a garantirem uma bagagem grátis aos passageiros, enquanto o Novo é favorável ao veto. O presidente sinalizou que deve vetar trecho da MP que obriga as empresas de aviação a despachar bagagens gratuitamente.

"O projeto de Bolsonaro não é o nosso"

Presidente do Novo, João Amoêdo opina que o alinhamento entre o partido e a gestão Bolsonaro não vai até a página dois: "O projeto de Bolsonaro não é o nosso. Nas pautas prioritárias temos muita identidade, por isso estamos apoiando. Mas há grande diferença quanto ao estilo e à execução".

Amoêdo descarta a possibilidade de o Novo integrar formalmente o governo, como por exemplo ocupando um ministério, e também diz que o mote da "independência" deve prosseguir na atuação parlamentar da legenda.

Para ele, outro aspecto que tem dado destaque ao partido é a aplicação do discurso "anti-mordomias" que a sigla utilizou durante o período eleitoral. "Estamos fazendo, na prática, uma política diferente, o que acaba chamando a atenção", ressaltou.

A eleição de 2018 foi a primeira nos níveis federal e estadual que o Novo participou. O partido elegeu, além dos oito deputados federais, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, 11 deputados estaduais e um distrital. Amoêdo concorreu à Presidência e ficou na quinta colocação.

Ciúme "pacificado"

A ascensão do Novo no início da legislatura despertou críticas entre opositores do governo Bolsonaro e também dentro do PSL. Os adversários do Planalto criticavam o viés de novidade apresentado pelo partido; segundo eles, as propostas da legenda não são inovadoras, estão apenas com novas roupagens.

Já os membros do PSL contestavam um suposto tratamento especial que o Novo detinha. Os deputados apontavam privilégios no diálogo que os membros do Novo tinham com a cúpula do Palácio do Planalto.

Deputados do PSL que conversaram com a Gazeta do Povo disseram que, nos dias atuais, o quadro se modificou - e que a bandeira branca foi levantada.

"A articulação do governo, hoje, está muito melhor do que no início. O Major Vitor Hugo [líder do governo na Câmara] está fazendo um trabalho ótimo e conseguindo atender as demandas do PSL. Além disso, há o fato de que nós estamos aprendendo melhor a dinâmica do parlamento. E não podemos desconsiderar o fato de que nós somos mais de 50, e eles são oito, então fica muito mais fácil organizar as coisas por ali", disse o deputado Coronel Tadeu (PSL-SP). Em março, Tadeu havia criticado a postura do Novo, que votara a favor da ampliação da participação do capital estrangeiro em empresas aéreas operantes no Brasil.

O clima de pacificação é endossado por Márcio Labre (PSL-RJ): "Não existe problema na relação do Novo com o PSL. O que ocorre é que, como eles estão mais focados, mais centrados no campo econômico, acabam tendo uma articulação mais eficiente".

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