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A deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP). Foto:Valter Campanato/Agência Brasil
Joice Hasselmann brigou com a família Bolsonaro e foi afastada da liderança do governo no Congresso.| Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

A intenção da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) em ser candidata a prefeita de São Paulo nas eleições de 2020 foi exposta pela própria parlamentar em diversas ocasiões. À diferença de políticos que costumam adotar um discurso mais cauteloso em torno de candidaturas – com frases como "depende do povo" e "será uma escolha do partido" –, Joice reitera explicitamente seu interesse, como fez recentemente em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, quando falou que quer ser eleita para evitar o retorno da esquerda ao comando da maior cidade do país.

A possibilidade de concorrer em São Paulo ganhou uma inusitada ideia concorrente após o deputado Junior Bozzella (PSL-SP) dizer que Joice pode ser a candidata do partido à sucessão de Jair Bolsonaro. “O presidente prometeu na campanha que não disputará a reeleição. A Joice, portanto, é o nome ideal. Ela é bolsonarista, mas não olavista [da ala ligada ao escritor Olavo de Carvalho]. É conservadora, mas moderada”, afirmou o parlamentar, em entrevista à Folha de S. Paulo.

Voos mais altos de Joice, por ora, são pouco promissores

O contexto atual, entretanto, é pouco promissor para Joice Hasselmann. Na atual disputa que marca o PSL, ela se colocou contra os filhos do presidente, em especial o também deputado federal Eduardo Bolsonaro, que é o comandante do partido em São Paulo. Ela deixou de ser a líder do governo no Congresso, função que exercia desde o início do mandato, e tem recebido duras críticas de outros membros de seu próprio partido.

Além disso, sofreu um baque após o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), indicar que o atual prefeito da capital paulista, Bruno Covas (PSDB), será seu candidato para 2020 – embora Covas agora tenha sido diagnosticado com câncer, o que pode eventualmente dificultar sua candidatura. Joice e Doria gostam de se apresentar como amigos e fizeram grande parceria durante o período eleitoral do ano passado.

Outro empecilho para a deputada na ideia de comandar São Paulo é o apresentador José Luiz Datena. Embora não filiado a partido político, Datena já flertou com candidaturas em outras ocasiões e teria a simpatia do presidente Bolsonaro para ser o seu nome para a prefeitura de São Paulo.

Novo presidente do PSL em São Paulo adota discurso conciliador. Mas…

Edson Salomão, que foi indicado para a presidência do PSL na cidade de São Paulo e ainda não assumiu o posto por "questões burocráticas", disse à Gazeta do Povo que o partido não tomou uma decisão sobre a candidatura ao comando da capital paulista. Segundo ele, o PSL deve executar um processo interno de seleção.

"Eu defendo a linha das prévias. Qualquer filiado ao partido que tenha condição de disputar deve apresentar seu nome, e aí os integrantes decidem quem deve ser o candidato", afirmou.

Além de Joice, segundo Salomão, outros pré-candidatos são os dos deputados estaduais Gil Diniz, o "Carteiro Reaça", e Janaina Paschoal – "embora ela costume dizer que não quer ser candidata".

Salomão considera "necessária" a candidatura do PSL em São Paulo por dois motivos. Um é por entender que a cidade precisa ter um comando alinhado com a Presidência da República. E o outro é o de tirar o atual mandatário da cidade, Bruno Covas, do poder: "Ele é um zero à esquerda, um péssimo gestor. Pior do que o Haddad [Fernando, do PT, ex-prefeito da cidade entre 2013 e 2016]".

Salomão é vinculado ao grupo Movimento Conservador, de ativismo nas ruas e também nas redes sociais, anteriormente conhecido como Direita São Paulo. Apesar da fala conciliadora de Salomão, a página do Movimento Conservador no Facebook tem reunido, nos últimos dias, ataques a Joice Hasselmann.

No dia 18, um banner com a foto de Joice e os dizeres "Olha a traidora!" deu o tom da ótica do grupo sobre a parlamentar. A motivação para a crítica era a declaração da deputada de que os Bolsonaro comandariam "milícias virtuais".

Joice fora também chamada de traidora, ao lado de outros 25 deputados do PSL, em publicação do dia anterior, que exibiu os apoiadores de Eduardo e de Delegado Waldir na disputa pela liderança do PSL. Já no dia 21, a página postou uma imagem que reúne fotos de Joice com políticos como Davi Alcolumbre (DEM-AP), Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o governador João Doria (PSDB), tratados pelos bolsonaristas como adversários, e a palavra "articuladora", numa ironia à atuação parlamentar da deputada.

O futuro presidente do PSL paulistano não faz críticas abertas a Joice, mas se diz "totalmente alinhado à família Bolsonaro" em meio à disputa nacional do partido. "Acho incabível essa ideia de expulsão do Eduardo do partido. Vai expulsar uma pessoa porque ela pediu mais transparência no PSL?", questionou.

Desafios eleitorais de Joice Hasselmann

Pesquisa XP/Ipespe divulgada no início de outubro apontou um empate técnico entre José Luiz Datena e Celso Russomanno (Republicanos) na liderança das intenções de voto para a prefeitura de São Paulo. O apresentador somou 22%, contra 19% do deputado. A ex-senadora Marta Suplicy (sem partido) e o ex-governador Márcio França (PSB) somaram 11 pontos. O atual prefeito Bruno Covas teve 10%. Joice ficou com 7%.

A um ano da eleição e com um histórico de reviravoltas, o desfecho da eleição paulistana é difícil de prever no atual momento. Por exemplo, em 2012 e 2016, Russomanno começou as disputas na frente, mas acabou em terceiro lugar nas duas eleições.

Em 2018, Joice Hasselmann somou 289.404 votos na cidade de São Paulo e foi o segundo nome mais escolhido pelos eleitores entre os candidatos à Câmara. Ficou atrás apenas de seu atual desafeto Eduardo Bolsonaro.

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