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Alckmin e Lula num debate da eleição de 2006
Alckmin e Lula num debate da eleição presidencial de 2006, quando fizeram acusações mútuas.| Foto: Marcelo Sayão/EFE

Uma aliança inusitada pode se formar para as eleições de 2022. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem fazendo acenos para ter o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (que está de saída do PSDB) como seu candidato a vice-presidente. E o tucano – que disputou o segundo turno da eleição presidencial de 2006 com Lula, numa campanha marcada pelos ataques mútuos – tem sinalizado favoravelmente ao petista. Mas o que se sabe sobre essa aliança? Por que Lula quer ter seu ex-adversário na sua chapa? E quais são as condições necessárias para que esse acordo aconteça?

O primeiro fator-chave para que a aliança ocorra é a escolha do partido para qual Alckmin irá. Em entrevista à Rádio Gaúcha, Lula confirmou que está conversando com Alckmin e que aguarda a definição da uma legenda pelo tucano.

"A gente está num processo de conversar. Vamos ver se, na hora em que eu definir ser candidato, é possível a gente construir uma aliança política. Primeiro preciso saber qual é o partido em que Alckmin vai entrar. Quero construir uma chapa para ganhar a eleição", afirmou o ex-presidente.

Alckmin vai sair do PSDB. Ele rompeu com o governador de São Paulo, João Doria – de quem, aliás, havia sido padrinho político. Com a definição de que Doria será o candidato tucano à Presidência em 2022, Alckmin não vê mais espaço no ninho tucano e deve se desfiliar do PSDB ainda em dezembro. Neste momento, ele avalia duas opções de siglas: PSD ou PSB. E a escolha da legenda vai selar o destino de Alckmin: eleição a governador ou a vice-presidente.

Nesta semana, durante encontro com centrais sindicais, Alckmin admitiu que pode mudar seus planos iniciais para ser vice na chapa do ex-presidente Lula. Até então, o tucano vinha pavimentando sua candidatura ao governo do estado de São Paulo, onde lidera as pesquisas de intenção de voto.

"Preparei-me novamente para ser governador do estado. Surgiu a hipótese federal. Os desafios são grandes, mas esta é uma hipótese que caminha", disse Alckmin durante o encontro da Força Sindical, União Geral de Trabalhadores (UGT) e da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

PSD: governo de São Paulo. PSB: vice-presidente

A interlocutores, Alckmin já sinalizou que, caso se filie ao PSD, irá disputar o governo de São Paulo. Nesse caso, o ex- governador Márcio França (PSB) ficaria como vice na chapa de Alckmin.

O ingresso de Alckmin no PSD inviabiliza as negociações para ele ser vice de Lula porque, até o momento, o presidente nacional do partido, Gilberto Kassab, pretende que a legenda tenha candidato próprio à Presidência. E um candidato já está sendo preparado: o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG).

Mas o cenário muda se Alckmin ingressar no PSB. O PT vem negociando o apoio do partido para a eleição presidencial. E os petistas apostam que o ingresso do ex-governador de São Paulo na legenda, com a oferta da vaga de vice à sigla, seria suficiente para selar a aliança.

Integrantes do PSB, no entanto, já sinalizam que a composição só se viabilizaria caso Márcio França seja o candidato ao governo de São Paulo. E, nessa circunstância, O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) teria de abrir mão da candidatura ao governo paulista.

“Esse acerto depende do apoio do PT à candidatura do Márcio França em São Paulo”, admitiu o presidente do PSB, Carlos Siqueira, após reunião da sigla com a cúpula do PT em Brasília.

Atualmente, há resistências por parte do diretório paulista do PT em abrir mão da candidatura de Haddad. Então, para fechar uma aliança com Alckmin na esfera nacional, será necessária uma intervenção de Lula e da executiva nacional do PT no diretório de São Paulo. Mas, historicamente, Lula sempre conseguiu impor ao partido os seus planos – e não o contrário.

O que Lula tem a ganhar com Alckmin como vice? E o que o tucano ganharia?

Na avaliação de integrantes do PT, a composição com Alckmin pode trazer benefícios para a campanha de Lula. Isso porque o ex-governador de São Paulo pode atrair setores do mercado e do empresariado que hoje resistem ao nome de Lula como candidato à Presidência da República. A composição também aproximaria Lula do eleitorado de centro no espectro ideológico – numa espécie de reedição da escolha do vice de Lula em 2022, o empresário José Alencar.

Além disso, Alckmin pode agregar mais votos ao petista justamente em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país. Em pesquisa Datafolha realizada em setembro, por exemplo, Alckmin estava na liderança para o governo paulista, com 26% das intenções de voto.

Outra vantagem da aliança é que os outros principais puxadores de voto em São Paulo estariam no mesmo palanque. Na mesma pesquisa, atrás de Alckmin, aparecem Haddad e França, com 17% e 15%, respectivamente. No cenário sem Alckmin, Haddad tem 23% e França, 19%.

Haddad e França, aliás, foram os primeiros a tratarem com Alckmin sobre a possibilidade de composição com Lula para a disputa presidencial.

Já Alckmin, ao ser vice de Lula, poderia ganhar projeção política para ser candidato a presidente em 2026. O petista teria 80 anos e, nos bastidores, comenta-se que talvez Lula possa não concorrer a uma eventual reeleição. Alckmin, aliás, já afirmou que, se aceitar uma aliança com Lula, vai impor a condição de assumir funções relevantes no governo – e que não pretende ser um vice decorativo.

Eleição de 2006 foi marcada por trocas de acusações entre Lula e Alckmin 

Lula e Alckmin estiveram de lados opostos nas eleições de 2006. Na ocasião, o petista tentava sua reeleição e foi ao segundo turno contra o tucano.

Durante a campanha, por diversas vezes Alckmin questionou Lula sobre a origem de R$ 1,75 milhão em dinheiro vivo apreendido pela Polícia Federal em um hotel de São Paulo, que seria pagamento de petistas por um dossiê com acusações falsas contra tucanos. Na época, o escândalo chegou a derrubar integrantes da campanha de Lula, que apelidou os envolvidos no caso de "aloprados".

Já Lula afirmava que, se eleito, Alckmin iria promover uma série de privatizações. A estratégia era explorar acusações de supostas irregularidades na venda de estatais no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), também do PSDB.

"O governador, nas suas bravatas, ele fala de uma moralidade que parece que ele está numa sacristia", disse Lula durante o debate da TV Bandeirantes, se referindo a Alckmin, que havia deixado o cargo de governador de São Paulo para disputar a Presidência. Na sequência, Alckmin reagiu: "Não meça as pessoas pela sua régua. [...] Se há alguém que não tem moral para falar de ética é o governo Lula".

Em 2017, quando Lula e Alckmin planejavam disputar a eleição do ano seguinte, o tucano voltou a criticar publicamente o petista. "Depois de ter quebrado o Brasil, Lula diz que quer voltar ao poder. Ou seja, meus amigos, ele quer voltar à cena do crime", disse o tucano. Lula acabou ficando de fora da corrida presidencial, pois estava preso após ser condenado na Justiça por processos da Operação Lava Jato. Alckmin concorreu, mas teve apenas 4,76% dos votos, ficando em quarto lugar.

Apesar do histórico, Lula disse que não há desentendimento entre os dois que não possa ser superado. "Eu tenho uma extraordinária relação de respeito com Alckmin. Eu fui presidente quando ele foi governador; nós conversamos muito. Não há nada que aconteceu entre eu e o Alckmin que não possa ser reconciliado", disse Lula recentemente.

Dias antes, Alckmin já havia classificado o petista como uma figura que faz política com civilidade e que tem apreço pela democracia. "A política precisa ser feita com civilidade. É preciso resgatar a boa política. Ela precisa ser feita com quem tem apreço pela democracia”, disse o ex-governador.

Metodologia da pesquisa citada na reportagem 

A pesquisa Datafolha citada na reportagem foi realizada entre os dias 13 e 15 de setembro e ouviu 2.034 pessoas de 16 anos ou mais em 70 cidades do estado de São Paulo. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

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