A situação eleitoral na Venezuela e as recentes ameaças do ditador Nicolás Maduro de invadir a Guiana vão ser mais uma vez tema de uma viagem internacional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O petista embarca na próxima terça-feira (16) em uma viagem para a Colômbia, onde se reúne com o presidente do país, Gustavo Petro. O tom da visita deve ser marcado pela "moderação" ao debater a crise causada por Maduro.
Os dois líderes compartilham o alinhamento ideológico de esquerda e têm evitado fazer críticas incisivas ao venezuelano. Petro havia afirmado previamente querer debater sobre democracia com Maduro, mas não está claro em que medida ele vai se contrapor à manipulação das eleições venezuelanas marcadas para o dia 28 de julho deste ano. Também é incerto se o Brasil vai reconhecer o processo eleitoral no país na forma como ele tem sido conduzido.
Apesar do escalonamento da crise no país vizinho e o aumento das críticas internas sobre Lula e Petro manterem o tom ameno com Maduro, os líderes não devem mudar sua postura. "Os dois países [Brasil e Colômbia] convergem no diagnóstico de que as ações adotadas no passado, no sentido de isolar a Venezuela, não serviram de nada", afirmou o ministro João Marcelo Queiroz, diretor do departamento de América do Sul do Ministério de Relações Exteriores.
"[Cortar relações diplomáticas] servirá apenas para promover a presença de atores extrarregionais na região e não para a superação da crise que existe na Venezuela. Esse espírito de engajamento provavelmente é o que deve pontuar as conversas do presidente Lula e do presidente Petro", disse Queiroz durante briefing no Palácio do Itamaraty nesta quinta-feira (11).
De acordo com o Ministério de Relações Exteriores, as conversas sobre a crise em Caracas devem ter um espírito "construtivo e de engajamento". O presidente colombiano se reuniu com Maduro e com membros da oposição venezuelana nesta semana, durante viagem que fez a Caracas. Em redes sociais, escreveu que o objetivo da visita foi "falar sobre uma proposta democrática que permita a paz política na Venezuela".
O Palácio do Itamaraty afirmou que não houve discussões com Lula sobre o tema, mas Petro pode pedir apoio do petista à proposta colombiana durante encontro com o brasileiro na próxima semana.
Há mais de 13 anos no poder, o ditador Nicolás Maduro tem sido cobrado para realizar eleições transparentes e democráticas em seu país. No último ano, o Brasil ajudou na negociação de um acordo entre Caracas e os Estados Unidos visando o processo eleitoral no país. Em troca, Washington concordou em aliviar os embargos econômicos impostos à Venezuela.
Maduro porém tem seguido na direção oposta e manipulado o processo eleitoral em curso para evitar que membros da oposição se candidatem ao pleito. Lula, que chegou a pedir "presunção de inocência" para o venezuelano, chamou de "grave" o fato do regime de Maduro impedir a candidatura de figuras da oposição. O Itamaraty também afirmou estar "acompanhando com preocupação" a estruturação das eleições marcadas para o dia 28 de julho.
O governo colombiano emitiu nota parecida com a do Brasil. No dia 21 de março, a chancelaria do país afirmou preocupação com o processo eleitoral na Venezuela, porém adotou um tom mais incisivo contra o regime de Maduro. No documento, acusou o autocrata de "perseguir opositores" e de fazer "prisões arbitrárias". Do outro lado, Lula tem sido cobrado a ser mais duro com o venezuelano a fim de pressioná-lo, mas isso não deve ocorrer.
Agenda bilateral
A agenda de Lula na Colômbia deve ter duração de apenas um dia. Ao longo da quarta-feira (17), o petista tem um encontro bilateral com Gustavo Petro e participa de alguns eventos: um Fórum Empresarial que tem sido realizado com o governo colombiano em parceria com a Apex Brasil e da Feira Internacional do Livro de Bogotá.
No encontro bilateral, os líderes devem discutir a crise na Venezuela e a recente situação no Equador; as guerras em curso no mundo na Europa e no Oriente Médio; o desenvolvimento sustentável e preservação da floresta amazônica; cooperação cultural; combate ao tráfico de pessoas; combate à fome; agricultura familiar e outros temas.
No Fórum Empresarial em que Lula e Petro marcarão presença, haverá a participação de mais de 300 empresas, entre brasileiras e colombianas. O ministro João Marcelo Queiroz, diretor do departamento de América do Sul do Ministério de Relações Exteriores, afirmou ainda que há muito interesse na aproximação comercial entre Brasil e Colômbia devido à proximidade e acordos que Bogotá construiu com Estados Unidos e União Europeia.
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