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Militares ficaram perplexos com declarações de Sergio Moro durante seu pedido de demissão do governo Bolsonaro
Militares ficaram perplexos com declarações de Sergio Moro durante seu pedido de demissão do governo Bolsonaro| Foto: Alexandre Manfrim/Ministério da Defesa

Os militares vêm atuando como “bombeiros” no governo de Jair Bolsonaro há tempos. Geralmente cabe aos generais tentar contornar situações de conflitos que ocorrem dentro da administração. Não foi diferente com a relação entre o presidente e o agora ex-ministro Sergio Moro. Mas, a avaliação de muitos militares – integrantes da gestão ou não – é de que a saída de Moro fragiliza ainda mais o presidente, principalmente pelo teor das declarações feitas pelo ex-juiz da Lava Jato, que afirmou que Bolsonaro queria intervir na Polícia Federal.

Ao jornal Estado de S.Paulo, oficiais-generais se disseram “perplexos” com as revelações de Moro e avaliam que será difícil para o governo Bolsonaro se levantar após a demissão do ministro, porque não há mais como recuperar seu capital político. Entre os comentários coletados pela reportagem, havia o de que Bolsonaro virou um “zumbi” no Palácio do Planalto e que “tudo tem limite”.

À Folha de S. Paulo, assessores militares do Bolsonaro tiveram reações de surpresa e chegaram a declarar de que o discurso contundente de Moro marcava “o fim de muitas ilusões, inclusive as nossas”.

Figura mais popular e influente no setor militar, o general da reserva Eduardo Villas Bôas disse que se "identificou" com Moro. Ele rasgou elogios a Moro e evitou comentar sobre a situação política do governo. "Está muito cedo para avaliar as consequências", ressaltou. "Por enquanto, eu só tenho a lamentar do ponto de vista pessoal."

O ex-comandante do Exército lembrou que, na assessoria no Palácio do Planalto no início do governo, pode conhecer o ex-juiz da Lava Jato. "Trata-se de uma pessoa que fez história, com base nos princípios éticos, com quem eu me identificava e tinha a honra de desfrutar da amizade", afirmou Villas Bôas.

Como a quase totalidade da cúpula das Forças Armadas, Villas Bôas nunca escondeu a admiração pelo ex-juiz da Lava Jato. As declarações do general, por sua vez, sempre tiveram forte impacto na área militar. As palavras comedidas costumam indicar rumos no setor. É tanto que, no final de março, o presidente Jair Bolsonaro foi à casa do general, no Setor Militar Urbano, em Brasília, para pedir indiretamente apoio público.

Ex-integrante do governo Bolsonaro, o general Santos Cruz usou o Twitter para se manifestar sobre a demissão de Moro. Embora não tenha feito menção a Bolsonaro, destacou a importância da "PF autônoma e sem interferência política nas investigações".

Relação desgastada com militares

A relação entre Bolsonaro e o meio militar vinha passando por um desgaste. No último domingo (19), o presidente comemorou o dia do Exército em um ato realizado em frente ao quartel-general das Forças Armadas, em Brasília. A maioria dos manifestantes estava lá para mostrar apoio ao governo, mas muitos também pediam intervenção militar, a reedição do AI-5 (a medida mais incisiva da ditadura que governou o Brasil entre 1964 e 1985) e o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF). A presença de Bolsonaro na atividade motivou críticas variadas.

A conduta gerou ainda questionamentos dentro e fora das Forças Armadas. Nenhum militar fala, abertamente, sobre a possibilidade de uma intervenção — todas as manifestações públicas são em sentido oposto, de rejeição a um "autogolpe". O próprio Bolsonaro descartou a ideia no dia seguinte, quando disse a um apoiador que defende Congresso e STF "abertos e transparentes". A mudança de tom foi, mais uma vez, creditada aos militares, que teriam desaconselhado, em vão, a presença do presidente na manifestação de domingo.

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