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Elmar Nascimento (DEM-BA) quer ser o próximo Severino Cavalcanti (PP), ex-presidente da Câmara: foco em deputados do baixo clero é estratégia para vencer a disputa| Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

O DEM está otimista de vencer a disputa pela presidência da Câmara. Ainda que sem o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que não tentará a reeleição, o partido pode permanecer por mais dois anos no comando da Mesa Diretora. Nos bastidores do Congresso, é dito que o deputado Elmar Nascimento (DEM-BA), ex-líder do partido, tem 120 votos dos 133 votos de partidos da esquerda. Com essa quantidade, acredita-se que ele possa vencer o pleito. Resta, agora, viabilizar sua candidatura.

Algumas lideranças no Parlamento veem o demista como um “azarão” pela busca dos espólios do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Os deputados Baleia Rossi (MDB-SP), líder e presidente nacional da sigla, e Marcos Pereira (Republicanos-SP), vice-presidente da Casa e presidente nacional da legenda, são identificados como nomes de maior peso.

Os votos da esquerda, contudo, são vistos pelo DEM como um importante trunfo para permanecer com a presidência da Câmara por mais dois anos. Deputados da legenda ouvidos pela Gazeta do Povo afirmam o otimismo dito por Nascimento nos bastidores. “Maia não vai se candidatar à reeleição. Ele não tem interesse e já tem até nome para substituí-lo lá dentro. A discussão é em nome do Elmar”, diz um parlamentar. “Dizendo ele [Elmar] que fechou com PT, PSOL, PDT e outros. São 120 votos da esquerda”, afirma outro demista.

A esquerda na Câmara é composta por PT, PSB, PDT, PSOL, PCdoB e Rede. Juntos, eles representam 133 votos, o equivalente a cerca de 1/4 da Casa. Em 2019, quando articulava sua reeleição para presidente da Casa, Maia também chegou a demonstrar otimismo com a vitória quando fechou acordo pelos votos desses partidos de oposição ao presidente Jair Bolsonaro. “Elmar já larga com os votos da esquerda, e isso faz um diferencial enorme. Principalmente quando todo mundo começar a fazer contagens e recontagens de votos”, sustenta um demista.

“Golpe” ao PT fortalece DEM e prejudica MDB

Dentro do DEM e fora do partido, entre os partidos de centro-direita, é dito que Rossi, identificado pelo governo federal como o candidato de Maia, não tem os votos da esquerda. Sobretudo do PT. “Baleia não tem o voto da esquerda, principalmente do PT. A oposição diz que não vota nele, por conta do impeachment”, explica um demista. Um deputado do PSL confirma. “O PT tem as birras com o MDB por conta da [ex-presidente] Dilma [Rousseff]”, admite. 

Ou seja, apesar de Baleia Rossi ser um nome de muita força política dentro da Câmara, não ter os votos da esquerda compromete sua candidatura. Lideranças desses partidos de oposição até avisaram Maia que ele e o emedebista não contem com seus votos. Outro que tem resistência da esquerda é Pereira. O PT e alguns outros têm o "pé atrás" com o Republicanos, por conta da bancada evangélica, da pauta conservadora e do apoio que deram a Bolsonaro em 2018. 

A mesma leitura de proximidade com Bolsonaro é o que minam as chances do PSL. O partido se articula nos bastidores para lançar a candidatura do presidente nacional do partido, o deputado Luciano Bivar (PE). Mas a possibilidade de retorno do presidente da República ao partido deixa receios da esquerda em apoiar o pesselista. O apoio a Nascimento, portanto, nada mais é do que uma estratégia de qual presidenciável seria menos pior. “O PT e a esquerda estão adotando uma estratégia de redução de danos, sobre qual candidato será menos danoso”, destaca um interlocutor do PSL.

Para a militância da esquerda, é mais fácil construir discurso de apoio para uma candidatura que não seja do MDB. Apoiar Baleia Rossi seria, no entendimento dos petistas, apoiar o “golpe” à Dilma Rousseff. O desafio de apoiar Pereira seria convencer o eleitorado de que ele não é conservador e seria um estadista que não apoiaria a pauta conservadora. O de apoiar Bivar seria sustentar que o partido brigou com Bolsonaro e que, no atual momento, não existe, a curto prazo, uma chance de sinalização de ele voltar. De uma forma ou outra, são apostas vistas como arriscadas.

Outras opções de aliados de Maia também estão descartadas. O deputado Marcelo Ramos (PL-AM), disse que não vai contrariar seu partido, que fechou apoio à candidatura de Arthur Lira (PP-AL), o candidato de Bolsonaro. E Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), líder da Maioria, não conseguiu aprovar a reforma tributária — da qual é relator — e é comportado o suficiente para não se contrapor à vontade de sua legenda. Ou seja, o apoio da esquerda a Elmar Nascimento é reconhecido nos bastidores menos por seu projeto, mas, sim, quase que por eliminação.

Insatisfação de deputados é estratégico para DEM

Para fortalecer seu nome e evitar esse sentimento de ser apoiado por falta de opções, Nascimento se posiciona nos bastidores como um candidato que trabalhará por todos. O objetivo do demista é reeditar a vitória do ex-deputado Severino Cavalcanti (PP), eleito presidente da Câmara em 2005 para a surpresa do meio político à época. A vitória foi conquistada, sobretudo, com o apoio dos deputados do chamado “baixo clero”. É esse grupo que o demista mais trabalha.

A pandemia causou uma insatisfação muito grande entre o “baixo clero”. Com o esvaziamento do Plenário e das sessões nas comissões permanentes, os parlamentares perderam “voz”. Antes, eles tinham espaço, palanque e microfones à vontade para se expressarem, ainda que fora da Ordem do Dia. Na pandemia, por restrição do acesso ao Plenário e às comissões, praticamente só líderes tinham acesso.

Os deputados restantes podiam entrar no Plenário, até porque os seguranças da Casa não se dispuseram a barrar entradas dos congressistas. Contudo, ainda que conseguissem acesso, esses deputados do “baixo clero” não tinham “voz”. “O Maia gerou uma situação que os deputados ficaram nervosos com eles, pois não os dava voz, direito de palavra, expressão. Você vê todo mundo batendo palma, mas não escuta as pessoas”, explica um parlamentar de centro.

Do baixo ao alto “clero”, todo deputado tem seu ego e vaidade. Deputados estão acostumados a tratamento VIP aonde quer que vão. Nesta pandemia, contudo, a situação de emergência acatada por Maia os irritou. “O cara chega na Câmara e é tratado igual cachorro. Estão 'putos'”, destaca o deputado. Outro motivo que deixou o “baixo clero” insatisfeito são os atrasos na liberação de emendas parlamentares. 
Conforme mostrou a Gazeta do Povo, de janeiro a outubro, o governo pagou R$ 13,2 bilhões em emendas, mas há ainda muitas outras que foram empenhadas e não foram pagas. As acusações do “baixo clero” são de que líderes partidários — muitos deles próximos a Maia — prestigiaram mais a si próprios, em função das eleições municipais, do que seus liderados. “As emendas não estão sendo pagas para nós. Mas tem líderes negociando para eles e as apresentando às suas respectivas bases”, critica um deputado. “Falam para nós botarmos verba em lugar, que será executada, mas são emendas de ‘mentirinha’, que não estão sendo pagas”, acusa outro.

Aposta no “baixo clero” para puxar votos do MDB

Em 2005, Severino Cavalcanti construiu sua candidatura com a promessa de dar melhores condições de atuação aos colegas congressistas. O discurso convenceu o “baixo clero” da época, que se sentia desprestigiado. Para 2021, o cenário é o mesmo, e Elmar Nascimento sabe disso. Nos bastidores, explora esse mesmo discurso. É nessa aposta que ele planeja se cacifar em relação a Baleia Rossi. O emedebista busca os votos do DEM, PSDB, Republicanos, PV, Cidadania e a ala “bivarista” do PSL. Com os 35 votos do MDB, ele acredita que possa chegar a cerca de 160 votos.

Com os 120 votos da oposição, Nascimento iria a 148 caso consiga reter os 28 votos do DEM. Se perder todos os votos demistas, Rossi ficaria com 132. É aí que entra a estratégia do “baixo clero” para puxar outros votos, fator que chamou a atenção da oposição. Sobretudo os petistas, que se recordam da derrota para Severino Cavalcanti após apoiar o candidato oficial do governo na época, Luiz Eduardo Greenhalgh. “Elmar é parlamentarista. Enfrentou o Bolsonaro, o Arthur Lira e sente que pode ser o candidato independente que dará a voz aos parlamentares que, hoje, não se sentem representados por Maia, Baleia e outros líderes”, analisa um aliado.

Em maio de 2019, Nascimento usou a tribuna do Plenário da Casa para criticar Bolsonaro. Disse que o governo adota um “procedimento canalha”, sem “lealdade”, de “moleque”. E disse que “não mexe com laranja”, nem ter “plantação de laranja”, em referência ao inquérito contra o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, por suposto patrocínio de candidaturas laranjas durante as eleições de 2018. Em outubro deste ano, foi a vez de ele romper relações com Lira.

Havia um acordo com Lira para que Nascimento assumisse a presidência da Comissão Mista de Orçamento (CMO). Todo o imbróglio político que decorreu desde então, do atraso em discutir o Orçamento de 2021, gira em torno da decisão do demista em lançar sua candidatura. Gazeta do Povo escutou de pessoas próximas dos dois que a decisão de Nascimento provocou um rompimento profissional e pessoal entre ambos. “Os dois fazem parte do mesmo grupo de amigos. As esposas estão sentindo muito, tanto que as viagens de fim de ano estão canceladas. O Arthur chegou a dizer que a amizade entre eles está suspensa até que Elmar repense a traição”, diz um deputado.

Em conversa entre Lira e Nascimento, o candidato do governo à disputa na Câmara disse nunca ter “traído ninguém” e que é um “homem de palavra”. “Quem me traiu é o Elmar”, teria dito o líder do Centrão. Já Nascimento teria sido evasivo e limitou-se a dizer que “a história não é bem assim não”. A quebra do acordo com Lira, de preterir a presidência da CMO em troca da disputa pela presidência da Casa não é algo que o demista planeja voltar atrás. “A candidatura do Elmar está mantida”, diz um aliado.

Reeleição de Alcolumbre pode ser um obstáculo

O demista sabe, contudo, que viabilizar sua candidatura não será uma missão fácil. A formação de maioria em julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) que discute a possibilidade de reeleição de Maia e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), jogaria contra Elmar Nascimento. Caso possa se candidatar à reeleição, as chances de vitória de Alcolumbre são quase certas. Ou seja, caso Nascimento vença a disputa, ter o DEM controlando as duas Casas por mais dois anos é uma crítica que fazem alguns deputados federais.

A saída para Nascimento manter sua candidatura pode estar em uma articulação maior, capitaneada pelo presidente do DEM, ACM Neto. Dentro do partido, há quem diga que ele se lançará como o candidato que capitaneará a centro-direita para a corrida presidencial de 2022. É possível, contudo, que ele abdique desse pleito em favor do governador de São Paulo (PSDB), João Doria, em troca do apoio à candidatura de seu porta-voz na Câmara, Elmar Nascimento.

O apoio dos partidos de oposição a Nascimento, contudo, pode não sugerir que ele detenha para si todos os votos da esquerda. É o que avalia o cientista político Enrico Ribeiro, coordenador legislativo da Queiroz Assessoria em Relações Institucionais e Governamentais. “Ter a esquerda é ótimo para as aspirações de ser o próximo presidente da Câmara, mas ainda não garante a ele os 257 votos. Fora que há diferentes correntes nos mais diversos partidos. Se o Lira conseguir alguns votos do próprio MDB e de outros partidos de centro, isso já pode mudar um pouco o jogo”, analisa.

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