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governadores do PSL, o que fizeram até agora
Da esquerda para a direita, os três governadores do PSL: Marcos Rocha (governador de Rondônia), Antonio Denarium (de Roraima) e Carlos Moisés (Santa Catarina).| Foto: Montagem a partir de reprodução/Facebook

Os três jamais haviam disputado uma eleição. Venceram as corridas eleitorais em seus estados de forma surpreendente, derrotando políticos tradicionais. Foram beneficiados pela onda conservadora que marcou a eleição de 2018 e, principalmente, por associarem sua imagem à do hoje presidente Jair Bolsonaro. E, assim, se tornaram os primeiros governadores eleitos pelo PSL, partido que em menos de um ano saiu de nanico para gigante no cenário nacional.

As semelhanças entre Carlos Moisés (governador de Santa Catarina), Marcos Rocha (Rondônia) e Antonio Denarium (Roraima), entretanto, não vão muito além disso. Ao longo dez meses e meio de gestão, os três governadores têm imprimido marcas distintas de trabalho e também conduzido relações distintas com o bolsonarismo. E, com a crise interna do PSL, ao menos um deles pode se distanciar ainda mais dos outros dois.

Carlos Moisés, o menos bolsonarista dos governadores do PSL

O governador de Santa Catarina, Carlos Moisés, não teve nenhum envolvimento na disputa vivida pelo PSL no plano federal, que opôs bolsonaristas a "bivaristas" – aliados do deputado Luciano Bivar (PE), presidente da legenda. Mas Moisés já avisou que não vai deixar o PSL para migrar para o Aliança pelo Brasil, o partido que Bolsonaro decidiu criar para sair do partido pelo qual foi eleito.

Comandante Moisés, como é conhecido, tem se mostrado o menos bolsonarista dos governadores do PSL. Ao longo do mandato, ele tem feito uma série de gestos que desagradaram os apoiadores mais radicais do presidente. Recebeu membros do MST no palácio do governo. Criou uma taxa sobre o uso de agrotóxicos. Criticar o que chamou de "pessoal da arminha". Falou que "quem tem preconceito tem que trabalhar a cabeça para se livrar", em relação aos grupos anti-LGBT.

Mais recentemente, um dia após a eclosão da crise criada com a declaração do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) sobre o AI-5, Moisés escreveu em seu perfil no Twitter que a "manutenção da democracia, com o fortalecimento e aperfeiçoamento das instituições, são fundamentais para que sigamos o rumo do desenvolvimento social e econômico".

As posturas, claro, despertaram reações. Moisés passou a ser visto como inimigo por membros de seu próprio partido – especialmente os deputados estaduais Jessé Lopes e Ana Caroline Campagnolo. Ambos são jovens, de militância nas redes sociais e identificados com o "pessoal da arminha" criticado pelo governador. Um processo de expulsão dos parlamentares do PSL chegou a ser implantado, mas Moisés negou que estivesse por trás da iniciativa.

Nas redes sociais de Campagnolo, Moisés é alvo recorrente de críticas. A deputada aponta um suposto oportunismo do governador por se eleger sob a imagem de Bolsonaro e depois se afastar do presidente e também por ter se aproximado do PDT.

Em postagem de 1.º de novembro, Moisés foi chamado de "palestrinha da democracia" por Campagnolo, justamente por causa da manifestação do governador acerca da declaração de Eduardo Bolsonaro.

No campo administrativo, Moisés tem conduzido o governo com austeridade. Aprovou em junho uma reforma administrativa que levou à diminuição do tamanho do estado. Neste aspecto, mostrou convergência com o governo Bolsonaro, mais especificamente com as diretrizes do ministro Paulo Guedes.

Marcos Rocha: dos governadores do PSL, o que enfrenta menos problemas

Quando os olhos do mundo estavam voltados para a Amazônia, em virtude do aumento do número de queimadas na região, o governador de Rondônia, Coronel Marcos Rocha, publicou um longo texto com sua visão sobre o tema. Nas palavras dele, há grande sintonia de sua posição com os discursos de Bolsonaro sobre o assunto.

"A Amazônia é nossa. Em pleno século 21, sequer devia haver discussão a respeito. Acreditar em bondade e altruísmo de agentes externos – quando falamos da preciosidade que a Amazônia representa e dos diversos indícios de interesses geopolíticos na região – me soa ingenuidade ou mau-caratismo mesmo", diz parte do relato de Marcos Rocha.

A conexão com o governo federal foi também enfatizada por elogios mútuos entre Rocha e ministros. "Sou o governador mais alinhado com o ministro Sergio Moro [Segurança] e a ministra Damares Alves [Mulher, Família e Direitos Humanos], para cumprirmos uma cartilha de redução de crimes do colarinho branco, crimes contra crianças e crimes comuns", disse.

Em função de seu alinhamento com o governo Bolsonaro, a expectativa dos bastidores é de que Coronel Marcos Rocha migre do PSL para a Aliança pelo Brasil, partido que será criado por Bolsonaro e seus alidos.

No âmbito interno de Rondônia, o governador tem também mostrado força. Desfruta de boa relação com a Assembleia Legislativa local, a ponto de ter visto um pedido de impeachment contra ele não passar sequer das etapas iniciais no Legislativo.

Antonio Denarium: paz externa, conflitos internos em Roraima

Governador de Roraima, Antonio Denarium ainda não falou publicamente se vai deixar o PSL para entrar na Aliança pelo Brasil. Mas, nos bastidores, a especulação é que ele acompanhe o presidente Jair Bolsonaro na nova legenda.

Denarium tem a sua relação com o governo federal como um dos principais trunfos. Viagens a Brasília para articulação com autoridades da capital figuram em destaque em suas redes sociais. Elogios dos ministros Paulo Guedes (Economia) e Damares Alves (Direitos Humanos) são comemorados por internautas que visitam as páginas do governador de Roraima e celebram os feitos do governo.

Ele também mostra sintonia com o discurso de Bolsonaro em um tema caro ao presidente da República, que é a expansão da mineração. Ao longo do período eleitoral, Bolsonaro costumava dizer que poderia transformar Roraima em "um Japão", em virtude das riquezas do subsolo do estado. Denarium tem dialogado constantemente com garimpeiros e também levado demandas do setor a Brasília.

Mas o clima de diálogo que Denarium mostra em suas relações no âmbito federal não encontra eco dentro de seu próprio estado. O governador tem colecionado desafetos ao longo dos 11 meses de gestão. Um deles é o vice-governador, Frutuoso Lins (Solidariedade), que rompeu com Denarium em agosto. Na ocasião, Lins disse que o estopim para a separação era a visão do governador sobre o agronegócio – segundo ele, o governador prioriza as grandes empresas do setor em detrimento dos produtores familiares. Ainda no primeiro semestre, Lins disse que Denarium não estava cumprindo sua promessa de fazer dele uma peça importante na gestão.

Denarium também não tem relação harmônica com o presidente da Assembleia Legislativa de Roraima, Jalser Renier. O governador acusa o deputado de barrar temas de interesse do governo estadual, enquanto Renier rebate dizendo que Denarium "brinca" de administrar Roraima. A temperatura subiu principalmente após o vazamento de um áudio da deputada estadual Catarina Guerra (Solidariedade), aliada de Denarium, que falava sobre o interesse do governador em ver outro nome no comando da Assembleia.

E, no Poder Legislativo local, a principal voz em defesa de Denarium é do líder do governo na Assembleia, o deputado Soldado Sampaio, filiado ao Partido Comunista do Brasil – o mesmo PCdoB que, no plano federal, faz oposição ferrenha a Bolsonaro. A inusitada aliança foi justificada por Denarium e Sampaio na linha do "estamos pensando no melhor para o estado, não em questões partidárias".

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