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Arquivo: Senadores participam de sessão plenária no Senado. Na foto: esq/dir. senadores Delcídio Amaral e Romero Jucá, em 2015
Arquivo: Senadores participam de sessão plenária no Senado. Na foto: esq/dir. senadores Delcídio Amaral e Romero Jucá, em 2015| Foto: Wilson Dias/Agência Brasilia

Não é só o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Políticos que foram alvo de investigações da Operação Lava Jato estão se preparando para retornar à vida pública – ou, ao menos, às articulações em Brasília – após obterem decisões favoráveis na Justiça. Muitos deles são nomes bastante conhecidos, como o ex-senador Delcídio do Amaral, que chegou a ter o mandato cassado pelo Senado em 2016, e o ex-presidente do Senado Eunício Oliveira, citado em delações da Odebrecht.

Confira a seguir uma lista de seis políticos que estão motivados a usar as eleições de 2022 para voltar de vez à ativa.

Delcídio do Amaral virou presidente estadual do PTB

Delcídio do Amaral era líder do governo no Senado quando foi preso, em 2015, acusado de tentar dificultar as investigações da Lava Jato. A prisão foi autorizada pelo então relator da operação no Supremo Tribunal Federal, o ministro Teori Zavaski.

O ex-senador aparecia em uma gravação feita pelo filho de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, que na época negociava um acordo de colaboração com o Ministério Público Federal sobre uma suposta participação de Delcídio no contexto da aquisição de sondas pela Petrobras e da refinaria de Pasadena. No áudio, segundo o documento que ordenou sua prisão, Delcídio ofereceu dinheiro à família de Cerveró e prometeu interceder junto a ministros do STF, inclusive a Zavaski, em favor de sua liberdade e a fim de evitar o acordo.

Na época senador pelo PT, Delcídio teve seu mandato cassado em maio de 2016 por quebra de decoro parlamentar, pouco depois de ser solto e firmar um acordo de colaboração premiada que aprofundou a crise do governo da ex-presidente Dilma Rousseff.

Em 2018, Delcídio e outros seis réus deste processo que investigava obstrução de justiça – inclusive o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – foram absolvidos. Segundo o próprio ex-senador, as decisões da justiça provaram que ele não teve influência sobre as investigações da Lava Jato e que não conversou com ministros do Supremo sobre a libertação de Néstor Cerveró – que acabou firmando acordo com o MPF.

Delcídio ainda responde a um processo por corrupção e lavagem de dinheiro na 13ª Vara Federal de Curitiba, por suposto esquema de pagamento de propina a diretores da Petrobras. Em seu acordo de colaboração, Delcídio disse que usou o dinheiro da propina para pagar dívidas da campanha de 2006 ao governo do Mato Grosso do Sul. Esse processo foi devolvido à vara depois que o Tribunal Regional Eleitoral do Mato Grosso do Sul descartou crime eleitoral de caixa 2.

Já afastado do PT, Delcídio tentou um retorno à vida pública ainda em 2018, quando, de última hora, concorreu ao Senado pelo estado de Mato Grosso do Sul, onde vive. Pelo Partido Trabalhista Cristão (PTC), Delcídio fez quase 110 mil votos, mas não se elegeu.

No ano seguinte, o ex-senador se filiou ao PTB e atualmente é presidente da sigla em Mato Grosso do Sul. Em 2022, pretende disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados, pelo mesmo estado.

José Dirceu reassume papel de articulador de Lula

Outro expoente do PT que foi alvo da Lava Jato, José Dirceu ensaia o retorno à política. Não para um cargo público, mas como promotor da campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para as eleições de 2022. O ex-deputado está mais ativo em Brasília, participando de encontros com lideranças de outros partidos e entidades sindicais. Em artigos e entrevistas recentes, Dirceu minimizou a terceira via, criticou Bolsonaro e defendeu a candidatura de Lula para a presidência.

O ex-deputado foi condenado a mais de sete anos de prisão pelo esquema de compra de votos de parlamentares durante o governo Lula, que ficou conhecido como mensalão. Começou a cumprir a pena em novembro de 2013 e ficou na prisão até outubro do ano seguinte, quando passou para o regime de prisão domiciliar. Posteriormente, em 2016, após cumprir um quarto da pena, o ministro do STF Luis Roberto Barroso concedeu indulto ao ex-ministro de Lula.

Dirceu, porém, não se livrou da cadeia. Condenado a mais de 30 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro em processos da Lava Jato, ele foi detido novamente em 2015 (até 2017), em 2018 e em 2019. Dirceu foi solto porque os processos não transitaram em julgado, ou seja, ainda não foram apreciados pelas instâncias superiores.

Romero Jucá articula volta ao Senado

Outro ex-senador que quer voltar à ativa é Romero Jucá, presidente do MDB de Roraima. Jucá é acusado de receber, junto com outros políticos do partido no estado, R$ 1,3 milhão de uma empresa de engenharia para contratos com a Transpetro. De acordo com a acusação, os pagamentos ilícitos foram feitos por meio de doações eleitorais ao partido nas eleições de 2008, 2010 e 2012. O processo, que tramitava em Curitiba, foi transferido para a Justiça Federal em Brasília após decisão da Segunda Turma do STF, em setembro do ano passado.

Anos antes, o ex-procurador geral da República, Rodrigo Janot, chegou a pedir a prisão de Jucá quando ele era ministro do Planejamento, acusando-o de obstrução de justiça contra a Lava Jato. Este inquérito, porém, acabou sendo arquivado em 2017.

A carreira política de Jucá acabou sentindo o baque das denúncias. Em 2018, não conseguiu se reeleger senador, cargo que havia ocupado por três mandatos consecutivos. Ele, porém, não se afastou da política. Continuou como presidente do diretório do MDB em Roraima e, nas eleições de 2020, ajudou a eleger o correligionário Artur Henrique para a prefeitura de Boa Vista, capital de Roraima.

Jucá não anunciou sua pré-candidatura, mas uma breve passada por suas redes sociais mostra que o político está bastante ativo, fazendo viagens ao interior de Roraima, promovendo o partido, seus afilhados políticos e lembrando os recursos que levou ao estado quando era senador. Ao fazer seu discurso de vitória nas eleições para prefeito, ao lado de Jucá, Arthur Henrique mencionou que Jucá concorreria a uma vaga no Senado. À imprensa, aliados do ex-senador confirmaram a intenção.

Marconi Perillo: olho em uma vaga na Câmara

O ex-governador de Goiás pelo PSDB é outro que deve retornar aos palanques eleitorais em 2022.

Em 2018, pouco antes das eleições em que concorreu para o cargo de senador - e perdeu - Marconi Perillo foi alvo de uma operação batizada de “Cash Delivery”, um desdobramento da Lava Jato, cujas denúncias estavam baseadas em acordos de colaboração premiada de executivos da Odebrecht. Segundo os delatores, eles repassaram a Perillo R$ 10 milhões - R$2 milhões nas eleições de 2010 e R$ 8 milhões em 2014.

Após as eleições, em 10 de outubro, ele foi preso. Com um habeas corpus, ele ficou apenas um dia na prisão. O processo, porém, continua em tramitação. A denúncia foi arquivada pelo Tribunal Regional Eleitoral, mas foi aceita pela Justiça Federal de Goiás em setembro deste ano.

Para evitar uma derrota como a de 2018, em que ficou apenas em quinto lugar, Perillo anunciou que vai disputar mandato de deputado federal.

Eunício Oliveira estuda disputar cadeira no Congresso

O ex-senador Eunício Oliveira, do MDB, também foi investigado pela Lava Jato. O político cearense foi citado nas delações de executivos da empreiteira Odebrecht e por isso foi incluído em um inquérito autorizado pelo ministro do STF Edson Fachin, em 2017. Segundo a acusação, Eunício era suspeito de receber R$ 2 milhões da construtora para facilitar a aprovação de medidas provisórias e leis favoráveis aos interesses da empresa.

Em dezembro passado, porém, a Segunda Turma do STF decidiu arquivar as investigações, apesar do voto de Fachin e da ministra Cármen Lúcia para que elas continuassem. Ao votar pelo arquivamento do inquérito, o ministro Kassio Nunes Marques disse que a apuração “não conseguiu reunir um lastro probatório mínimo” contra Eunício.

O ex-presidente do Senado sentiu nas urnas o impacto de ser um alvo da Lava Jato: nas eleições de 2018, perdeu a corrida à Câmara Alta. Disse que iria “cuidar da vida pessoal”, mas continuou ativo e influente na política cearense. É presidente do diretório do MDB no estado, investiu (por doação de pessoa física) quase R$ 200 mil nas campanhas de oito candidatos a vereador em sua cidade natal, Lavras da Mangabeira, nas eleições de 2020 e disse, recentemente, que pretende voltar a disputar um cargo nas eleições de 2022.

"Tomei a decisão de entrar novamente no progresso político. Acho que ainda tenho muita energia, ainda tenho muitos relacionamentos em Brasília para ajudar o meu querido estado do Ceará", disse Eunício em setembro, durante convenção do MDB, segundo noticiou o jornal O Povo. Ele, porém, ainda não confirmou a qual cargo vai concorrer: governador do Ceará, senador ou deputado.

Fernando Pimentel: aliado de Dilma mira carreira parlamentar

As delações da Odebrecht também respingaram no ex-governador de Minas Gerais, o petista Fernando Pimentel. Em acordo de colaboração, o empresário Marcelo Odebrecht e outros delatores disseram que repassaram R$ 13,5 milhões a Pimentel para que ele atuasse em favor da empresa quando era ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, entre os anos 2011 e 2014, antes de ser eleito governador de Minas Gerais. As acusações foram relevadas em 2017. Pimentel disse que jamais recebeu qualquer valor ilícito ou benefício da Odebrecht.

Pimentel foi investigado no âmbito da operação Acrônimo, que averiguava supostos esquemas de lavagem de dinheiro para campanhas eleitorais, foi citado na delação do dono da JBS, Joesley Batista e também era suspeito de ter obstruído as investigações da Acrônimo. Nos dois últimos casos, os inquéritos abertos para apurar os casos foram arquivados.

O petista também teve outras vitórias judiciais. No ano passado, foi absolvido pelo TRE de Minas Gerais em um processo em que era suspeito de desviar dinheiro durante campanha eleitoral ao Senado, em 2010. Na mesma semana, a justiça determinou o arquivamento do processo, no âmbito da operação Acrônimo, em que a mulher de Pimentel, Carolina de Oliveira, era suspeita de lavar dinheiro de propina por meio de contratos com grandes empresas. Ao todo, foram sete inquéritos e uma ação arquivados.

Depois de ter ficado em terceiro lugar nas eleições para governador de Minas Gerais em 2018, o petista está apostando em voltar para a vida pública. Informações de bastidores que circulam pela imprensa dão conta de que Pimentel está se articulando para lançar sua candidatura a deputado federal nas eleições de 2022. Segundo apoiadores, as vitórias na Justiça o motivam a tentar o pleito.

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