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O diretor-executivo da Vitamedic, Jailton Batista
O diretor-executivo da Vitamedic, Jailton Batista| Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

O diretor-executivo da farmacêutica Vitamedic, Jailton Batista, que depõe à CPI da Covid do Senado nesta quarta-feira (11), confirmou à comissão que a empresa registrou crescimento expressivo nas vendas de ivermectina no ano passado, na comparação com os anos anteriores. Ele descartou, porém, que exista um conflito de interesses entre o fato de a Vitamedic ter patrocinado anúncios pelo tratamento precoce e ser produtora da ivermectina.

A veiculação dos anúncios foi questionada por diferentes senadores, em especial os que fazem oposição ao presidente Jair Bolsonaro. As peças foram dispostas em diferentes publicações de imprensa durante o mês de fevereiro. São assinadas pela associação Médicos Pela Vida. O custeio, orçado em R$ 700 mil e feito pela Vitamedic, foi descoberto por meio de investigações feitas pela CPI. Segundo Batista, a ivermectina não foi o único medicamento descrito no anúncio - a peça menciona também outras substâncias, como cloroquina, zinco e vitamina D.

O executivo reconheceu que a Vitamedic não executou estudos sobre a eficácia da ivermectina no tratamento contra a covid-19. Ele alegou que o medicamento é produzido pela empresa há anos, sem conexão com a pandemia de coronavírus, e que uma possível utilidade dele para o combate à Covid-19 foi identificada por pesquisas internacionais. O uso padrão da ivermectina, segundo Batista, é para o combate de parasitas, como o causador da sarna e o piolho.

Batista fala à CPI em substituição ao proprietário da empresa, José Alves Filho, que foi quem teve seu nome inicialmente aprovado pela comissão. Alves alegou à CPI que Batista, por controlar o dia-a-dia operacional da companhia, seria a pessoa indicada para prestar os esclarecimentos esperados pelos senadores. Na abertura dos trabalhos desta quarta, porém, os senadores sugeriram que uma convocação para Alves não está descartada. O depoimento de Batista ainda está em curso.

Bolsonaro, o "garoto propaganda"

As vendas de ivermectina pela Vitamedic registraram um crescimento de 1.105% na comparação entre 2019 e 2020. Passaram de 24,6 milhões para 297,5 milhões. Houve também elevação nos preços - o custo da caixa de 500 comprimidos foi de R$ 73,87 a R$ 240,90. Batista relatou à CPI ainda que a Vitamedic registrou crescimento na venda de comprimidos da Vitamina D, substância também presente no chamado "kit covid".

Os senadores buscaram saber de Batista se a postura de Bolsonaro de defesa do tratamento precoce foi decisiva para a elevação das vendas. O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), veiculou um vídeo com uma compilação de discursos e entrevistas de Bolsonaro em que ele mencionou especificamente a ivermectina como método para o combate da pandemia de coronavírus.

Batista disse não ter como "medir o impacto da fala" de Bolsonaro no crescimento das vendas. O executivo acrescentou que a empresa não comercializou o medicamento com o governo federal. Entre os estados, segundo o executivo, o único que fez negócios com a empresa para a compra da ivermectina foi o Mato Grosso.

Pressão por Manaus e outros casos

O presidente da CPI, o senador Omar Aziz (PSD-AM), relacionou a postura da Vitamedic com o caos registrado no Amazonas no início do ano, quando centenas de mortes foram registradas a cada dia tendo como causa a Covid-19.

Aziz chamou a postura da Vitamedic de "engodo" e disse que a empresa "visou o lucro" durante o processo. O senador criticou a empresa e a Médicos Pela Vida por terem veiculado o anúncio em defesa do tratamento precoce mesmo após a crise de Manaus. "Se isso não for crime, não existe mais crime", declarou.

O senador acrescentou também que "um laboratório que tinha faturamento de R$ 200 milhões passou para R$ 534 milhões à custa da vida dos brasileiros". Aziz sugeriu também que a Defensoria Pública do Amazonas acione a Vitamedic no Judiciário, em conjunto com os familiares das pessoas que morreram à época da crise no estado.

Já o senador Otto Alencar (PSD-BA) afirmou que o "grande crime" na atuação da Vitamedic é o de insinuar que o consumo de ivermectina poderia evitar a infecção pelo coronavírus. O parlamentar disse que ele próprio contraiu Covid-19 mesmo após ter sido vacinado, o que indica a inexistência de algo que impeça a infecção sob qualquer hipótese.

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