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O ex-advogado da Odebrecht Rodrigo Tacla Duran, apontado na operação Lava Jato como um dos operadores do esquema de corrupção envolvendo a empreiteira, voltou a afirmar nesta segunda-feira (27) que foi alvo de uma tentativa de extorsão para que não fosse preso durante um desdobramento da Lava Jato. O advogado sugeriu o envolvimento do senador Sergio Moro (União Brasil-PR), ex-juiz da Lava Jato, e do deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR), ex-coordenador da força-tarefa da operação no suposto crime.
A declaração foi feita em audiência conduzida pelo juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Eduardo Appio, atual responsável pelos processos da Lava Jato. Como a acusação feita pelo advogado envolve parlamentares, Appio determinou que o caso fosse enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF). Cabe à Corte analisar ações envolvendo pessoas com foro privilegiado.
Para o procurador Walter José Mathias Júnior, que representou o Ministério Público Federal (MPF) na audiência, Duran não apresentou novas provas ou fatos novos que fundamentem as denúncias apresentadas. “No meu entendimento, a denúncia que ele fez contra o senador e o deputado é infundada e impertinente, sem nenhum tipo de prova. É apenas a versão dele e nada mais. Segundo ele disse, apresentará provas futuramente, mas nada apresentou até o momento e já teve várias oportunidades para isso”, afirma Mathias Júnior.
Além de Deltan e Moro, Tacla Duran também citou o advogado Carlos Zucolotto Junior, ex-sócio da deputada Rosangela Moro (União Brasil-SP), e Fabio Aguayo, presidente da Federação Paranaense de Turismo (Feturismo), a quem chamou de “cabo eleitoral de Moro”.
"Diante da notícia crime de extorsão, em tese, pelo interrogado, envolvendo parlamentares com prerrogativa de foro, ou seja, deputado Deltan Dallagnol e o senador Sergio Moro, bem como as pessoas do advogado Zocolotto e do dito cabo eleitoral Fabio Aguayo, encerro a presente audiência para evitar futuro impedimento, sendo certa a competência exclusiva do Supremo Tribunal Federal, na pessoa do Excelentíssimo Senhor Ministro Ricardo Lewandowski, juiz natural do feito, porque prevento, já tendo despachado nos presentes autos", disse o juiz no termo do interrogatório.
"A partir de agora, eu me desligo desse processo, porque há uma menção a pessoas com foro privilegiado, no caso o tanto do senador Sergio Moro quanto do deputado federal Deltan Dallagnol… Então, agora quem conduz essa questão é a Polícia Federal", disse Appio.
Durante o depoimento desta segunda, Duran encaminhou áudios e fotos para o juiz que poderiam, segundo ele, comprovar as tentativas de extorsão. “O que estava acontecendo não era um processo normal, era um bullying processual, onde me fizeram ser processado pelo mesmo fato em cinco países, por uma simples questão de vingança, por eu não ter aceito ser extorquido”, disse. Questionado pelo juiz se estaria negociando uma delação premiada, Tacla Duran negou.
Para procurador do MPF, não há provas que fundamentem as denúncias
À Gazeta do Povo, o procurador Walter José Mathias Júnior, que representou o MPF na audiência, disse que ao trazer a denúncia, Duran não trouxe elementos, provas ou fatos novos que fundamentassem as acusações. “O Tacla Duran anteriormente chegou a fazer tratativas de uma colaboração premiada que não foi à frente, porque se viu que ele não tinha elementos de prova do que se referia na época. Agora o caso vai ser remetido à Polícia Federal e à Procuradoria-Geral da República. Mas é um assunto requentado, que teve um arquivamento no passado e que se ele não trouxer fatos novos se manterá o arquivamento”, prossegue o procurador.
"Alguém que busca fazer sua defesa por meio de colaboração premiada é porque pretende reconhecer condutas criminosas que cometeu e apresentar provas contra outros agentes. As tratativas da colaboração pretendida por Tacla Duran em seu benefício não avançaram por ausência de elementos de corroboração por ele trazidos. Agora, passados vários anos, é improvável que tenha esses elementos que poderiam ter lhe beneficiado no passado”, finaliza o membro do MPF.
Quem é Tacla Duran
O advogado foi apontado pelos procuradores da Lava Jato como “um grande operador” do esquema de corrupção, acusado de lavagem de dinheiro. Em 2016, ele teve a prisão preventiva decretada por Moro, chegou a ser preso na Espanha, mas acabou liberado e não foi extraditado por ter dupla cidadania.
Até este mês, Tacla Duran era considerado foragido da justiça brasileira. No último dia 16, entretanto, Appio revogou o pedido de prisão preventiva contra ele. A decisão ocorreu com base em uma determinação de Lewandowski, que suspendeu cinco processos da Lava Jato que utilizaram provas concedidas por delatores da Odebrecht.
Desde 2017, Duran faz acusações contra Moro e Zucolotto, sem até o momento ter apresentado elementos que comprovem as denúncias. Ele alega que teria recebido uma proposta de Zucolotto para obter vantagens em uma delação premiada, posteriormente frustrada, com a força-tarefa em 2016. Entre elas, uma suposta redução no valor da multa delatória. Segundo Duran, o acordo previa o pagamento de US$ 5 milhões em troca de benefícios no acordo de colaboração.
Moro cita "uso político de calúnias" e destaca ausência de provas
Em nota enviada à Gazeta do Povo, Moro afirmou que “não teme qualquer investigação, mas lamenta o uso político de calúnias feitas por criminoso confesso e destituído de credibilidade”.
“Trata-se de uma pessoa que, após inicialmente negar, confessou depois lavar profissionalmente dinheiro para a Odebrecht e teve a prisão preventiva decretada na Lava Jato. Desde 2017 faz acusações falsas, sem qualquer prova, salvo as que ele mesmo fabricou. Tenta desde 2020 fazer delação premiada junto à Procuradoria Geral da República, sem sucesso. Por ausência de provas, o procedimento na PGR foi arquivado em 9/6/22”, disse o ex-juiz.
Deltan chama juiz de "lulista" e diz que audiência é "cortina de fumaça"
O ex-coordenador da força-tarefa da Lava Jato e agora deputado federal, Deltan Dallagnol (Podemos-PR), criticou a realização da audiência por Appio. O parlamentar chamou o juiz de "lulista" e "midiático" em uma série de postagens no Twitter.
"Adivinha quem acreditou num dos acusados que mais tentou enganar autoridades na Lava Jato? Ele mesmo, o juiz lulista e midiático Eduardo Appio (mais conhecido como LUL22), que nem disfarça a tentativa de retaliar contra quem, ao contrário dele, lutou contra a corrupção", diz Deltan.
Ele faz referência a notícia de que Appio teria adotado a sigla "LUL22" como identificação eletrônica no sistema da Justiça do Paraná, o E-proc, entre 2021 e o início deste ano. O deputado se refere a Tacla Duran como um "mentiroso compulsivo, criminoso confesso e lavador de dinheiro profissional". Para Deltan, a audiência é um "cortina de fumaça" para "desviar o foco dos erros do governo".
"A verdade é que tanto o governo quanto a militância estão até hoje sem direção depois dos desastres políticos e de comunicação criados por Lula na semana passada, e por isso tentam criar cortinas de fumaça pra desviar o foco dos erros do governo, que eles não conseguem explicar", afirmou.