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Doria manobra para comandar o PSDB, não consegue e vê outro tucano surgir como presidenciável
O governador de São Paulo, João Doria, junto com governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite no Palácio dos Bandeirantes, em janeiro de 2019.| Foto: Governo de São Paulo/divulgação

O governador de São Paulo, João Doria, sofreu uma derrota em sua tentativa de se tornar presidente nacional do PSDB já a partir de maio e de permanecer no cargo durante as eleições de 2022. A manobra de Doria para comandar o partido foi vista internamente como uma forma de ele garantir, desde já, que será o candidato tucano à Presidência da República. E ocorre ao mesmo tempo em que outro nome começa a despontar como potencial presidenciável dentro do PSDB: o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.

A derrota de Doria veio na noite da quarta-feira (10), quando comandantes de diretórios estaduais do PSDB divulgaram uma carta em que pedem a prorrogação do mandato do presidente nacional do partido, o ex-deputado federal Bruno Araújo (PE). O pedido foi reforçado pela bancada federal do PSDB.

Uma segunda derrota dentro do PSDB pode ocorrer já nesta quinta-feira (11). Deputados do partido se reúnem com Eduardo Leite. Eles devem pedir que o governador gaúcho se lance como pré-candidato ao Planalto em 2022.

Até então, Doria era visto como único nome do PSDB para a disputa da sucessão de Jair Bolsonaro. O governador paulista buscava a consolidação do seu nome com um forte discurso de oposição a Bolsonaro e também com a tentativa de um fortalecimento dentro do próprio partido.

O plano de Doria de presidir o PSDB a partir de maio inclui a expulsão do deputado Aécio Neves (MG) da legenda e a filiação do ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), e de outros dissidentes do DEM. Doria externou seu plano em reuniões recentes que teve com a cúpula do partido, em São Paulo.

Mas a movimentação de Doria foi vista como precipitada. Em entrevista à CNN, o governador Eduardo Leite disse que o paulista "deve construir liderança, não pode se impor no comando do PSDB".

Para outro integrante do PSDB do Rio Grande do Sul, que conversou de forma reservada com a Gazeta do Povo, a movimentação de Doria acabou se tornando um "pretexto" para que membros do partido externassem críticas ao governador paulista. "Eu acho que a bancada aproveitou esse escorregão do Doria para mostrar um desejo reprimido", declarou.

Esse tucano também não acredita que o governador Eduardo Leite esteja à frente das negociações que colocam seu nome como alternativa presidencial. "Vejo o Eduardo mais preocupado em fazer sua gestão, em consolidar seu trabalho no Rio Grande do Sul. Mas é claro que, como todo homem público, ele também sonha com a Presidência da República", disse.

O dilema do PSDB: ser oposição ou se aproximar de Bolsonaro

A divisão no PSDB tem como pano de fundo o posicionamento do partido em relação ao governo Bolsonaro: será de oposição ou não?

Doria se tornou um dos maiores rivais do presidente da República e as críticas ao bolsonarismo são frequentes também em outros tucanos, como os senadores Tasso Jereissatti (CE) e Mara Gabrilli (SP).

Por outro lado, Bolsonaro conta com aliados dentro do PSDB. O senador Roberto Rocha (MA), que foi líder da bancada no ano passado, é alinhado ao presidente e chegou a ser chamado, por Bolsonaro, de "melhor senador do Brasil". Aém disso, o ministro da Integração Nacional, Rogério Marinho, foi até recentemente filiado ao PSDB.

A maior disputa, porém, se deu em torno da eleição pela presidência da Câmara. O PSDB formalmente apoiou a candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP), mas parte dos integrantes do partido esteve ao lado de Arthur Lira (PP-AL), vencedor da contenda. Como Lira foi o candidato "oficial" da gestão Bolsonaro, os apoios a ele foram interpretados como um sinal positivo de parte do PSDB ao Palácio do Planalto.

Entre os tucanos que endossaram a candidatura de Lira estava o deputado Celso Sabino (PA), que já deu dores de cabeça ao partido no ano passado – ele chegou a aceitar um convite para se tornar o líder da Maioria na Câmara. A medida fez o PSDB anunciar um processo de expulsão do parlamentar, que acabou não se consolidando.

"O PSDB é oposição. Mas não somos uma oposição radical. O que for bom para o país, nós votaremos a favor. O PSDB tem compromisso, e algumas das reformas estão no DNA do partido", declarou o líder tucano no Senado, Izalci Lucas (DF). O parlamentar foi vice-líder do governo no Senado até setembro do ano passado.

Izalci disse considerar "muito cedo" para se discutir o nome do partido para as eleições presidenciais. "O foco é 2022, mas acho que está muito cedo para se falar sobre isso agora. Temos a pandemia. Acho que isso [as discussões deve ficar para o segundo semestre, para quando acabar a pandemia", disse.

Tentativa de expulsar Aécio também prejudicou Doria

Em meio à disputa entre as diferentes alas do partido, o nome de Aécio Neves voltou a receber destaque. O parlamentar era uma das maiores estrelas da legenda até ter seu nome citado na delação premiada do empresário Joesley Batista, da JBS, em 2017. Desde então, Aécio passou de expoente tucano a deputado pouco próximo dos holofotes.

Mas Aécio retornou ao centro das discussões por, supostamente, ter sido um dos maiores articuladores da dissidência tucana a favor de Arthur Lira. E por isso se envolveu em uma troca de farpas com João Doria – o governador voltou a pedir sua expulsão do partido, como já fizera em 2019.

Aécio rebateu, por meio de nota oficial: "Se o senhor João Doria, por estratégia eleitoral, quer vestir um novo figurino oposicionista para tentar apagar a lembrança de que se apropriou do nome de Bolsonaro para vencer as eleições em São Paulo, através do inesquecível Bolsodoria, que o faça, sem utilizar indevidamente e de forma oportunista outros membros do partido”.

Aécio foi posteriormente apoiado pelo líder do PSDB na Câmara, Rodrigo de Castro (MG), que em nota afirmou que a discussão sobre a expulsão do tucano mineiro "não é sequer cogitada no âmbito da bancada federal''.

Para outro deputado do PSDB, "não há como pedir para que Aécio fique de fora" das decisões do partido. "Ele fez política a vida toda", disse. Segundo esse parlamentar, Aécio "tem consciência" do declínio de sua imagem popular e, por isso, evita a exposição – mas atua de forma consistente nos bastidores. "Nas eleições de agora vimos muitos candidatos, muitos prefeitos que gostam dele, mas que não quiseram ter o Aécio em seu palanque. Porque sabem que isso poderia criar um problema de opinião pública. Mas daí a dizer que o Aécio não pode ser candidato, não pode fazer política? Não faz sentido", acrescentou.

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