No primeiro dia com o X (antigo Twitter) bloqueado no Brasil, Alexandre de Moraes chegou perto do seu objetivo: em grande medida, as publicações de brasileiros desapareceram da página. Mas houve figuras públicas que desafiaram a censura imposta pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).
Além de ter determinado o bloqueio do site em todo o território nacional, o ministro estabeleceu uma multa de R$ 50 mil por dia para quem utilizar um serviço de VPN (que mascara a localização do usuário) para acessar a rede social. Por isso, a maioria dos perfis institucionais deixou de atualizar a plataforma neste sábado (31).
As páginas da Presidência da República, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal continuam no ar, mas não são atualizadas desde a sexta-feira.
Mas houve pelo menos duas exceções.
O perfil do Partido dos Trabalhadores (PT) fez cinco publicações durante a manhã e a tarde deste sábado. A maior parte tratava das eleições municipais. Todas as postagens foram feitas em horários cheios (como 14h e 16h), o que indica que as publicações foram previamente programadas para ir ao ar.
Já o TSE fez uma publicação exatamente às 6h da manhã deste sábado (31). O tribunal divulgou o serviço Divulgacand, que reúne informações sobre os candidatos nas eleições. Também neste caso, é provável que a publicação já estivesse programada.
Nikolas e Van Hattem desafiam Moraes e publicam com X bloqueado
A maior parte dos políticos também preferiu deixar o X de lado após a ordem de Moraes.
Os governadores de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas, de Minas Gerais, Romeu Zema, e do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, não fizeram publicações na plataforma neste sábado. O mesmo vale para praticamente todos os integrantes do Congresso Nacional.
Mas algumas figuras públicas mantiveram-se ativas na plataforma, e fizeram questão de deixar isso claro.
Uma delas foi o deputado Marcel Van Hattem (NOVO-RS), que desafiou Alexandre de Moraes publicamente. O deputado federal fez publicações em inglês e português para chamar atenção para a censura no X. “Bem-vindos à ditadura!” ele escreveu, na noite de sexta-feira.
Mais tarde, ele fez uma publicação maior na qual admite estar usando VPN. “Estou tuitando isso com VPN. Este tweet pode me custar quase 10 mil dólares de acordo com a decisão do tirano Alexandre de Moraes, amigo do Lula: todo brasileiro que postar no X a partir de agora será multado em R$ 50 mil por dia de acordo com sua ‘decisão’ ilegal. Minha dignidade vale muito mais do que isso", escreveu o parlamentar gaúcho.
Outro deputado federal que se manteve ativo na rede social foi Nikolas Ferreira (PL-MG).
Em uma publicação em inglês, prometeu não recuar. “Apesar de eu correr o risco de ser multado em quase US$ 9 mil por dia, eu não vou recuar, especialmente considerando que O Tribunal Superior Eleitoral ainda está postando no X. Se eles podem, nós podemos. A tirania do ditador de Voldemort não vai prevalecer”.
Voldemort é uma referência ao vilão (calvo) da série Harry Potter.
Nikolas também compartilhou uma imagem que mostra uma publicação feita pelo perfil do PT do X. "Burlando leis pra divulgar candidatos, PT? Várzea. Geral baixem VPN e que se exploda", ele escreveu.
Gustavo Gayer (PL-GO) é outro parlamentar que continuou utilizando o X. Em uma das publicações feitas neste sábado, ele questiona o fato de o TSE continuar ativo na rede social. "Se nem o TSE respeita a decisão do Moraes por que nós temos que respeitar?", indagou Gayer.
Musk critica Moraes
A versão em inglês do post de Van Hattem sobre a multa por uso de VPN foi reproduzida por Elon Musk, proprietário da rede social.
“O atual governo do Brasil gosta de vestir o manto de uma democracia livre, ao mesmo tempo em que esmaga o povo sob sua bota", o empresário comentou.
Musk afirmou ainda que Alexandre de Moraes é o "ditador do Brasil", e "não um juiz". "Ele tem o poder executivo, judicial e legislativo", escreveu Musk.
O dono do X prometeu que vai tornar públicas ordens ilegais enviadas pelo ministro do STF à empresa.
Bolsonaro diz que censura fere liberdade
O ex-presidente Jair Bolsonaro não utilizou o X neste sábado. A última publicação dele na plataforma, feita na noite da sexta-feira, traz imagens de uma carreata em Arapongas (PR).
No Instagram, entretanto, Bolsonaro criticou a ordem de Alexandre de Moraes. "A saída do X do Brasil, especialmente nas circunstâncias a que todos assistimos desde ontem com perplexidade, representa mais um duro golpe à nossa liberdade e à nossa segurança jurídica", afirmou o ex-presidente. Ele também escreveu que a decisão "afastará investidores estrangeiros e terá consequências nefastas em todas as esferas da vida pública brasileira".
Bolsonaro também afirmou que a situação é fruto do "desejo inexplicável de alguns membros do governo e do Judiciário de controlar o debate público e silenciar vozes dissidentes", e que a ordem "afeta a nossa liberdade de expressão".
No fim da tarde deste sábado, o perfil do ex-presidente no Instagram compartilhou em seu stories uma publicação que menciona o caso ao mesmo tempo em que critica o Tiktok, rede social chinesa popular entre os adolescentes brasileiros. "Enquanto uma rede social americana e bloqueada por motivos políticos, garotas de 13 e 14 anos seguem dançando seminuas em uma rede chinesa", dizia a postagem, que foi publicada originalmente pelo perfil "rua_direita".
Também neste sábado, Bolsonaro republicou um vídeo de um discurso feito por ele em 2022. O então presidente criticava os que defendem a censura das redes sociais. Na legenda publicada neste sábado, ele escreveu: "Com a palavra aqueles que assinaram, em 2022, a 'cartinha em defesa da democracia'. Vão ficar em silêncio, até quando?", ele perguntou.
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