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Em meio à intensificação das campanhas nas eleições municipais, deputados e senadores retornarão a Brasília nesta semana para uma agenda intensa no Congresso, que irá medir as forças da oposição e do governo. Já nesta segunda (9), no Senado, a direita apresentará um novo e mais robusto pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, aproveitando o embalo das manifestações contra ele, no sábado (7). Na terça (10), deputados tentarão aprovar, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, projeto que anistia os condenados do 8 de Janeiro, e que também pode anular a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A presidente do colegiado, Caroline de Toni (PL-SP), tentará ainda votar, na quarta (11), quatro proposições que reduzem o poder do Supremo Tribunal Federal (STF). Uma delas é a proposta de emenda à Constituição já aprovada no Senado (PEC 8/2021) que praticamente acaba com as decisões monocráticas dos ministros. Outra PEC pautada (28/2024) permitiria ao Congresso sustar decisões do STF que invada competência normativa do Legislativo.
Por fim, há mais dois projetos de lei para aumentar o rol de crimes de responsabilidade que podem levar ministros do STF ao impeachment, incluindo usurpação de competências dos parlamentares, divulgar opinião sobre processos pendentes de julgamento, praticar corrupção e violar imunidade dos deputados e senadores em suas palavras e posicionamentos.
Um dos projetos diz que, se o presidente do Senado não aceitar o pedido de impeachment, caberá recurso para que o plenário da Casa possa analisar a denúncia. Se um terço dos senadores considerar que há admissibilidade nas acusações, o processo será aberto. Hoje, o principal obstáculo para o impeachment de Moraes e outros ministros é a recusa do atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), em aceitar o pedido.
A direita tem 30 senadores que apoiam o afastamento do ministro, número aquém dos 54 necessários para aprovar a medida, mas que seria suficiente para abrir o processo conforme o projeto de lei que será votado.
Todas essas propostas na CCJ da Câmara, porém, ainda teriam de passar pelo plenário da Câmara, onde eventual aprovação torna-se ainda mais incerta. A própria votação delas precisaria ser pautada pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), e não há qualquer garantia disso, especialmente num momento em que ele concentra esforços para conquistar apoio do Centrão para fazer seu sucessor na cadeira, que assume no início do ano que vem.
No Senado, não há qualquer sinal de que Pacheco vá aceitar o novo pedido de impeachment contra Moraes – nunca acolheu nenhum dos anteriores e sempre disse ser contrário. Além de ser próximo do ministro, diz que iniciativas do tipo consomem energia que deveria estar focada, em sua visão, em matérias de interesse econômico ou social.
Governo quer votar matérias econômicas em semana de esforço concentrado
Esse discurso casa com o interesse do governo em aproveitar essa semana para aprovar outras propostas defendidas pela equipe econômica, liderada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A base de apoio ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – que no Desfile da Independência, fez questão de explicitar seu apoio a Moraes e Pacheco – tentará aprovar, na Câmara, o projeto de lei que cria o comitê-gestor do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), segunda parte da reforma tributária. Também tentará votar a proposta que renegocia dívidas dos estados com a União, outra prioridade do Executivo neste ano.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), reservou sessões de segunda a quarta para um “esforço concentrado” de votações. Embora a pauta não tenha ainda sido oficializada, o plano é que os líderes dos partidos mobilizem suas bancadas para votar propostas prioritárias, para que só depois os deputados voltem às suas bases para retomar a participação nas campanhas de aliados que concorrem a prefeito e vereador. Será a última semana de trabalho efetivo na Casa antes da eleição municipal, marcada para o dia 6 de outubro.
Daí a pressa do governo em aprovar matérias de interesse da equipe econômica antes que o resultado do pleito mexa no jogo político nacional, ante a possibilidade de partidos de centro e da direita saírem fortalecidos com a eleição de filiados nas capitais e em grandes cidades.
Internamente, o Executivo ainda tem outras preocupações ao longo da semana. Lula deverá escolher um novo ministro dos Direitos Humanos, após a demissão, na última sexta (6), do professor Silvio Almeida, alvo de denúncias de assédio sexual, inclusive dentro do governo.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, será novamente submetida a desgaste em razão dos incêndios que se alastraram pelo país. Na terça (10), ela participa de audiência pública na Câmara para prestar contas de sua gestão.
STF tem agenda que interessa aos outros poderes
O STF, cuja atuação é o principal ponto de choque entre governo e oposição, estará, por sua vez, concentrado em pautas que interessam de perto ao Executivo e à cúpula do Legislativo. Nesta segunda (9), termina o prazo para que os dois poderes apresentem novas regras que deem mais transparência na distribuição das emendas parlamentares, verbas que senadores e deputados têm direito de direcionar dentro do Orçamento da União – neste ano, cerca de R$ 50 bilhões, um quinto de tudo o que o governo pode gastar de forma livre.
Em agosto, o ministro Flávio Dino travou a liberação das emendas por falta de informações, em boa parte delas, sobre quais parlamentares indicavam, quanto e para que serviços e programas. Foi feito acordo para que os repasses fossem retomados, desde que com as informações de origem, destino e finalidade dos recursos – com prioridade para “obras estruturantes”, de abrangência regional ou inacabadas, como queria o governo.
Ainda nesta segunda (9), o ministro Gilmar Mendes vai mediar audiência de conciliação entre representantes de proprietários rurais e de indígenas para tentar um acordo sobre o marco temporal para demarcação de terras indígenas. O Congresso aprovou em lei o critério que havia sido extinguido pela Corte, que só permite a demarcação de terras que estavam ocupadas ou eram disputadas pelas tribos em 1988. O agro e a direita são a favor do marco temporal, enquanto governo e indígenas são contra.