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Apesar das críticas, presidente Jair Bolsonaro manteve a indicação de Kassio Nunes Marques para a vaga aberta no Supremo.
Apesar das críticas, presidente Jair Bolsonaro manteve a indicação de Kassio Nunes Marques para a vaga aberta no Supremo.| Foto: Carolina Antunes/PR

Apesar de ter sido amplamente criticada por bolsonaristas, a indicação do desembargador Kassio Nunes Marques para a vaga do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello não deve ter impactos negativos na base de apoio ao governo Jair Bolsonaro. Ao menos essa é a avaliação do próprio presidente junto a assessores palacianos e a ministros como o do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, e da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos.

Além disso, deputados bolsonaristas na Câmara tem defendido a manutenção do apoio político ao presidente, embora não concordem plenamente com a indicação. A projeção dos assessores palacianos é que se repita agora o que ocorreu quando houve o rompimento de Bolsonaro com o ex-ministro da Justiça Sergio Moro. Mesmo diante de várias críticas ao presidente dias após a cisão, a base de apoio a Bolsonaro se recompôs e hoje é considerada até mais substancial que naquele período.

A decisão de Bolsonaro de indicar Kassio Nunes Marques desagradou a sua base conservadora. Principalmente nas redes sociais. O desembargador nunca foi identificado com a agenda de costumes, votou para suspender uma decisão de primeira instância que determinava a deportação do terrorista italiano Cesare Battisti para a França e liberou a licitação do STF que previa a compra de lagostas e vinhos caros.

Além disso, pesa contra a sugestão de Bolsonaro o fato de ele ter chegado ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) pelas mãos da ex-presidente Dilma Rousseff e com a bênção de políticos como o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), e o ex-governador do Piauí Wilson Martins (PSB). Sua indicação ao Supremo é avalizada por parlamentares do Centrão, como o senador Ciro Nogueira (PP-PI), e pelo ministro do STF Gilmar Mendes.

Agora, militantes conservadores trabalham para pressionar o Senado a derrubar a indicação. Integrantes da Casa admitiram à Gazeta do Povo, porém, que provavelmente o nome de Kassio Nunes Marques será homologado sem maiores dificuldades. Existe até uma articulação envolvendo Palácio do Planalto e o Senado para que isso ocorra rapidamente. A sabatina de Kassio Nunes Marques deve ocorrer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado no próximo dia 14 ou 15.

“Lamento”, diz Bolsonaro sobre revolta de eleitores à indicação de Kassio Nunes Marques

Durante conversas com apoiadores na manhã desta sexta-feira (2), o presidente Jair Bolsonaro minimizou as consequências políticas da indicação do desembargador Kassio Nunes Marques. “Tem um pessoal que diz que me apoia, virando as costas, dizendo que não vota mais [em mim]. Não tem problema, lamento. É um direito dele”, disse o presidente que emendou. “Ou vocês confiam em mim, ou não confiam”.

Para parlamentares governistas e integrantes do Palácio do Planalto, a primeira metade do mandato do presidente Jair Bolsonaro mostrou que o “bolsonarista raiz” irá apoiar o chefe do Executivo mesmo diante de decisões controversas. E o episódio envolvendo o ex-ministro Sergio Moro foi fundamental para que o governo tivesse conhecimento sobre essa real base de apoio popular.

Na visão do Planalto, esse comportamento ocorre porque o chamado “bolsonarista raiz” confia no presidente e acredita em seu projeto de país. Além disso, para o Planalto, os acertos do governo superam eventuais equívocos do chefe do poder Executivo. “O bolsonarista raiz não abandona o presidente. Ele acredita nesse projeto e ele tem consciência de que são necessários anos para se reconstruir um país destruído pelo PT”, analisa, em caráter reservado, um importante assessor palaciano com acesso direto ao presidente da República.

Um outro fator visto como importante para se minimizar eventuais impactos de uma fuga de eleitores conservadores é o avanço que Bolsonaro tem feito em setores da sociedade que até o início do ano eram identificados ao PT e à esquerda. A concessão de benefícios como o auxílio emergencial e a possibilidade de transformar o Bolsa Família em um programa permanente são vistos pelo governo como uma oportunidade de consolidar a imagem de Bolsonaro junto à eleitores que antes eram identificados ao ex-presidente Lula.

O mestre em ciência política e vice-presidente e sócio da Arko Advice, Cristiano Noronha, confirma essa tese. Para ele, apesar de um ruído inicial na nomeação de Kassio Nunes Marques, é possível que a cisão na base popular do presidente seja pontual. “A base do bolsonarismo, desde o pagamento do auxílio emergencial, sofreu uma mudança significativa. Bolsonaro conseguiu fortalecer sua popularidade desde o pagamento do benefício. Por isso, essa indicação ao STF não deve ser capaz de causar sérios danos nessa relação do eleitor com ele”, ratificou Noronha.

Deputados demarcam território contra indicação, mas não retiram apoio a Bolsonaro

Os deputados mais fiéis ao presidente da República não esconderam a contrariedade pela indicação de Kassio Nunes Marques. Entretanto, essa contrariedade não será revertida em uma debandada desta base parlamentar.

Deputados como Carla Zambelli (PSL-SP) e Carlos Jordy (PSL-RJ) ratificaram seu apoio ao presidente inclusive como forma de responder críticas de seus eleitores. “Você pode até não gostar da indicação do presidente Jair Bolsonaro, mas daí dizer que não o apoia mais, isso é inconcebível. Conheço Bolsonaro há anos e já o vi muitas vezes fazer coisas que foram motivos de críticas e mais tarde percebemos que ele estava certo”, justificou Jordy pelas redes sociais.

“O nosso ministro dos sonhos era Sergio Moro, mas ele nos traiu. A responsabilidade de indicar um ministro do STF é do presidente da República e nunca retiraria meu apoio por causa disso. Se ele indicou, eu confio nele”, arrematou a deputada Alê Silva (PSL-MG).

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