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O que os embaixadores estrangeiros disseram da visita à Amazônia com Hamilton Mourão
O vice-presidente Hamilton Mourão cumprimenta indígena durante visita ao 5.º Pelotão Especial de Fronteira, na Amazônia, na qual esteve acompanhado de embaixadores e diplomatas de dez países.| Foto: Bruno Batista/Vice-Presidência

O governo federal comemora os resultados da viagem do vice-presidente Hamilton Mourão à Amazônia acompanhado de embaixadores e diplomatas de dez países estrangeiros, realizada na semana passada. A análise interna no Palácio do Planalto é de que foi um importante passo para melhorar relações com os países convidados e, assim, frear o que considera ser uma pressão internacional indevida sobre a região amazônica. Os diplomatas, por sua vez, também celebram a aproximação, mas cada um com reservas e ressalvas. Alguns ainda não se sentem plenamente convencidos dos esforços do governo brasileiro em controlar os incêndios e o desmatamento ilegal.

Entre mensagens públicas – sobretudo em redes sociais – e em entrevistas à Gazeta do Povo, a percepção de embaixadores e diplomatas estrangeiros é de que a viagem abriu as portas para um diálogo, apesar de destacarem a falta de metas e medidas concretas para conter a devastação na Amazônia da parte das autoridades brasileiras. “Algo que não vimos foi um plano real para diminuir o desmatamento e conter os incêndios. Precisamos ver medidas concretas e objetivos claros em termos de números”, disse um embaixador que pediu para não ser identificado.

Embaixadores de quais países participaram da visita à Amazônia

O governo brasileiro levou à Amazônia uma comitiva composta por embaixadores e diplomatas da África do Sul, Alemanha, Canadá, Colômbia, Espanha, França, Suécia, Peru, Reino Unido e Portugal.

Além de diplomatas dos dez países, também foram convidados o embaixador da União Europeia no Brasil, Ignacio Ybáñez, e representantes da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA).

Embaixadores e diplomatas elogiaram o itinerário escolhido pelo governo e dizem ter sido positiva a ideia em levá-los a áreas intactas da Amazônia protegidas de atividades ilegais – o que os permitiu conhecer de perto a parte preservada da floresta. A comitiva não levou os diplomatas estrangeiros, por exemplo, a áreas com focos de incêndio, por exemplo.

Mas isso não impediu que o governo brasileiro fosse alvo de críticas. Alguns diplomatas dizem que, além da falta de um planejamento estrutural para o enfrentamento dos problemas na região, o Brasil subestima o conhecimento de outros países sobre a região amazônica – que poderia contribuir para a solução dos problemas. Muitas dessas nações trabalham há décadas em parcerias com outros governos e julgam ter boa experiência sobre a cooperação internacional para o enfrentamento de problemas.

“Nós acreditamos que entendemos bem sobre a Amazônia. Respeitamos a decisão de o governo nos mostrar, entre outras coisas, que não tem fogo em todos os lugares e, também, como atua na proteção de áreas intactas. Mas essa é uma parte da história”, disse um embaixador. “Nós sabemos onde os focos de fogo estão”, afirmou outro.

Além disso, embaixadores e diplomatas cobraram do governo novas visitas e sobrevoos que incluam alguns dos municípios mais impactados pelos problemas da Amazônia. Citam como exemplo Apuí (AM), Lábrea (AM), Boca do Acre (AM) e algumas áreas do Pará.

Mourão se prontificou a convidá-los para uma segunda viagem. A promessa é de ir a “áreas tradicionais do Pará”. A expectativa é de que, para essa segunda visita à região amazônica, o governo possa, enfim, apresentar propostas mais robustas e concretas sobre ações contra o desmatamento e os incêndios florestais.

Quais países fizeram pronunciamentos públicos e o que disseram

A encarregada de negócios do Reino Unido no Brasil, Liz Davidson, foi uma das que se posicionou pelas redes sociais sobre a visita à região amazônica. Ela disse que busca um “diálogo colaborativo”, reconheceu ter sido oportuno “conhecer ações de combate à extração ilegal de madeira” e destacou ter com o governo brasileiro “fortes compromissos em rastreabilidade e controle de cadeias relacionadas à ilegalidade”. Mas mostrou preocupação com o aumento, segundo ela, de 34% no desmatamento na comparação com 2019. E lamentou não ter ido a “áreas mais afetadas pelo desmatamento”.

Outra cobrança enfática da representante do Reino Unido diz respeito a medidas mais perceptíveis na região amazônica. “Aguardamos os próximos passos descritos pelo general Mourão no sentido de implantar um plano transparente, com metas quantitativas – incluindo a de zerar o desmatamento líquido até 2030 – para vermos uma redução significativa e permanente no desmatamento da região”, disse Liz Davidson pelo Twitter. 

O embaixador da Alemanha, Heiko Thoms, adotou postura semelhante. Disse que a viagem foi uma “oportunidade única para trocar opiniões sobre os complexos desafios da região (...) para os quais não há soluções fáceis”.

Afirmou ainda que, além do Exército, “agências ambientais experientes” também podem “dar uma contribuição decisiva” para enfrentar os problemas da Amazônia. “Boas intenções, experiência e instrumentos são importantes, mas não são suficientes por si só. O que é importante agora é ter um plano de ação para reduzir o desmatamento, com metas concretas, prazos fixos e resultados mensuráveis”, ponderou.

O embaixador da Espanha, Fernando Garcia Casas, disse que a ida à região amazônica é um ponto de inflexão que estabelece uma comunicação imprescindível e o início de uma agenda importante com a participação de empresas, da sociedade civil e do governo.

Garcia Casas enalteceu o convite e avaliou que a viagem conferiu a ele um conhecimento mais profundo sobre a região. “Não tinha uma ideia global, como tenho agora, dos sucessos, desafios e problemas da Amazônia”, disse.

O embaixador espanhol também valorizou o esforço logístico e político de Mourão e dos ministros do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno; da Agricultura, Tereza Cristina; e do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Para ele, esse esforço vai construir pontes para a cooperação internacional. “Com diálogo, conhecemos melhor os problemas e desafios, inclusive para a Espanha e União Europeia. Por meio do trabalho conjunto, podemos atuar na proteção, preservação e no desenvolvimento sustentável pensando nas gerações futuras”, disse Garcia Casas.

O embaixador da União Europeia no Brasil, Ignacio Ybáñez, também destacou que a viagem à Amazônia contribui para “fortalecer o diálogo”. Mas disse esperar que a “vontade política se traduza em resultados”.

A embaixadora do Canadá, Jennifer May, foi outra a afirmar que seu país apoia os esforços para combater o desmatamento e as atividades ilegais na Amazônia. "É fundamental mantermos um diálogo genuinamente engajado e franco com os governos federal, estaduais e municipais, setor privado, povos indígenas e organizações da sociedade civil atuantes na bacia amazônica", declarou.

" Em todos os casos, e ao nos reunirmos com um grupo diversificado de interlocutores com diversos pontos de vista e experiência, nossa compreensão dos desafios que cercam a preservação da Amazônia se torna maior, dando-nos uma noção melhor sobre os esforços e interesse do Canadá em colaborar", acrescentou, em nota, a embaixadora canadense à Gazeta do Povo.

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