O slogan “conservador nos costumes e liberal na economia” passou a fazer parte do cotidiano da política nacional nos últimos anos e vive seu ápice na gestão de Jair Bolsonaro (PSL), com a agenda do presidente e de ministros como Damares Alves e Paulo Guedes. Mas é um partido que não integra o governo que alterou a sua imagem para tentar ser uma espécie de “legenda oficial” dos conservadores e liberais, e assim buscar algum domínio dentro da centro-direita.
Trata-se do Republicanos, o novo nome do PRB. O partido teve a alteração de sua denominação confirmada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no último dia 15. A legenda alega que a modificação não se resume ao nome, e sim trata-se de uma “reformulação completa” nas estruturas do partido. O Republicanos incorporou o “conservador nos costumes e liberal na economia” como sua diretriz e passa a se apresentar, em todas as instâncias possíveis, como um partido de centro-direita.
O vice-presidente da sigla, deputado federal Márcio Marinho (BA), define a readequação como um “processo de transformação do pensamento e do comportamento partidário”. “Estamos também enfatizando nossa ideologia política, nosso compromisso com a família - a família ao modo pelo qual a sociedade foi formada”, reforçou o deputado Aroldo Martins (PR).
Briga na direita
A requalificação ou a busca por uma marca mais forte é essencial para um partido ainda relacionado à Igreja Universal do Reino de Deus e que quer buscar destaque em um cenário cada vez mais “congestionado”. A ascensão do conservadorismo brasileiro nos últimos anos abriu caminho para partidos de novos expoentes políticos, como o Novo e o PSL (que era um nanico sem viés ideológico definido até a chegada de Jair Bolsonaro, em 2018), e também fortaleceu lideranças que se identificam com valores tradicionais e estão dispersas em diferentes legendas, como Patriota, PL, PSD, PSDB e DEM.
Marinho confirma que o Republicanos almeja um protagonismo na centro-direita, “buscando sempre pela preservação das instituições políticas e sociais”.
“Nós temos crescido, de maneira firme e sustentável. E mais importante do que avançar é consolidar posições. Estamos crescendo com conteúdo. Podemos ter, sim, protagonismo nessa agenda [de centro-direita]”, acrescentou o deputado federal Lafayette de Andrada (MG).
Mas ao mesmo tempo que enfatiza o discurso conservador, o Republicanos almeja passar uma imagem mais estável e de mais diálogo do que outro partido do mesmo campo, o PSL. “Não somos pelo radicalismo”, declarou a deputada federal Rosângela Gomes (RJ), que comanda o secretariado de mulheres do partido. A parlamentar integra o partido desde sua fundação e define o Republicanos como um espaço “onde as mulheres negras podem sonhar”. Uma das “provas” do pouco radicalismo do Republicanos vem do fato de a legenda valorizar, até hoje, a figura de seu filiado mais ilustre - o ex-vice-presidente José Alencar, que ocupou o cargo durante a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), maior expoente da esquerda nacional.
A vice-presidência exercida por Alencar foi o mais perto que o Republicanos esteve de chegar ao comando do país. Ao longo de seus 14 anos, o partido não chegou a apresentar candidato a presidente em nenhuma ocasião. Em 2018, lançou o empresário Flávio Rocha como pré-candidato, mas desistiu do projeto após o nome não registrar bom desempenho nas pesquisas.
Se é Universal é Republicanos; recíproca que não é verdadeira
Com 14 anos de existência e um novo nome, ainda é correto relacionar o Republicanos com a Igreja Universal do Reino de Deus? O vice-presidente Márcio Marinho afirma que a Universal não tem “nenhuma influência” sobre o partido. “Existem no Republicanos pessoas da Universal e também de outras igrejas. Metade da bancada [da Câmara dos Deputados] é laica. Há católicos, há ateus. É um partido plural, que respeita a diversidade religiosa”, destacou o deputado Lafayette de Andrada.
Mas ainda que a igreja não “mande” no partido, existe um vínculo informal entre as instituições que pode ser resumido pela seguinte frase: nem todo republicano é da Universal, mas quase todo membro da Universal que está na política é do Republicanos.
“Políticos apontados pela igreja eram eleitos por outros partidos, até que houve um amadurecimento. Os pastores então pensaram: ‘vamos parar de sermos usados’. Então centralizamos os votos em uma sigla para deixarmos de ser a barriga de aluguel de votos em outros partidos”, declarou o deputado Aroldo Martins, que é bispo licenciado da Universal.
É outro bispo licenciado da igreja o filiado do Republicanos com o mandato de maior visibilidade nos dias atuais: o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella. Ele foi eleito para o cargo em 2016 numa disputa contra Marcelo Freixo (PSOL) e vinha registrado maus índices de aprovação desde o início do mandato, mas ganhou um reforço em sua imagem após o arquivamento de um pedido de impeachment contra ele. Deve concorrer à reeleição no próximo ano.
Décimo primeiro partido sem sigla iniciada por “P”
A alteração no PRB/Republicanos é mais um exemplo de uma tendência que tem marcado recentemente a política nacional, que é a troca de nome das legendas. Nos últimos anos, alteraram o nome PTN, PTdoB, PSDC, PEN e PMDB, que passaram a se chamar, respectivamente, Podemos, Avante, DC, Patriota e MDB.
O Republicanos será o décimo primeiro partido brasileiro cujo nome não será formado do modo clássico, uma sigla iniciada por P de partido e outras iniciais. Além das já citadas, compõem o rol DEM, Solidariedade, Cidadania, Novo e Rede.
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