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Membros do Muda, Senado indo do Congresso à Praça dos Três Poderes para manifestação no último dia 25.
Membros do Muda, Senado indo do Congresso à Praça dos Três Poderes para manifestação no último dia 25.| Foto: Divulgação

Uma manifestação que pediu a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o Poder Judiciário levou à Praça dos Três Poderes, há dez dias, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PSL), críticos da atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) e até mesmo defensores de uma intervenção militar. Mas um dos principais resultados do protesto foi se tornar uma demonstração de força do grupo "Muda, Senado", um conjunto de parlamentares que tem incomodado as forças mais tradicionais da Casa.

O bloco, formado por 21 senadores, tem se destacado a despeito de não possuir membros de três dos partidos de maior relevância no Senado – o MDB, dono da maior bancada; o DEM, do presidente Davi Alcolumbre (AP); e o PT, principal força de oposição a Bolsonaro. Ou talvez o destaque ocorra justamente por não reunir integrantes destas legendas. Distante dos nomes habituais, o "Muda, Senado" puxa para si o discurso da "nova política", em alta desde as eleições do ano passado.

A instalação da CPI sobre o Judiciário, a "Lava Toga", é a principal bandeira do grupo. Outras causas do bloco são a derrubada do foro privilegiado, a redução dos custos do Legislativo, a abertura de processos de impeachment de ministros do STF e a defesa da operação Lava Jato. Mas com o fortalecimento do "Muda, Senado", já se especula que o grupo pode vislumbrar a presidência da Casa, nas eleições internas de 2021. "A eleição está muito longe. Mas certamente essa nossa forma de posicionamento poderá influenciar a disputa", declarou Alessandro Vieira (Cidadania-SE), um dos líderes do grupo.

Quem faz parte e quem pôde fazer parte

Integram o "Muda, Senado" parlamentares que ingressaram na Casa em 2019 e também alguns veteranos:

  • Alessandro Vieira (Cidadania-SE)
  • Styvenson Valentim (Podemos-RN)
  • Major Olímpio (PSL-SP)
  • Arolde de Oliveira (PSD-RJ)
  • Carlos Viana (PSD-MG)
  • Soraya Thronicke (PSL-MS)
  • Marcos do Val (Podemos-ES)
  • Eduardo Girão (Podemos-CE)
  • Selma Arruda (Podemos-MT)
  • Fabiano Contarato (Rede-ES)
  • Rodrigo Cunha (PSDB-AL)
  • Flávio Arns (Rede-PR)
  • Plínio Valério (PSDB-AM)
  • Jorge Kajuru (Cidadania-GO)
  • Oriovisto Guimarães (Podemos-PR)
  • Leila Barros (PSB-DF)
  • Luiz Carlos Heinze (PP-RS)
  • Alvaro Dias (Podemos-PR)
  • Randolfe Rodrigues (Rede-AP)
  • Reguffe (Podemos-DF)
  • Lasier Martins (Podemos-RS)

Segundo Alessandro Vieira, até o momento não houve nenhum descompasso entre convite e participação: ou seja, todos os senadores que foram convidados a integrar no bloco aceitaram a sugestão, e nenhum parlamentar que quis se juntar ao grupo teve a requisição recusada. "E acho que isso não irá acontecer", destacou.

O grande número de senadores e a variação de partidos dos membros do bloco faz com que o Muda, Senado tenha desde membros do PSL até os filiados à Rede Fabiano Contarato (ES) e Randolfe Rodrigues (AP), que têm batido constantemente no governo Bolsonaro.

Governista e membro do bloco, Arolde de Oliveira (PSD-RJ) minimiza o peso das contradições do grupo: "o bloco é do Senado, nós estamos pensando no Senado. Não é um bloco criado para apoiar ou deixar de apoiar alguém, e sim para tentar moralizar o Senado da República". Arolde também relata que não existe, no Muda, Senado, um "veto" a priori a membros de partidos que hoje não fazem parte do bloco. "Não há nenhuma espécie de veto. O bloco é aberto a todos os que se identificarem com nossos ideais", disse.

Tudo começou lá atrás

O "Muda, Senado" foi apresentado publicamente por Lasier Martins (Podemos-RS) em 13 de agosto, com um discurso no plenário da Casa. Mas o grupo se articula desde o início da atual legislatura. Grande parte dos senadores que hoje formam o bloco estiveram do lado de Alcolumbre na eleição para a presidência do Senado, vencida pelo democrata contra Renan Calheiros (MDB-AL), em fevereiro último.

Alcolumbre venceu aquela eleição com o apoio de parte do atual grupo e o discurso da "nova política", mas, apesar disso, sua atuação na presidência é um dos principais motores do "Muda, Senado". Os senadores do grupo se queixam de não estarem participando de decisões da Casa, de Alcolumbre ter se aproximado de parlamentares que ele mesmo tratou como adversários e também de o presidente ter engavetado três pedidos de instalação da Lava Toga. "O bloco acabou se formando como uma reação ao desconforto, à decepção que vários senadores passaram a ter quando perceberam que os compromissos de renovação não estavam sendo concretizados", afirmou Alessandro Vieira.

Quem se levanta contra o grupo

A lista de adversários do "Muda, Senado" é grande e diversificada. Não chega a ser formada automaticamente por todos os senadores que não estão no bloco, mas congrega grande parte do restante do Parlamento – em especial membros de partidos mais tradicionais. O próprio Davi Alcolumbre é, hoje, um dos opositores do bloco. Segundo nota do portal O Antagonista, o presidente do Senado estaria montando um dossiê contra alguns integrantes do bloco e também estudando denunciá-los ao Conselho de Ética da Casa.

O senador Chico Rodrigues (DEM-RR) é um dos parlamentares que não foi convidado para o grupo – mesmo também estando em seu primeiro mandato na Casa. Ele disse "reconhecer a legitimidade" do bloco, mas considera o Muda, Senado um "fator para tentar desagregar a condução dos trabalhos".

"Esse grupo cria um constrangimento com a Casa. Se já não bastasse a crítica da sociedade à classe política, temos ainda mais esse fator para tentar desagregar a condução dos trabalhos. E o presidente Davi tem tido uma gestão democrática, parceira. Respeito a decisão do grupo, mas acho que esse não é o momento de se fazer dissidências dentro do Senado", declarou.

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