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Braço direito de Moro, Maurício Valeixo, ocupava a direção-geral da Polícia Federal desde o início do governo Bolsonaro.
Braço direito de Moro, Maurício Valeixo, ocupava a direção-geral da Polícia Federal desde o início do governo Bolsonaro.| Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo

Três delegados da Polícia Federal prestam depoimento nesta segunda-feira (11) para a própria corporação como parte do inquérito que investiga as supostas interferências do presidente Jair Bolsonaro na PF, após as declarações feitas por Sergio Moro quando pediu demissão do cargo de ministro da Justiça. Maurício Valeixo, ex-diretor-geral da PF e cuja demissão culminou com a saída de Moro do governo, foi o primeiro a falar, pela manhã em Curitiba. Alexandre Ramagem, que chegou a ser nomeado e teve a indicação barrada para o cargo, e Ricardo Saadi, ex-chefe da PF no Rio de Janeiro, prestam depoimento em Brasília.

Maurício Valeixo, ex-chefe da Polícia Federal, afirmou, durante o depoimento que o presidente Jair Bolsonaro lhe disse que não tinha nada "contra a sua pessoa", mas queria um diretor-geral com quem tivesse mais "afinidade". O depoimento de Valeixo durou quase sete horas e nele, o ex-chefe da PF teria confirmado que não pediu para deixar o cargo, segundo a CNN.

O depoimento de Valeixo foi agendado para a manhã desta segunda, após determinação do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, relator da investigação que apura as acusações feitas por Moro a Bolsonaro quando anunciou sua saída do governo.

De acordo com a CNN, perguntado sobre o que considerada como interferência política na PF, Valeixo teria respondido que ocorreria com uma indicação com interesse sobre uma investigação específica, o que segundo o ex-diretor-geral “não ocorreu em nenhum momento”.

Ele afirmou que Bolsonaro nunca tratou diretamente com ele sobre a troca de superintendes e nunca pediu relatórios de inteligência, relatórios ou inquéritos policiais. Também ressaltou que não foi solicitado pela presidência nenhum relatório sobre a investigação do caso do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes.

Além disso, Valeixo afirma em depoimento que foi avisado que o presidente tinha intenção de substituí-lo em junho de 2019. O presidente teria dito que caso não pudesse trocar o superintendente da PF do Rio, trocaria o diretor-geral, então cargo ocupado por Valeixo. Versão que corrobora o que foi dito por Moro. O ex-diretor da PF reconhece que os atos de nomeação ou de exoneração do diretor-geral cabem ao presidente da República.

Ramagem e Saadi depõe em Brasília

Os investigadores ouvem também nesta segunda o delegado Ricardo Saadi e o diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem Rodrigues, em audiências marcadas no edifício sede da PF, em Brasília. Esses depoimentos começaram às 15h. A defesa do ex-ministro se dividiu e com autorização do STF pode acompanhar os depoimentos, em Brasília e Curitiba.

Valeixo e Saadi estão envolvidos na primeira tentativa do Planalto de trocar o comando da PF no Rio. O primeiro foi ainda pivô da exoneração de Moro do governo e da abertura do inquérito no Supremo.

Já Alexandre Ramagem - amigo da família Bolsonaro - foi indicado por Bolsonaro para substituir Valeixo mas não chegou a tomar posse por decisão liminar do ministro Alexandre de Moraes. A União revogou a indicação em seguida e nomeou Rolando Alexandre de Souza para a chefia da PF, mas o presidente segue insistindo em seu preferido.

Em seu depoimento, Ramagem teria dito, de acordo com a Folha de S. Paulo, que ganhou a confiança do presidente quando se aproximou dele e de sua família na época da campanha, para fazer a sua segurança após o ataque à faca.

Ministros e deputada também serão ouvidos

As três oitivas marcam o início da série de depoimentos que serão prestados nesta semana no âmbito da investigação sobre as acusações feitas por Moro a Bolsonaro ao anunciar sua saída do governo.

As audiências seguintes serão realizadas nesta terça (12), no Palácio do Planalto e vão envolver três ministros próximos do presidente: Augusto Heleno (GSI), Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo). Os três foram listados por Moro como testemunhas de ameaças proferidas pelo presidente contra o ex-ministro caso ele não concordasse com a troca da direção-geral da PF.

Na quarta (13), a PF vai ouvir Carlos Henrique de Oliveira Sousa, ex-chefe da PF no Rio, convidado por Rolando Alexandre para a diretoria-executiva da PF, Alexandre da Silva Saraiva, chefe da PF no Amazonas também envolvido na primeira crise pública entre Moro e Bolsonaro.

Também a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) deverá esclarecer a troca de mensagens com Moro em que pede ao ex-ministro que aceite a mudança na direção-geral da PF solicitada por Bolsonaro e, em troca, diz que se comprometeria 'a ajudar' com uma vaga no STF. A única oitiva determinada por Celso de Mello e não agendada ainda é a do ex-chefe da corporação em Minas, Rodrigo Teixeira.

No último fim de semana, o decano autorizou que PF designe novas audiências caso seja necessário reinquirir as testemunhas diante do conhecimento do que se passou na reunião ministerial de 22 abril, na qual, segundo Moro, o presidente Jair Bolsonaro teria cobrado a substituição do diretor-geral da PF e do superintendente no Rio.

Moro volta à Brasília para assistir vídeo de reunião com Bolsonaro 

Moro deve chegar à Brasília ainda hoje para acompanhar a exibição do vídeo que irá ocorrer nesta terça-feira (12), às 8h. Moro estará acompanhado por seu advogado Rodrigo Sánchez Rios durante a exibição.

O ex-ministro volta à capital federal pela primeira vez desde que pediu demissão e voltou para Curitiba. Também vão participar da sessão única a delegada responsável pelo inquérito, Christiane Corrêa Machado, o representante da Procuradoria Geral da República e de um integrante da AGU.

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