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O ex-ministro Sergio Moro
O ex-ministro Sergio Moro| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O ex-ministro Sergio Moro afirmou que o Brasil passa por retrocessos no combate à corrupção e que a "janela de oportunidades" no setor que foi aberta com a operação Lava Jato está sendo desperdiçada. Ele também declarou não se arrepender das atitudes que tomou enquanto atuou como juiz nos casos relacionados à operação, quando conduziu a 13ª Vara de Curitiba.

Moro disse que o Brasil passava por um momento de transformação, "com reconhecimento internacional". Ele fez um comparativo com o combate à inflação: segundo ele, a virada que o país deu no campo econômico, com o Plano Real, durante a década de 1990, poderia também ser promovida no segmento da redução da corrupção, na esteira das ações da Lava Jato. "Infelizmente, não vejo essa agenda em Brasília hoje", declarou o ministro. Como exemplo de uma dessas bandeiras que foi deixada de lado, ele mencionou a prisão dos condenados em segunda instância.

As declarações foram dadas em uma live que o ex-ministro participou neste domingo (28). O encontro foi promovido pelo grupo Parlatório, que reúne economistas, operadores do mercado financeiro e CEOs de grandes empresas. Participaram da reunião outros expoentes do meio político, como os ex-presidentes Michel Temer e Fernando Henrique Cardoso e o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta.

Moro disse que as críticas que a Lava Jato recebe por supostos "excessos" são feitas de forma abstrata. Segundo o ex-ministro, a operação pode ter cometido erros, "mas de forma mal-intencionada? Jamais". Como exemplo, o ex-juiz citou o caso da condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ocorrida em 2016. O episódio foi determinante para que Moro fosse considerado, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), suspeito no caso do petista. Segundo Moro, o procedimento seguiu o padrão da época. Ele disse, ainda, que tomou medidas que considerou favoráveis a Lula, como evitar que a então esposa do presidente, Marisa Letícia, fosse também submetida à condução coercitiva, e que o procedimento fosse realizado em uma delegacia de polícia convencional. Lula foi ouvido pela polícia no Aeroporto de Congonhas.

O ex-ministro disse também considerar "uma grande bobagem" as acusações que a Lava Jato promoveria uma "criminalização da política". Para ele, a "criminalização" foi feita sobre quem pagou ou recebeu suborno, e uma das evidências que é falha a ideia de "criminalização da política" seria o fato de que a Lava Jato condenou representantes de diferentes partidos.

Moro falou também que o Brasil precisa de "exemplos" para estimular o combate à corrupção. Ao responder uma pergunta formulada pelo também ex-ministro Mandetta, lembrou que ambos se desligaram do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em um intervalo próximo. Moro evitou ataques a Bolsonaro, mas disse que Mandetta era um "bom exemplo" por ter deixado o cargo público "motivado por princípios".

O ex-juiz afirmou ainda que aceitou o convite de Bolsonaro para ser ministro por entender que poderia desenvolver um projeto de combate à corrupção e ao crime organizado e que saiu quando entendeu que isso não seria possível. Moro pediu para sair do governo em abril do ano passado, acusando Bolsonaro de interferência no trabalho da Polícia Federal.

Setor privado

Na conversa com o grupo, Moro falou também que seu foco atual está na atividade que desempenha no setor privado. Desde novembro, o ex-ministro integra a equipe da consultoria americana Alvarez & Marsal.

Ele disse que vê no setor privado a oportunidade não apenas de "ganhar a vida", mas também de instituir políticas de combate à corrupção no segmento.

O ex-juiz falou sobre o tema após ser questionado sobre um eventual retorno à vida pública. Outro participante sugeriu a Moro uma candidatura presidencial na disputa eleitoral do próximo ano. Moro não é filiado a partido político e costuma negar o interesse em concorrer a cargos públicos, mas seu nome é habitualmente analisado em pesquisas de intenção de voto, e com desempenho satisfatório.

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