Ex-presidenciável João Amoêdo e o governador Romeu Zema (MG): lideranças do Novo não se entendem quando o assunto é Jair Bolsonaro.| Foto: Agência Brasil / Gil Leonardi
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O deputado federal Alexis Fonteyne (Novo-SP) usou o adjetivo "perfeito" para avaliar declarações de dois ministros do governo de Jair Bolsonaro durante a reunião ministerial de 22 de abril. "Paulo Guedes é perfeito!", escreveu o parlamentar, após o ministro da Economia defender a privatização do Banco do Brasil. O outro que recebeu o elogio foi o titular do Meio Ambiente, Ricardo Salles: "Perfeito!! A burocracia e o excesso de regulamentação é um atraso só, ambiente perfeito para os mal intensionados (sic). Tem que aproveitar este momento para fazer um fast track na simplificação". Salles era filiado do Novo até ser expulso da legenda no mês passado.

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Já outro deputado federal do partido, Thiago Mitraud (MG), fez análise diferente da mesma reunião ministerial. "Bolsonaro segue sendo uma vergonha como presidente, e o vídeo reforça o péssimo líder que é. Pode não ser a tal bala de prata, mas é no mínimo inocência acreditar na tese que ele estava falando de sua segurança pessoal na reunião. E ainda há todos os demais elementos da investigação", postou em seu perfil no Twitter. O líder da legenda na Câmara, Paulo Ganime (RJ), também criticou a reunião.

As manifestações diferentes indicam um momento de discordâncias dentro do partido Novo, que contraria o que a legenda apresentou ao longo de 2019. No primeiro ano de mandato de Bolsonaro, que foi também o primeiro em que o Novo teve representantes no Congresso Nacional, o partido carregou a fama de ser um dos mais coesos do Legislativo, com seus membros tendo posicionamentos similares na quase totalidade das ocasiões.

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O Novo também se caracterizou pelo suporte que deu às políticas econômicas da gestão Bolsonaro — um suporte que, em muitas ocasiões, superou o das forças declaradamente governistas. A situação fez com que o partido fosse alvo de ciúme por parte de alguns bolsonaristas mais ferrenhos e de críticas dos integrantes da esquerda, que buscavam colar na sigla rótulos como "bolsonarismo gourmet" e "PSL Personnalité", em referência ao partido pelo qual o presidente foi eleito em 2018.

No momento atual, em que o presidente Bolsonaro enfrenta a sua maior crise de popularidade por conta da pandemia de coronavírus e pelas dificuldades econômicas, as discordâncias no Novo se fazem mais evidentes, e não se manifestam apenas dentro da bancada federal.

Enquanto Amoêdo pede renúncia, Zema é celebrado por Bolsonaro

Uma das vozes mais críticas a Bolsonaro dentro do Novo é a da personalidade mais conhecida da sigla, o ex-presidenciável João Amoêdo. Nos últimos meses, Amoêdo pediu a cassação de Bolsonaro por duas ocasiões: uma quando o presidente chamou a Covid-19 de "gripezinha" e a outra quando o ex-ministro Sergio Moro acusou o chefe do Executivo de interferir na Polícia Federal.

Talvez o segundo nome nacionalmente mais conhecido do Novo, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, caminha em direção oposta. Ele tem sido um dos raros gestores estaduais poupados por Bolsonaro durante a crise do coronavírus. O presidente da República tem entrado em rota de colisão com diversos governadores, inclusive antigos aliados, por discordâncias no modo de enfrentamento à pandemia.

Zema não só ficou imune às críticas como deixou de assinar uma carta de governadores com críticas a Bolsonaro e teve um vídeo seu compartilhado pelo presidente. Na publicação, de 18 de maio, o governador dizia que a paralisação na economia fazia com que Minas tivesse dificuldade para pagar as suas contas.

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O governador já havia protagonizado uma espécie de saia-justa com o Novo no início no ano, quando propôs um aumento de 41% a policiais de seu estado. A medida chegou a ser contestada judicialmente pelo próprio partido.

Opinião igual é coisa de partido autoritário, diz presidente do Novo

O empresário Eduardo Ribeiro, presidente nacional do Novo desde março último, disse considerar "natural" a existência de opiniões diferentes dentro da legenda. Segundo ele, o partido manteve, desde o início da gestão, uma postura de independência em relação ao governo Bolsonaro, o que dá aos integrantes a liberdade para a realização de críticas e elogios.

Ele atribuiu a variedade de pensamentos ao processo de crescimento pelo qual passa o partido. "Opinião igual é coisa de partido pequeno e autoritário", disse Ribeiro.

O presidente do partido afirmou que a relação entre Zema e a cúpula da legenda é "muito boa". "Ele é uma pessoa de muita índole, é muito respeitado por todos nós. Quando fez algo que esteve em desacordo com nossos pensamentos, a gente teve que se posicionar. Mas isso não representa, de forma alguma, um atrito", declarou.

Em relação à bancada federal, Ribeiro disse que as divergências de opinião não atrapalham a atuação dos deputados. Segundo ele, a coesão que os parlamentares detêm na análise das propostas econômicas acaba superando eventuais discordâncias que existam quanto a temas comportamentais.

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Quanto a um eventual afastamento de Bolsonaro, defendido por Amoêdo, Ribeiro colocou que não existe um posicionamento formal da legenda em relação ao tema. "Nós nos colocamos a favor do impeachment da Dilma Rousseff quando o TCU se posicionou contrário às pedaladas fiscais. Agora, não há nada que caracterize algo com o mesmo perfil. Mas os filiados estão livres para defender suas opiniões", destacou.