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O procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba. Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo
Em palestra, o procurador Deltan Dallagnol admitiu uma certa fadiga, mas diz que o propósito de combater a corrupção o mantém na Lava Jato.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

O procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, afirmou nesta quarta-feira (15), que, nos últimos meses, pensou em desistir da operação e ter uma vida mais tranquila.

"Algumas vezes tive vontade de sair da Lava Jato, de voltar para o meu gabinete e de ter uma vida muito menos tumultuada", afirmou em palestra no 7º Congresso Internacional de Compliance para um público de 900 pessoas, em São Paulo.

"Depois de cinco anos (de operação), me sinto realmente cansado e as dificuldades fazem isso aflorar", admitiu Dallagnol, que completou: "(Mas) quando eu tenho vontade de desistir, eu lembro do propósito, lembro que é para reduzir o sofrimento humano e a miséria que a corrupção causa", afirmou. Questionado pela reportagem ao final do evento, o procurador disse que "não tem como não estar cansado", mas afirmou que não pensa em desistir nem deixar a força-tarefa. Ele afirmou que não responderia outras perguntas.

Em sua fala de quase uma hora, o procurador adotou tom motivacional, fez citações de livros, pesquisas comportamentais e reiterou a necessidade de as pessoas terem propósitos claros em tudo que fazem, em especial no ambiente profissional.

"É preciso estimular continuamente a reflexão ética e sobre propósito no seio das organizações", afirmou. "Todos vão ter frustrações e dificuldades correndo atrás dos sonhos de vocês. Mas cabe exclusivamente a você decidir o que vai fazer com essas frustrações", aconselhou, no momento em foi aplaudido de pé pela plateia.

Dallagnol também destacou a necessidade de haver mudança nas leis para incentivar o combate à corrupção no Brasil. "O ambiente interno (das empresas) é influenciado pelo ambiente maior do governo e da sociedade", disse.

Na palestra, ele afirmou ainda que a ausência de regras em ambientes muito competitivos, o medo de demissões e metas irrealistas favorecem o comportamento antiético dentro das empresas. Também abordou as motivações que fazem as pessoas adotarem condutas criminosas e elencou fatores que influenciam essas ações, como a pressão por resultados. E usou uma metáfora do cinema para explicar o raciocínio.

"Vocês acham que essas pessoas (que cometeram delitos) acordaram de manhã e disseram: 'hoje eu vou ser mau'! 'Vou fazer algo ruim'! 'Vou corromper e vou ser corrompido'! Em geral, essas pessoas não são Darth Vader. Aquelas pessoas são como muitas que nós conhecemos. Deram um beijo na cabeça dos seus filhos de manhã, saíram de casa e, no caminho, tensionados por resultados, se desviaram da rota e racionalizaram seu comportamento", comparou, ressaltando a importância de os profissionais incentivarem a ética, a integridade e as reflexões sobre propósito no ambiente corporativo.

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