Em meio a um grande esforço do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para conseguir ampliar a base governista na Câmara dos Deputados negociando até mesmo ministérios de aliados, o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, disse que troca farpas em “debates acalorados” com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
Ele ainda mencionou o que seria próximo a uma humilhação que os deputados impõem ao Senado e ao Poder Executivo durante as votações de projetos considerados prioritários para o governo, em que é preciso liberar bilhões de reais em emendas para fazer as propostas passarem.
“Não pensa você que está fácil. A Câmara está com um poder muito grande, e ela não pode usar esse poder para humilhar o Senado e o Executivo”, disse Haddad em entrevista ao podcast do jornalista Reinaldo Azevedo veiculada nesta segunda (14).
De acordo com o ministro, o Brasil vive uma “coisa estranhíssima que é um parlamentarismo sem primeiro-ministro”. Ele questionou o montante de R$ 40 bilhões em emendas destinadas aos parlamentares, de que “é [equivalente] a 0,4% do PIB (Produto Interno Bruto), onde no mundo tem isso”, comentou.
Apenas para aprovar a reforma tributária, no começo de julho, o governo liberou R$ 7,3 bilhões em emendas nas datas próximas à votação. Além das verbas, a articulação de Lula fez a mudança na Esplanada pedida pelo União Brasil, com a troca do comando do Ministério do Turismo, e vai abrigar deputados do PP e do Republicanos em pastas ainda a serem decididas.
A articulação toda, avançou Haddad, tem tido percalços no caminho das negociações com Arthur Lira. O presidente da Câmara dos Deputados tem aparecido ao lado de Lula em eventos oficiais.
“A gente só aparece sorrindo, mas às vezes… é de debates acalorados”, disse Haddad ressaltando que tem uma articulação diferenciada com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que considera “espetacular”.
Legislativo fez a transição
Ainda durante a entrevista em que reconheceu a dificuldade de negociação com Arthur Lira, Fernando Haddad disse que a transição do governo de Jair Bolsonaro (PL) para o de Lula foi tocada principalmente pelo Legislativo, que aprovou a PEC fura-teto, e pelo Judiciário.
“A transição não foi feita pelo Executivo. A transição foi feita pelo Legislativo e pelo Judiciário. Isso tem que ser valorizado. Recuperou-se um princípio de harmonia entre os Poderes”, afirmou.
No entanto, pouco depois, salientou que o poder na democracia é transitório, alfinetando que Lira deve deixar o comando da Câmara ao final de 2024 – mas, sem nominar o parlamentar.
“Sabe o que é bom na democracia? É que a pessoa não vai ter esse poder para sempre. A instituição pode até ter, mas você não sabe na mão de quem ela vai estar daqui a dois anos, daqui a quatro anos, daqui a 10 anos”, completou.
Pouco depois, no começo da tarde, o ministro Rui Costa, da Casa Civil, negou que qualquer conflito que esteja acontecendo nos bastidores da relação entre o governo e a Câmara dos Deputados.
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