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Bolsonaro, Lula e o futuro do centro na política
Bolsonaro e Lula: protagonismo dos dois na política brasileira dificulta que nome do centro tenha destaque.| Foto:

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em um de seus primeiros discursos após deixar a cadeia em Curitiba, disse que saía da prisão "mais à esquerda" do que havia entrado. Solto, o petista tende a reagrupar a oposição e a fortalecer o discurso contra o presidente Jair Bolsonaro. O previsível embate entre a maior liderança da esquerda e o principal nome da direita no Brasil tende a acirrar ainda mais a polarização política. Nesse cenário de briga pelo protagonismo político, como ficam as forças políticas de centro? A maior parte das análises é de que o contexto é pouco favorável aos políticos dito moderados.

Lula tende a ocupar o espaço que sempre teve na esquerda. Além disso, sua libertação deu uma "contribuição" involuntária à direita nacional. A avaliação é de que setores conservadores que estariam descontentes com Bolsonaro esqueceriam problemas menores e se juntariam ao presidente com medo de um retorno do PT ao poder.

Com o fortalecimento da polarização entre esquerdistas e membros da direita, as forças de centro tendem a ser "engolidas" em meio ao debate dos dois extremos – do mesmo modo que ocorreu eleição de 2018, quando candidaturas que defendiam discursos mais moderados tiveram desempenho fraco na corrida presidencial.

Espaço existe para o centro, mas faltam condições para preenchê-lo

Para diferentes lideranças de centro, o quadro de polarização é, ao mesmo tempo, um desafio e uma oportunidade para as forças políticas que se posicionam distantes dos dois extremos.

"A polarização deixou clara a necessidade de vozes moderadas, de um centro progressista", afirma o deputado federal Marcelo Ramos (PL-AM). O parlamentar foi o presidente da comissão especial da Câmara sobre a reforma da Previdência, proposta enviada pelo governo Bolsonaro, mas tem criticado o Palácio do Planalto pelo que considera uma falta de "sensibilidade social" nas políticas econômicas.

Vice-presidente do PSDB, o também deputado federal Domingos Sávio (MG) avalia que existe uma "avenida" para o crescimento do centro. "A esquerda e a extrema-esquerda costumam ter a preferência de 20% ou 30% do eleitorado, e a mesma coisa valendo para a direita e a extrema-direita. Então há 40% que são simpáticos a uma proposta de um centro mais liberal. É uma avenida para a evolução do centro", afirmou.

Para Marcelo Ramos, o mau momento e os fracassos eleitorais são resultado da falta "de um projeto e de um líder". "Só se consegue ser alternativa de poder no país quem tem um projeto e um líder. E o centro não tem nem uma coisa e nem outra. O que é exatamente o centro? O que difere o centro da esquerda e da direita, nos diferentes aspectos da gestão pública? É isso que precisa ser discutido", afirma o deputado.

Quem seria "o cara" do centro?

A menção de um "líder", por parte de Marcelo Ramos, leva a um inevitável debate: quem será o representante do centro na eleição presidencial de 2022?

Em 2018, o campo centrista teve como nomes Geraldo Alckmin (PSDB), Henrique Meirelles (MDB), Alvaro Dias (Podemos) e Marina Silva (Rede). O discurso de "rejeição aos extremos" foi comum nas falas dos candidatos e de seus apoiadores. O que não rendeu muito apelo: Alckmin, o mais bem-posicionado, recebeu menos de 5% dos votos válidos.

O PSDB de Alckmin é o partido de um dos nomes mais mencionados para a próxima corrida presidencial, o do governador de São Paulo, João Doria. O tucano já havia indicado interesse em disputar o Planalto em 2018. Acabou como candidato ao governo e, no segundo turno, se aliou a Bolsonaro, lançando o slogan "Bolsodoria".

"Ele é, hoje, o grande líder em exercício no PSDB. É um líder de alcance nacional, muito determinado, e de bons propósitos. O que ele precisa ter é a clareza de que não chegará à Presidência sozinho. Ele tem que ser um catalizador desse centro liberal", afirma o deputado Domingos Sávio.

Para o deputado Marcelo Ramos, o centro tem um nome que tem o respeito das lideranças do setor, mas menos capacidade eleitoral: o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Já o apresentador de TV Luciano Huck, que tenta viabilizar sua candidatura e é sondado por partidos como o Cidadania, é avaliado por Ramos como um nome que se distingue dos possíveis adversários. "Ele lançaria seu nome não precisando encarar uma barreira que todos precisam superar, que é a de se tornarem conhecidos."

Já o líder do Podemos na Câmara, deputado José Nelto (GO), avalia que há "um universo" a ser percorrido até a próxima disputa presidencial. O deputado é também da opinião de que o próprio cenário de polarização não é tão firme quanto possa parecer. "Nós não sabemos como as coisas vão ficar, se Lula vai permanecer livre."

Eleição municipal não é espaço de disputa ideológica

Um consenso entre as lideranças que conversaram com a Gazeta do Povo é o de que a eleição municipal de 2020 dará poucas respostas sobre a polarização e o futuro de direita, esquerda e centro no Brasil. Para os deputados, a disputa nas cidades é marcada pela discussão de solução de problemas pontuais, e não sobre ideologias.

"Na eleição municipal, o cidadão não vota no partido, e sim na pessoa. Ele quer debater a saúde, o asfalto da rua, a escola, a creche", afirma Nelto. "Nessa disputa, os grandes líderes e os grandes partidos têm peso muito menor", acrescenta Domingos Sávio. "A eleição municipal pode nos dar o tamanho dos extremistas. Mas acredito que não será tão marcada por aquela avalanche da direita que tivemos com o Bolsonaro em 2018", diz Ramos.

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