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Assunto Capital

“Lula vai ser chamado de genocida?”, questiona Damares Alves sobre crise yanomami

"Não pude entrar na área ianomâmi, as ONGs não deixavam", disse Damares sobre a terra indígena (Foto: Gazeta do Povo)

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A senadora e ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves (Republicanos-DF) rebateu, em entrevista ao programa Assunto Capital, da Gazeta do Povo, as acusações de que ela e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) seriam os responsáveis pelas mortes de indígenas yanomamis, reveladas em janeiro de 2023.

“Eu assumi [o mandato no Senado, em fevereiro de 2023] sob o manto de ser genocida e assassina. E aquilo para mim foi muito doloroso, porque eu trabalho com crianças indígenas. Eu já não era ministra há um ano, porque deixei de ser ministra em março de 2022. E detalhe: a política indígena não era minha”, disse, lembrando que, ainda no início do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, em 2019, a Funai foi transferida, pelo Congresso, da pasta dos Direitos Humanos para o Ministério da Justiça, então sob o comando do senador Sergio Moro (União Brasil-PR).

“Então, eu não podia me envolver na política indígena porque eu tinha limite institucional. Não posso me meter na pasta do colega. Então, eu não cuidei da política indígena. Pelo contrário: eu não pude entrar na área yanomami, as ONGs não deixavam a ministra de Direitos Humanos entrar”, queixou-se. “Mas na hora que estouram aquelas imagens, quem era a culpada? A bolsonarista e o Bolsonaro. Eu entrava no avião e as pessoas me chamavam de assassina”, disse a senadora na entrevista ao Assunto Capital (veja abaixo).

No início do ano passado, já sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Ministério da Saúde divulgou imagens de crianças yanomamis em estado grave de saúde, com desnutrição e malária. A pasta decretou emergência de saúde pública e o presidente criou um comitê para prestar atendimento à população da reserva indígena. Em fevereiro, após visitar a região, Lula falou em “genocídio cometido contra o povo yanomami” e que era preciso retirar garimpeiros que estavam “assassinando crianças, destruindo florestas e envenenando rios e peixes com mercúrio”.

Dados preliminares e parciais, divulgados na ocasião, apontavam a morte de ao menos 1.049 indígenas nos quatro anos anteriores (259 em 2019, 332 em 2020, 249 em 2021 e 209 em 2022). No início de janeiro deste ano, o Ministério da Saúde atualizou os números, dando conta de que em 2022 morreram 343 indivíduos e em 2023, 308. Novamente, a crise humanitária chamou a atenção pela persistência dos problemas na região, que incluem falta de assistência à saúde, permanência de atividades ilegais de garimpo, isolamento dos povos. Novas imagens de bebês e crianças debilitadas por desnutrição foram publicadas na imprensa.

“Será que o ministro Sílvio [Almeida, dos Direitos Humanos] vai ser chamado de genocida? A ministra Sônia [Guajajara] vai ser chamada de genocida? O presidente Lula vai ser chamado de genocida? Usaram imagens de crianças magrinhas, machucaram a alma do Bolsonaro, a alma da Damares, nos acusaram para o mundo. E eles precisavam prender a Damares, sabe por quê? Eles tinham que entregar uma resposta para o mundo: ‘pegamos a culpada’. Só que não tem evidência nenhuma de que eu era culpada de uma desnutrição crônica que afeta a área”, afirmou a ex-ministra.

Na entrevista, Damares se emocionou e disse que sua filha adotiva, que é indígena, recebia mensagens de celular de colegas acusando-a de matar índios. “Sabe o que é olhar nos olhos de minha filha e dizer: ‘é mentira’? A esquerda é cruel. Quando falo que são vingativos... Eles queriam me prender, não conseguiram, queriam interromper minha posse”, disse, acrescentando que três meses após a posse, o Conselho de Ética recusou sua cassação; uma comissão no Senado concluiu que ela e Bolsonaro não eram responsáveis.

Damares disse que o governo divulgou as imagens de crianças desnutridas, no ano passado, “para convencer o mundo que nós precisamos do dinheiro do Fundo Amazônia, para dizer que a gente precisava derrubar o marco temporal, era para atrair a atenção do mundo, a esquerda não faz nada por acaso. E eles conseguiram muito dinheiro... Cadê o dinheiro?”, questionou.

Segundo Damares, Bolsonaro queria resolver o problema, mas a pandemia e ONGs impediam uma ação efetiva. “Mas teve um período em que não podíamos entrar, porque dois anos de pandemia não pôde entrar ninguém para não levar doença para os yanomami, e as ONGs de esquerda mandando em tudo aquilo”, criticou a senadora.

Para ela, o problema está na política de isolamento. “Por que nosso indígena tem que ficar pelado no mato com uma pena na cabeça? Por que não podemos conversar com essas comunidades? Por que não podem ter cidades sustentáveis? O índio é nômade porque tem de andar atrás da caça. ‘Ah, eles adoram andar na floresta’. Será que é isso mesmo?”, disse. “Que eles vivam a cultura, mas que vivam de uma forma mais decente. Por que jogá-los no mato e dizer que eles querem viver como bicho? A gente precisa rever essa hipocrisia, de largar o índio isolado no mato, porque nós temos que ter um grande zoológico humano para mostrar para o mundo que nós preservamos a cultura”, afirmou.

Na Terra Indígena Yanomami, vivem cerca de 28 mil indígenas, em mais de 300 aldeias, numa área de 10 milhões de hectares, na divisa entre Amazonas e Roraima, na Amazônia.

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