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Flávio Bolsonaro acompanha o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) após reunião no Palácio da Alvorada com o presidente Jair Bolsonaro, nesta terça- feira (14).
Flávio Bolsonaro acompanha o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) após reunião no Palácio da Alvorada com o presidente Jair Bolsonaro, nesta terça- feira (14).| Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Recém-filiado ao Republicanos, o senador Flávio Bolsonaro (RJ) aproveita a pandemia do novo coronavírus para se reposicionar politicamente, avaliam interlocutores e aliados do filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro. Alvo de investigação sobre "rachadinha" em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Flávio passou todo o primeiro ano de mandato em Brasília submerso e até distante publicamente do núcleo familiar para evitar associação com o caso do ex-assessor Fabrício Queiroz.

Com a escalada da Covid-19 no país, no entanto, o senador, considerado o mais comedido do clã Bolsonaro, subiu o tom nas redes sociais, encabeçou a defesa contra o isolamento social e passou a marcar presença em reuniões no Palácio do Planalto e entrevistas coletivas. Integrantes do gabinete de crise alegam que ele participa como ouvinte e não tem voz nas decisões do governo.

O senador também puxou para si a responsabilidade de conversar com parlamentares sobre o posicionamento do presidente em relação ao enfrentamento da Covid-19. A ele é atribuída a interlocução com empresários que pedem o fim da quarentena. Procurado pela reportagem, Flávio respondeu, via assessoria, que sua prioridade e a do governo é "devolver tranquilidade à população". "Garantir vidas, empregos e renda é o mais importante. Toda a minha energia está dedicada a encontrar soluções para essa crise."

Para pessoas próximas ao senador, a crise da Saúde evidencia um fortalecimento das relações familiares e do papel de Flávio como conselheiro do presidente. No primeiro ano de governo, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), o filho "02", que controla as redes sociais do presidente, e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) exerceram mais ascendência sobre o pai.

Em uma publicação em 26 de março, Flávio elogiou Carlos, com quem mantém um histórico de desentendimentos políticos e familiares. "Parabéns, Carluxo, por não ficar em casa e trabalhar! Sou testemunha de sua vital importância ao lado do presidente Jair Bolsonaro para vencermos a crise", escreveu.

Em 21 de março, data de aniversário do presidente, Flávio registrou em suas redes os três irmãos juntos enquanto o pai gravava um vídeo anunciando que havia determinado a ampliação da produção de cloroquina no laboratório químico e farmacêutico do Exército. Ainda não há estudos conclusivos sobre a eficácia do medicamento no tratamento da covid-19. O senador passou a defender a volta dos brasileiros ao trabalho, contrariando a determinação de autoridades sanitárias.

Também partiu das redes sociais do filho do presidente o vídeo, encomendado pelo governo, incentivando o fim do isolamento com o mote "O Brasil Não Pode Parar." A Secretaria Especial de Comunicação (Secom) disse que o vídeo foi feito em caráter "experimental", mas não explicou como o material chegou às mãos do senador para que ele pudesse postar.

O filho "01" também tem se aproximado de aliados do presidente. No feriado, visitou um hospital de campanha ao lado do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), que deve concorrer à reeleição. Nesta terça-feira (14), acompanhou o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), em uma encontro com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto.

Caso Queiroz e ligações como miliciano assombram Flávio Bolsonaro

O caso do ex-policial militar e ex-assessor Fabrício Queiroz caiu como uma bomba na vida de Flávio Bolsonaro no final de 2018, após a vitória acachapante dele e do pai nas urnas. Relatório do antigo Coaf, o órgão de inteligência financeira do governo que foi rebatizado de UIF, detectou movimentação atípica na conta de Queiroz, incompatível com sua remuneração mensal quando trabalhava no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio.

Entre 2014 e 2015, foram R$ 5,8 milhões. Entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, mais R$ 1,2 milhão. A suspeita é da prática de "rachadinha", quando funcionários do gabinete devolvem parte dos salários. O relatório também registrou que Queiroz depositou R$ 24 mil na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Queiroz é amigo de longa data da família Bolsonaro, tendo servido no mesmo batalhão do Exército em que trabalhava Jair Bolsonaro. Entre o primeiro e o segundo turnos da eleição presidencial de 2018, Queiroz foi exonerado do gabinete de Flávio, que já tinha conhecimento do relatório e das investigações do Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro.

Ao longo das diligências, o MP descobriu que Flávio mantinha relações com o miliciano e ex-PM Adriano Nóbrega, morto em fevereiro na Bahia. A mãe e a mulher do ex-policial militar trabalharam no gabinete de Flávio na Alerj, contratadas por Queiroz. Adriano chegou a ser homenageado na Assembleia do Rio por sugestão de Flávio Bolsonaro. Desde que a primeira denúncia veio à tona, o senador se esforça para suspender ou arquivar na Justiça as investigações sobre Queiroz e a prática da "rachadinha". Até agora, em vão.

Flávio nega qualquer irregularidade, diz que jamais autorizou Queiroz a recolher parte dos pagamentos e que é vítima da quebra de sigilo sem autorização judicial por parte do MP. Já o presidente Jair Bolsonaro alega que o depósito feito na conta de Michele fazia parte do pagamento de um empréstimo que o próprio Bolsonaro havia concedido a Queiroz.

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