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O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, cochicha no ouvido do ministro da Economia Paulo Guedes durante sessão da CCJ. Foto: José Cruz/Agência Brasil
O ministro da Economia, Paulo Guedes, chega à CCJ da Câmara acompanhado do presidente Rodrigo Maia. Foto: José Cruz/Agência Brasil| Foto:

O ministro da Economia, Paulo Guedes, começou a semana prometendo assumir a linha de frente na articulação da reforma da Previdência, mas terminou batendo boca com deputados de oposição. Ele se exaltou na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara quando foi chamado de “tchutchuca” pelo deputado Zeca Dirceu (PT-PR) e rebateu à altura: “tchutchuca é a mãe. É a vó”. Um dia antes, o ministro dedicou grande parte do dia a receber grupos de parlamentares do PSD e do PSL para falar sobre a reforma.

A ideia de Guedes ir para o corpo a corpo com os deputados surgiu de um almoço que o ministro teve com Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara. Os dois se encontraram na última quinta-feira de março para traçar uma estratégia para apaziguar os ânimos dos deputados, que reclamam da falta de articulação do governo. Foi decidido no almoço que Guedes dedicaria o mês de abril a receber as bancadas dos partidos para conversar sobre a Previdência e que aceitaria o convite para ir à CCJ debater o texto.

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O movimento também surgiu após um vácuo deixado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), que pouco se envolveu até aqui na defesa da reforma. Bolsonaro também tinha trocado farpas com Maia via imprensa, dificultando ainda mais a relação entre Executivo e Congresso. Coube a Guedes o papel de apaziguar os ânimos.

Na terça, reuniões com bancadas

A estratégia começou a ser colocada em prática na terça-feira (4). Guedes recebeu, pela primeira vez, um grupo de parlamentares para falar sobre a reforma. Até então, ele estava centrado em receber prefeitos, governadores e os presidentes da Câmara, do Senado e Supremo Tribunal Federal.

O ministro conversou por uma hora e meia com 13 deputados do PSD, um partido que já se declarou favorável à reforma, mas é contra a desconstitucionalização das regras previdenciárias e a mudanças nas regras de acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC) e à aposentadoria rural.

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“Ele [Guedes] está inaugurando um novo momento. Ele vai fazer isso [reuniões] com várias bancadas. Foi uma oportunidade muito boa de tirar dúvidas e colocar preocupações. Ele nos recebeu de forma muita aberta e nos permitiu esse contato”, disse André de Paula (PE), líder do PSD na Câmara, após a reunião com Guedes. “Todos que puderem contribuir para que essa matéria tão importante para o país seja aprovada são bem-vindos. E o ministro da Economia cumpre um papel fundamental e insubstituível nisso”, completou.

À tarde, o ministro se reuniu por três horas com os deputados do PSL, partido do presidente Bolsonaro. O grupo era tão grande que foi preciso dividir em dois: primeiro entraram 16 deputados e, depois, 15, incluindo Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, Luciano Bivar, presidente do partido, e Delegado Waldir, líder da sigla na Câmara.

Na quarta, bate-boca na Câmara

No dia seguinte, Guedes foi a audiência na CCJ para debater a reforma da Previdência com os deputados. A presença do ministro aconteceu uma semana após ele ter desmarcado em cima da hora uma ida à comissão aconselhado por Rodrigo Maia, que o alertou do clima hostil que estava entre o Executivo e o Legislativo.

Só que o clima hostil não foi uma “página virada”, como falou na terça-feira o líder no governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO). A sessão foi dominada por parlamentares de oposição e o ministro teve que passar grande parte do tempo rebatendo críticas sobre a proposta da Previdência e escutando algumas acusações pessoais.

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Um parlamentar chegou a pedir o Imposto de Renda do ministro, alegando conflito de interesse. Outro, o chamou de rentista. Teve também quem disse que o ministro estava promovendo o desmonte da Previdência social ao propor um regime de capitalização sem contribuição do empregador. E quem afirmou que a proposta atinge somente os mais pobres com as mudanças no BPC, na aposentadoria rural e no abono salarial.

Deputados de partidos de oposição – PT, PDT, PSB e Psol – chegaram uma hora antes de começar a sessão na CCJ para garantir o direito a perguntar primeiro. Eles também, sempre que tinham uma brecha, interrompiam a fala do ministro, tanto na apresentação inicial quanto nos momentos em que Guedes respondia as perguntas dos parlamentares.

“O senhor só mandou o BPC, não é? Grandes fortunas o senhor não manda”, afirmou Henrique Fontana (PT-RS), interrompendo o discurso inicial do ministro. “Se eu puder falar, será interessante. Se eu não puder falar, espero”, rebateu Guedes.

Foram poucos os deputados aliados do governo que falaram. O líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo, só foi falar às 16h59, sendo que a audiência começou às 14h07. Pelo DEM, um dos principais partidos do Centrão, só falou Kim Kataguiri (SP), e ainda assim a fala do deputado só seu deu às 18h42.

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Com tanto espaço para o bombardeio de opositores, o ministro Paulo Guedes foi se irritando aos poucos na audiência. A explosão final aconteceu quando foi chamado pelo deputado Zeca Dirceu (PT-PR), filho do ex-ministro José Dirceu, de “tchutchuca” com privilegiados e “tigrão” com aposentados. O ministro e o deputado bateram boca por alguns minutos e uma confusão generalizada foi instalada na comissão. A audiência acabou sendo encerrada.

Ausência de articulação

A falta de base na audiência para ajudar o ministro na defesa da reforma reforçou as críticas de que falta articulação política ao governo. “O tumulto que marcou o fim da CCJ ontem mostrou que o governo não tem uma tropa de choque para fazer frente às manobras da oposição”, escreveu a XP Investimentos em relatório distribuído a investidores nesta quinta-feira (4).

O deputado federal Rubens Bueno (PPS-PR) também endossa a argumentação. “Veja o que aconteceu na CCJ. Mostrou que não há uma organização, não há uma articulação, não tem uma base aliada para defender os projetos do governo.”

Maia afirmou a jornalistas na quarta-feira, após o fim da sessão na CCJ, que “os líderes do governo erraram” na estratégia. “Eles tinham que ter proposto um rodízio [de fala de parlamentares]: um de um lado, outro de outro. Para que pelo menos no início houvesse um ambiente de mais debate. Eles deixaram a oposição se unir, se inscrever primeiro. Acabou parecendo que a comissão é contra a reforma.”

Já Marcos Cintra, secretário Especial da Receita Federal, preferiu colocar mais lenha na fogueira. "Paulo Guedes peitou a oposição [na CCJ]. Mostrou que não precisa ter apoio de ninguém para aprovar seus projetos no Legislativo. Com respaldo da sociedade o Brasil vai mudar", escreveu em seu perfil oficial no Twitter.

Guedes continuará como articulador?

A grande questão agora é saber se o ministro Paulo Guedes continuará na linha de frente de articulação da reforma. Nesta quinta-feira (4), ele recebeu somente o senador Jorge Kajuru (PSB-GO). Inicialmente, a ideia era se reunir com todas as bancadas que podem vir a compor a base do governo para tratar da reforma.

Questionado se as reuniões seriam mantidas ao longo deste mês, o Ministério da Economia informou: “até o presente momento, não temos esta informação”.

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