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O ex-ministro Eduardo Pazuello na CPI da Covid-19 no Senado| Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senad

O segundo dia do depoimento do ex-ministro Eduardo Pazuello à CPI da Covid do Senado transcorre com bate-bocas entre parlamentares e análise centrada na crise registrada no Amazonas no início do ano, quando o estado verificou aumento no número de mortes por Covid-19 em virtude da falta de suprimentos e medicações.

Pazuello, assim como já ocorrera no dia anterior, tem sido questionado por eventuais falhas do governo federal e do Ministério da Saúde durante o incidente em Manaus. O senador Eduardo Braga (MDB-AM) questionou Pazuello sobre a falta de oxigênio, que foi o fator apontado como decisivo para a elevação do número de mortes. O ex-ministro disse que a responsabilidade pela redução do estoque do suprimento foi do governo estadual, gerido por Wilson Lima (PSC), e pela empresa White Martins. Braga, Pazuello e outros senadores divergiram sobre as datas em que o governo federal teria tomado conhecimento do problema. O ex-ministro alegou que foi informado apenas poucos dias antes do colapso, o que foi contestado pelos parlamentares.

Pazuello disse ainda que o Executivo federal não optou por intervir no governo amazonense após uma reunião com gestores locais. A hipótese foi colocada no início do ano, mencionada como uma ação equivalente à tomada pelo então presidente Michel Temer em 2018, que interveio na segurança pública do Rio de Janeiro. Pazuello declarou que o governo local passou informações de que teria condições de gerir o problema. O secretário de Saúde do Amazonas, Marcellus Campêlo, foi convocado pela CPI e falará à comissão, em data ainda não confirmada.

O ex-ministro reafirmou que o aplicativo TrateCov, que serviria para auxiliar médicos no tratamento de pacientes com Covid-19, foi tornado público por engano. O dispositivo foi alvo de controvérsia por recomendar a cessão de cloroquina a diversos tipos de paciente, inclusive gestantes e crianças. Pazuello declarou que o TrateCov foi hackeado dos sistemas do Ministério. A fala foi ironizada por Braga, que recordou reportagem da TV Brasil, emissora do governo federal, sobre o aplicativo. O senador disse que os hackers foram tão eficientes que chegaram a adulterar uma reportagem da TV Brasil.

O depoimento de Pazuello foi iniciado na quarta-feira (19), e interrompido após o início da Ordem do Dia do Senado. A suspensão da fala foi alvo de controvérsia: o motivo apresentado inicialmente para o término dos trabalhos foi o de que Pazuello teria se sentido mal. O ex-ministro e senadores governistas, porém, disseram que o problema de saúde que ele teria sentido foi súbito e não suficiente para impedir a continuidade dos trabalhos da CPI.

De todo modo, foi feito o rearranjo da data. Com a modificação, o depoimento da secretária de Gestão de Trabalho do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, que estava agendado para esta quinta, foi transferido para a próxima terça-feira (25).

Cloroquina, fonte de discussões na CPI da Covid

Como já tem sido rotina na CPI, o medicamento cloroquina foi pretexto para acalorados debates entre os parlamentares. O senador Marcos Rogério (DEM-RO), aliado do governo de Jair Bolsonaro, mostrou um vídeo com falas de governadores e secretários de Saúde de diferentes partidos com menções favoráveis ao uso da cloroquina no combate à Covid-19 - entre os presentes no vídeo estão os governadores João Doria (PSDB-SP), Wellington Dias (PT-PI), Flávio Dino (PCdoB-MA) e Hélder Barbalho (MDB-PA).

A exibição do vídeo contrariou senadores que fazem oposição ao governo Bolsonaro, que alegaram que as declarações dos governadores eram do primeiro semestre do ano passado, quando o conhecimento sobre a pandemia de coronavírus era diferente e ainda não existiam diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a ineficácia da cloroquina.

O relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), ironizou Marcos Rogério, questionando o senador se algum dos governadores presentes no vídeo havia manifestado interesse em mudar a bula da cloroquina. A pergunta fez referência ao episódio relatado na semana passada na CPI tanto pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta quanto pelo presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, que afirmaram ter estado em uma reunião no Palácio do Planalto no ano passado em que pessoas próximas a Bolsonaro propuseram a modificação na bula da cloroquina para incluir a informação de que o medicamento seria eficiente contra a Covid-19.

A menção aos diferentes estados fez com que parlamentares se exaltassem e levou o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), suspender os trabalhos por cerca de 15 minutos.

Impasse para compra de vacinas contra Covid-19

Pazuello foi novamente questionado, como fora na quarta, sobre o episódio em que o governo federal teria deixado de responder uma oferta de vacinas da farmacêutica Pfizer. Ele voltou a negar que tenha ignorado a oferta e citou que a dificuldade para a compra das vacinas se deu por conta de cláusulas impostas pela empresa.

O ex-ministro declarou também que a aquisição de vacinas foi dificultada, ao longo do ano passado, pela falta de normas jurídicas que dariam segurança para a transação, algo que só teria sido alcançado com a edição da Medida Provisória (MP) 1.026, editada em janeiro deste ano, e depois convertida em lei pelo Congresso. A fala foi contestada pelos senadores, em especial pelo vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que citou obstáculos criados pelo próprio governo para a compra de vacinas.

O depoimento de Pazuello prossegue em andamento, e deve se estender pela tarde desta quinta-feira.

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