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Curva de expansão do coronavírus no Brasil comparada com a de outros países.| Foto: Gazeta do Povo/Infografia

Desde que o coronavírus chegou ao Brasil, muita especulação tem sido feita sobre qual país estrangeiro teria situação mais semelhante à nossa em termos de ritmo de expansão da doença. As comparações são usadas para endossar ou contestar as políticas usadas para contenção da Covid-19 no Brasil.

O próprio Ministério da Saúde tem apelado a essas comparações. No sábado (28), por exemplo, a pasta publicou um gráfico afirmando que o Brasil apresenta uma evolução de casos de coronavírus mais lenta do que Itália, Alemanha e Espanha.

Por enquanto, a curva de expansão da Covid-19 no Brasil é, de fato, levemente menos íngreme que a desses países europeus, especialmente quando consideramos a evolução a partir dos 100 casos confirmados da doença. Dados do Our World in Data, centro de pesquisas com dados da Universidade de Oxford, mostram que o Brasil tem um ritmo de expansão da doença mais baixo que o da Itália e muito semelhante ao de Portugal.

É preciso, no entanto, cautela ao analisar esses números. Segundo Domingos Alves, especialista em modelagem teórica e computacional da Faculdade de Medicina da USP, um desenho parecido da curva no começo da expansão da epidemia não significa que haja uma tendência necessariamente parecida. Outros fatores são importantes na análise.

Tamanho da população precisa ser levado em conta

Como sexto maior país do mundo, não é improvável que o Brasil se torne, em termos absolutos, um dos líderes mundiais no número de casos. O Brasil já é, desde 22 de março, o país da América Latina com o maior número de casos confirmados do coronavírus.

A proporção, numa análise como essa, é fundamental para fazer projeções sobre as curvas, segundo Alves. Com o passar das semanas, é possível que a curva do Brasil, que tem 209 milhões de habitantes, comece a se descolar das desses países europeus, cujas populações não chegam aos 100 milhões de habitantes.

Os Estados Unidos, por exemplo, estavam atrás dos países europeus com situação mais grave, mas se tornaram recentemente o país com maior número de casos do coronavírus no mundo. Para Alves, um país de proporções continentais como o Brasil tende a ter um comportamento da evolução da Covid-19 mais parecido com o dos EUA, ainda que as curvas apresentadas até agora não explicitem isso.

Segundo Alves, em vez de comparar o Brasil inteiro com Itália, Portugal, Espanha, França ou Alemanha, seria mais prudente fazer comparações de certos estados brasileiros com países europeus.

"Quando a gente compara o Brasil com a Itália, a gente pode estar esquecendo detalhes importantes. Quando começar a comparação do estado de São Paulo com a Itália, eu vou ficar mais contente. Vamos fazer comparação, por exemplo, do Rio de Janeiro com a Itália. Eu diria que o Rio de Janeiro estaria um pouco abaixo da Itália em termos de progressão. Mas fazer comparação do Brasil com a Itália, neste momento, eu acho leviano", diz.

Subnotificação do coronavírus pode alterar a relevância da curva

Outro problema das comparações podem ser as subnotificações ou supernotificações dos casos. No Paraná, por exemplo, a Gazeta do Povo mostrou que havia distorções no número de casos registrados em municípios da região metropolitana de Curitiba.

Segundo uma estimativa do Centro para Modelagem Matemática de Doenças Infecciosas da London School of Tropical Medicine, do Reino Unido, apenas 11% do total de casos de coronavírus no Brasil são diagnosticados.

Isso acontece porque a grande maioria (cerca de 80%) dos casos da infecção pelo coronavírus é assintomática ou apresenta sintomas muito leves e acaba não sendo diagnosticada. Atualmente, no Brasil, apenas os casos mais graves, que chegam aos hospitais e são testados, estão recebendo o diagnóstico oficial.

Outro ponto de crítica frequente de pesquisadores que desenvolvem estudos sobre o coronavírus no Brasil é a falta de divulgação dos casos suspeitos da doença. O dado é uma variável importante, segundo Alves, para avaliar o ritmo de expansão da Covid-19.

Curva do número de casos pode ser muito diferente da curva do número de mortes

Outro ponto importante para que uma análise das curvas faça mais sentido é a diferenciação entre casos confirmados e número de mortes. Dois países com curvas de casos confirmados semelhantes podem ter porcentagens de mortos muito diferentes, especialmente se um deles tiver mais idosos ou um sistema de saúde incapaz de suportar a pressão da mesma forma que o outro.

A Itália, por exemplo, tem até o momento uma taxa de mortes pelo coronavírus de mais de 11% em relação ao número de casos confirmados. A taxa do Brasil, até o momento, é de 3,5%, de acordo com dados do Ministério da Saúde desta segunda-feira (30). A diferença pode ser explicada, em parte, pelo alto número de idosos no país europeu.

A Alemanha, que tinha, até a segunda, quase 64 mil casos confirmados, teve 560 mortes pela Covid-19 – uma taxa de 0,88%. A França, que tinha 44,5 mil até segunda, tem um número de mortos muito maior, de 3.024 – taxa de 6,79%. Segundo a BBC, um dos principais motivos para essa diferença foram os testes em massa conduzidos na Alemanha de forma muito precoce, o que favoreceu o autoisolamento dos infectados.

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