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O ex-deputado estadual Flávio Bolsonaro e o assessor do seu gabinete Fabrício Queiroz: suspeita de “rachadinha” na Assembleia Legislativa do Rio.
Ex-deputado estadual Flávio Bolsonaro e o assessor do seu gabinete Fabrício Queiroz: suspeita de “rachadinha” na Assembleia Legislativa do Rio.| Foto: Reprodução Instagram

As investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro apontam que o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) era o "líder" de uma organização criminosa que operava o esquema da "rachadinha" no gabinete da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), entre 2007 e 2018, e que levou à prisão de Fabrício Queiroz nesta quinta-feira (18). Essas informações também constam na decisão da Justiça que determinou a prisão de Queiroz.

Os investigadores veem "evidências contundentes" de que Queiroz, preso com a suspeita de peculato e organização criminosa, arrecadava valores desviados da Alerj e transferia parte do dinheiro "ao patrimônio familiar do líder do grupo, o então deputado estadual Flavio Nantes Bolsonaro".

Os promotores identificaram um depósito no valor de R$ 25 mil de Queiroz para Fernanda Bolsonaro, esposa de Flávio, em 2011. O ex-assessor parlamentar e PM da reserva pagou, também, pelo menos dois boletos relativos às mensalidades escolares das filhas de Flávio, no valor de R$ 3.382 e R$ 3.560.

O MP investiga também outras despesas do casal como R$ 153 mil de mensalidades escolares das filhas e R$ 108 mil do plano de saúde familiar, este pago "com dinheiro em espécie de origem alheia aos rendimentos lícitos do casal".

Entre abril de 2007 e dezembro de 2018, enquanto estava lotado no gabinete de Flávio Bolsonaro, Queiroz teria realizado centenas de transferências, totalizando o valor de R$ 2 milhões. Outros R$ 900 mil, que transitaram nas contas dele, têm procedência não identificada. Ele exibia um padrão de vida acima de seus rendimentos, de acordo com o MP.

Nesta quinta, Flávio Bolsonaro afirmou no Twitter encarar "com tranquilidade os acontecimentos" e que a investigação é mais uma peça no tabuleiro para atacar Bolsonaro. "Em 16 anos como deputado no Rio nunca houve uma vírgula contra mim. Bastou o Presidente Bolsonaro se eleger para mudar tudo! O jogo é bruto!", escreveu.

A reportagem da Gazeta do Povo entrou em contato com a defesa de Fabrício Queiroz, que não quis se manifestar.

Escondido em Atibaia, na casa do advogado de Bolsonaro

Apesar de nunca ter sido considerado foragido pela Justiça, o MP afirma que Queiroz vivia escondido no sítio Sonho Meu, em Atibaia, de propriedade do advogado de Jair e Flávio Bolsonaro, Frederick Wassef.

Queiroz tinha uma "complexa rotina de ocultação do paradeiro" que era "articulada por uma pessoa com notório poder de mando, sob o codinome Anjo", identificado como Wassef.

Para despistar a localização, Queiroz e a esposa Márcia Oliveira de Aguiar, que também teve prisão preventiva decretada nesta quinta e está foragida, desligavam os celulares toda vez que chegavam a Atibaia. Em conversas grampeadas, Márcia também manifestou a intenção de se esconder caso tivesse a prisão decretada.

Em outro diálogo, Queiroz explica para a esposa que Wassef tinha a intenção de escondê-los em São Paulo, caso o julgamento do Supremo Tribunal Federal sobre o uso de relatórios do antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) em investigações criminais não tivesse desfecho favorável.

O casal recebia dinheiro de origem desconhecida para se manter. Pelo menos R$ 174 mil em espécie foram usados para pagar as despesas do tratamento do câncer ao qual Queiroz foi submetido no hospital Albert Einstein em São Paulo.

Do sítio, onde Queiroz ficou escondido no último ano segundo relato feito pelo caseiro aos policiais, ele inclusive tentou atrapalhar as investigações. O faz-tudo informou ao MP um endereço de domicílio errado e se articulou para que testemunhas não comparecessem para prestar depoimento aos promotores sobre o esquema da "rachadinha".

Influência sobre os milicianos

Queiroz mantinha uma relação também com o ex-capitão do Bope e miliciano carioca Adriano Magalhães da Nóbrega e sua mãe Raimunda Veras Magalhães, que também estava lotada no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj. Ela seria uma dos servidores fantasmas que repassavam parte de seus salários para Queiroz e Flávio.

O MP estima que Adriano, morto em fevereiro num conflito armado enquanto estava foragido e escondido num sítio na Bahia, "possa ter transferido mais de R$ 400 mil para as contas de Fabricio Queiroz". A comunicação entre os dois era feita por intermediação de Raimunda e do advogado Luis Botto Maia.

De seu esconderijo, Queiroz aparentava ainda ter influência sobre os milicianos. Uma conversa grampeada mostra que ele foi procurado por um homem que havia sido ameaçado pela milícia e pedia ajuda. Queiroz se comprometeu a ajudar quando estivesse presencialmente no Rio, pois temia ter o celular grampeado.

Influência política

Outros diálogos mantidos entre a esposa Márcia e a filha Nathalia apontam que Queiroz exibia influência política para "pleitear nomeações em cargos comissionados", mesmo não tendo mais nenhum cargo na Alerj.

A mulher chegou a comparar o marido a "um bandido 'que tá preso dando ordens aqui fora, resolvendo tudo'". Em outra conversa, a filha desabafou: "Meu pai é burro! Meu pai é burro! Ele não ouve. Ele não faz as coisas que tem que fazer. Ele continua falando de política. Ele continua se achando o cara da política".

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