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Prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella
Prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella| Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos), de 63 anos, foi preso em casa, na Barra da Tijuca, por volta das 6 horas desta terça-feira (22), em uma operação conjunta da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ). Ele é acusado de liderar um suposto esquema de propina na prefeitura em um desdobramento da Operação Hades.

A prisão preventiva foi autorizada pela desembargadora Rosa Helena Penna Macedo Guita, do Tribunal de Justiça do Rio, que determinou ainda o afastamento de Crivella do cargo de prefeito a nove dias do fim do mandato dele. Ex-senador e bispo licenciado da Igreja Universal do reino de Deus, Crivella foi denunciado pelo MP por três crimes: lavagem de dinheiro, corrupção e participação em organização criminosa

Ao ser preso, Marcelo Crivella se disse "vítima de uma perseguição política" e afirmou ter sido o prefeito que "mais combateu a corrupção" — uma das bandeiras prioritárias no segundo turno da eleição municipal. "Lutei contra o pedágio ilegal, tirei recursos do carnaval, negociei o VLT, fui o governo que mais atuou contra a corrupção no Rio de Janeiro", disse ele, ao chegar à Cidade da Polícia, no bairro do Jacarezinho, na zona norte do Rio, em rápida coletiva.

Além do prefeito Marcelo Crivella, também foram presos o empresário Rafael Alves, o delegado aposentado Fernando Moraes e o tesoureiro da campanha de Crivella, Mauro Macedo. O ex-senador Eduardo Lopes, que herdou a vaga de Crivella no Senado, e foi secretário de Pecuária, Pesca e Abastecimento do governador afastado Wilson Witzel (PSC), também é alvo da operação. No entanto, ele não foi localizado.

Segundo o MP do Rio, Alves receberia propina de empresas para, em troca, facilitar a assinatura de contratos e o pagamento de dívidas no Executivo municipal. Ele é irmão de Marcelo Alves, que foi presidente da Riotur. Os desvios seriam operados por um suposto "QG da Propina".

Na decisão que autorizou a prisão preventiva de Crivella, a desembargadora Rosa Helena Penna Macedo Guita afirma que o mandatário não só consentia com o suposto esquema de propina, como também participava dele. Para o Ministério Público, o prefeito é o chefe da organização criminosa instalada no Executivo carioca.

“(...) não só anuía com os esquemas criminosos, mas deles também participava, chegando, inclusive, a assinar pessoalmente documentos a fim de viabilizar os negócios do grupo criminoso”, escreveu a magistrada do Tribunal de Justiça do Rio.

A desembargadora também acatou o pedido de afastamento de Crivella do cargo, solicitado pelo MP. "A necessidade da medida em desfavor do atual Prefeito emerge de toda a narrativa até aqui expendida, pois é cediço que, mesmo no cárcere, poderá o Sr. Prefeito continuar despachando e liberando os últimos pagamentos ilícitos aos seus comparsas, terminando, por assim dizer, de limpar os cofres públicos", escreveu.

Crivella já tinha sido alvo de busca e apreensão em setembro, às vésperas do período eleitoral. Essa operação foi central para acelerar o processo e resultar na prisão do prefeito. Uma das justificativas para a detenção preventiva, segundo a desembargadora, é que Crivella entregou um celular que não era seu aos agentes que cumpriram mandado na sua casa.

A farsa, identificada pelo MP após analisar dados do aparelho, foi classificada como uma forma de tentar atrapalhar as investigações.  "Esse tipo de conduta, aliás, parece ser uma prática constante entre os membros da organização criminosa", ressaltou Rosa Helena.

Crivella, que perdeu a disputa pela reeleição na eleição 2020 para Eduardo Paes (DEM-RJ), deixa o cargo em 31 de dezembro. Com Marcelo Crivella preso e afastado, o primeiro na linha sucessória da prefeitura é o presidente da Câmara de Vereadores do Rio, Jorge Felippe (DEM), uma vez que o vice na chapa vencedora em 2016, Fernando Mac Dowell, faleceu em 2018 vítima de um enfarte.

Marcelo Crivella foi preso após delação premiada de investigados

Depois da operação de setembro, quatro citados na investigação resolveram procurar o MP para colaborar com as apurações. Foram eles: João Alberto Felippo Barreto, Ricardo Siqueira Rodrigues, Carlos Eduardo Rocha Leão e João Carlos Gonçalves Regado. Os depoimentos dos envolvidos são tidos como centrais para embasar as suspeitas iniciais levantadas pelo Grupo de Atribuição Originária Criminal (Gaocrim).

Ricardo Rodrigues chegou a dizer que o famoso empresário Arthur Soares, o “Rei Arthur” — citado em esquemas de corrupção atribuídos ao ex-governador Sérgio Cabral — foi quem o apresentou a Rafael Alves, apontado como o suposto operador das propinas da prefeitura.

Crivella teria sido requisitado para participar pessoalmente desses encontros. Mas, segundo as investigações, quem o representou foi seu ex-suplente no Senado, Eduardo Lopes (Republicanos), também alvo de pedido de prisão. Rodrigues disse ainda que seu grupo chegou a adiantar R$ 1 milhão em propina antes do então senador assumir o cargo de prefeito, apesar de ter sido pressionado a desembolsar o dobro. Segundo a desembargadora, o depoimento é comprovado por meio de outras provas elencadas pelo MP, como a troca de mensagens entre os investigados.

Em uma das empresas citadas na investigação e beneficiária do esquema, a Mktplus, Crivella teria “abdicado de sua usual cautela” e tratado pessoalmente dos créditos que ela receberia após o pagamento de propina, de acordo com a decisão da Justiça. O prefeito teria pressionado seu então secretário de Casa Civil, Paulo Messina, a efetuá-los.

"Observe-se que, ao longo de sua narrativa, o Ministério Público ilustra todos os fatos criminosos imputados com imagens das provas que os embasam, extraídas de conversas por meio de aplicativos e trocas de e-mails, contratos, editais, planilhas, notas fiscais, comprovantes de depósito, cheques, fotografias, telas de computador, QR Code de vídeos", escreveu a desembargadora.

"No caso dos autos, conforme bem delineado pelo Ministério Público na peça inicial acusatória, o prefeito não só tinha conhecimento, mas também autorizava a prática de tais crimes e deles se locupletava."  Ao todo, 26 investigados foram denunciados. Presos, contudo, apenas nove: Crivella, Rafael Alves, Eduardo Lopes, Mauro Macedo, Licinio Soares Bastos, Christiano Borges Stockler Campos, Madgiel Unglaub, José Fernando Moraes Alves e Adenor Gonçalves. Os presos passarão por audiência de custódia às 15h deste terça com a mesma desembargadora que autorizou as medidas cautelares.

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