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Pesquisas eleitorais são confiáveis? Tudo o que você precisa saber em 7 perguntas e respostas

Pesquisas eleitorais: tudo o que você precisa saber
Entrevistador preenche caderno de respostas de pesquisa: levantamentos eleitorais são um retrato da opinião do eleitorado em um determinado dia. (Foto: Pixabay)

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Faltando um ano para as eleições, as pesquisas eleitorais começam a ganhar mais destaque na imprensa e passam a ser observadas com mais atenção por partidos, políticos e consultores. A Gazeta do Povo ouviu quatro especialistas da área que explicam o que são as pesquisas, como são feitas e o impacto que elas têm nas eleições. Confira a seguir.

1. O que são as pesquisas eleitorais e para que servem?

Para responder a essa pergunta, é necessário primeiro dizer o que elas não são. As pesquisas de intenção de voto não são uma previsão do resultado das eleições, muito menos quando ainda se está a um ano do pleito. Os institutos têm como objetivo fazer uma “retrato” das preferências do eleitorado no dia em que a pesquisa foi realizada. “É uma opinião muito pontual que pode mudar dois ou três dias depois”, explica David Verge Fleischer, cientista político e professor emérito da Universidade de Brasília (UnB).

Esse retrato é importante para entidades de classe, mercado financeiro e, principalmente, para lideranças políticas – tanto é que são esses os principais contratantes dos levantamentos. Para o último grupo, as pesquisas de intenção de voto que já estão sendo divulgadas servem para testar nomes de futuros candidatos e ajudam na formulação de estratégias de campanha e busca por apoios. Para empresários e líderes de entidades de classe, elas ajudam a decidir apoios e, mais adiante, podem ser relevantes para os investimentos no mercado financeiro.

“As pesquisas servem para contar histórias e mostrar tendências”, define Márcia Cavallari Nunes, CEO do instituto Ipec, que faz pesquisas de opinião.

A curva de evolução de cada candidato ou pré-candidato é tão ou mais importante que o percentual de intenções de voto em si, pois indica tendências e reações do eleitorado a determinados fatos. Geralmente, as principais mudanças ocorrem quando os candidatos formalizam as candidaturas e quando começa o horário de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV – embora acontecimentos políticos importantes possam ter mais peso no decorrer de um ano eleitoral.

2. Existe um método melhor para fazer entrevistas?

Existem várias maneiras de se realizar uma pesquisa de opinião. As mais usadas pelos institutos para os levantamentos de intenção de voto são a presencial e a telefônica. A “face a face” pode ser realizada por entrevistador que vai até a casa de um eleitor para entrevistá-lo ou ainda em um local de fluxo de pessoas – uma rua de um determinado bairro, por exemplo. O Instituto Datafolha, por exemplo, realiza suas pesquisas dessa maneira.

A entrevista por telefone também pode ser realizada de duas maneiras: com um entrevistador fazendo as perguntas ou por meio de gravações automatizadas em que o entrevistado responde clicando em números do seu telefone ou celular. Um dos institutos que adota este modelo “robotizado” é o PoderData.

Há vantagens e desvantagens entre esses métodos e os institutos decidem qual deles aplicar dependendo do objetivo do levantamento. Em uma pesquisa presencial, por exemplo, o contato com o entrevistador pode influenciar em uma determinada resposta ou, ainda, o viés do entrevistador pode influenciar quem ele escolhe para abordar na rua – no caso do método de fluxo.

Já as pesquisas por telefone ficam limitadas a bases de dados com números de telefone que são compradas pelos institutos, além da possibilidade de erro de digitação ou pressa em responder no caso das entrevistas automatizadas.

Essas possibilidades são previstas e incluídas nas margens de erro das pesquisas, que geralmente são de dois ou três pontos percentuais para a maioria dos institutos.

Mas qual é o método mais confiável? Existem maneiras de validar as pesquisas eleitorais, segundo explicou à Gazeta do Povo Daniel Marcelino, cientista de dados do Jota, site de notícias especializado na cobertura das instituições públicas brasileiras. Uma delas é comparar as pesquisas eleitorais realizadas na semana anterior às eleições com o resultado do pleito. Nesse caso, as presenciais têm uma diferença menor do que as realizadas por telefone, de acordo com o cientista (em torno de dois pontos percentuais, enquanto que as telefônicas, o erro aumenta para três pontos, segundo análise do cientista). Ele lembra também que, quanto mais perto da eleição a pesquisa for realizada, menor tende a ser o erro.

3. Qual tem sido o grau de acerto das pesquisas eleitorais no Brasil?

“As pesquisas acertam muito, mas dependem do tempo. Quanto mais próximo da eleição, maior a acurácia, independentemente do método. No Jota, fizemos um levantamento que envolveu cerca de 1.800 pesquisas eleitorais em 2018 e encontramos que 85% acertaram resultado – considerando pesquisas das últimas três semanas”, conta Marcelino. Ele ainda diz que, quanto mais frequentes forem as pesquisas realizadas por um instituto, mais precisas elas tendem a ser.

No primeiro turno das eleições presidenciais de 2018, por exemplo, todas as pesquisas divulgadas na semana que antecedeu o dia de votação acertaram o resultado: o pleito iria ao segundo turno entre o então candidato Jair Bolsonaro e o petista Fernando Haddad. O percentual de votos atribuído a cada candidato, porém, variou bastante do resultado final.

Os dois principais institutos de pesquisa na época, Ibope e Datafolha, colocavam Bolsonaro, respectivamente, com 41% e 40% das intenções de votos válidos. Haddad aparecia com 25% e a margem de erro das pesquisas era de dois pontos percentuais. Bolsonaro, porém, venceu o primeiro turno com 46% dos votos válidos. O petista fez 29%. Naquele ano, votos que essas pesquisas informaram que seriam de outros candidatos, como Marina Silva e Geraldo Alckmin, acabaram indo para os dois principais concorrentes.

Marcelino afirma que os resultados do primeiro turno são mais difíceis de acertar devido ao grande número de candidatos. Além disso, alguns institutos podem ser melhores em estimar o percentual para um candidato do que para outro. "Isso tem a ver com os recursos disponíveis. Por exemplo: tipo de lista telefônica, base de contatados, onde o instituto coleta as entrevista, entre outros fatores. Isso faz com que, às vezes, o instituto inclua um componente de erro sistemático na sua pesquisa."

No segundo turno, com apenas dois candidatos, as pesquisas tendem a ser mais certeiras. A realizada pelo Datafolha na véspera do segundo turno em 2018 cravou o resultado final: Bolsonaro com 55% e Haddad com 45%. O Ibope indicava 54% para Bolsonaro e Haddad com 46%.

Além dos métodos, outros fatores também podem influenciar o resultado de uma pesquisa eleitoral: a quantidade de entrevistados, a ordem e a maneira como as perguntas são feitas e como a amostra foi estratificada. Fatores de interesses também podem ter um peso, segundo Marcelino. "É preciso se perguntar: quem contratou essa pesquisa está tentado criar uma narrativa?".

De acordo com ele, uma das maneiras de minimizar os vieses, sejam eles técnicos ou de interesse, é observar os agregadores, que usam modelos probabilísticos para calcular uma espécie de média entre os resultados das pesquisas. Com o tempo, o modelo aprenderá a corrigir esses vieses.

4. Como confiar em pesquisas eleitorais, se nunca conheci alguém que foi entrevistado?

O número de pessoas que serão entrevistadas para uma pesquisa depende de critérios estatísticos. Quanto mais pessoas forem entrevistadas, mais confiável será a pesquisa. Mas, depois de um determinado número, a redução na margem de erro é tão pequena que não compensa os custos. Para pesquisas nacionais de eleições, geralmente são entrevistadas cerca de duas mil pessoas, mas há variações entre institutos.

Usando bases de dados sobre o eleitorado disponíveis no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Censo Demográfico, os institutos definem como vão estratificar a amostra. Um exemplo fictício: se as mulheres representam 53% dos eleitores do Brasil, o instituto deve entrevistar 53% de mulheres em sua amostra. Também são levados em conta fatores como escolaridade, região, população economicamente ativa, idade, renda, entre outros.

Ou seja, se a amostra for bem selecionada, ela estatisticamente representa toda a população. E isso garante o acerto das pesquisas. Mas, como apenas alguns milhares de pessoas representam milhões de brasileiros, a possibilidade de que alguém conheça um entrevistado é baixa.

5. Os institutos têm um “controle de qualidade” das pesquisas?

De acordo com o diretor do Instituto Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, e a CEO do Ipec, Márcia Cavallari Nunes, há sim um controle de qualidade dos levantamentos. Ambos os institutos realizam uma revisão de 20% das entrevistas feitas por entrevistador, para verificar como ele está conduzindo as perguntas e conferir as respostas com o banco de dados.

A tecnologia também permitiu que outras checagens sejam feitas a fim de garantir a precisão dos resultados, como o uso de tablets ligados a um sistema de GPS, por meio do qual é possível saber se o entrevistador está no local determinado pela amostragem para fazer as entrevistas.

“Também monitoramos o tempo da entrevista. Se uma delas foi realizada muito rápido em relação à média daquele grupo, revisamos para ver se está tudo certo”, diz Márcia, acrescentando que, se necessário, todas as entrevistas de um entrevistador podem passar por revisão.

Hidalgo lembra ainda que, no ano eleitoral, todas as pesquisas divulgadas precisam ser antes registradas na Justiça Eleitoral, com informações da amostra, das perguntas realizadas, metodologias, quem foi o contratante e o preço que foi cobrado dele para a realização da pesquisa.

6. Teremos mais institutos de pesquisa nas eleições de 2022?

Há um grande crescimento deste mercado no país. Segundo Murilo Hidalgo, esse impulsionamento se deu, principalmente, pelo maior interesse do mercado financeiro em contratar suas próprias pesquisas.

Daniel Marcelino, cientista de dados, acrescenta que esse movimento se deu, particularmente, nos últimos três anos, impulsionado também pela tecnologia. “A diversidade de empresas [que fazem pesquisas] significa que mais metodologias estão sendo testadas, mais pessoas estão sendo entrevistadas. Isso acaba diminuindo dois efeitos que podem ocorrer quando temos poucos institutos de pesquisa: o herding (rebanho, quando os pesquisadores se escutam mais entre si do que ao público) e o hedging (quando, para se precaver de um resultado inesperado, ajustam seu resultado para a margem de erro de pesquisas de outros institutos)".

7. Pesquisas eleitorais influenciam eleições?

Na opinião de Fleischer e Marcelino, sim. Além de servirem como uma ferramenta de campanha para candidatos e partidos, as pesquisas de intenção de voto também podem influenciar o voto do eleitor indiferente, aquele que vai votar apenas porque é obrigado a fazê-lo.

“Há uma grande chance de que esse eleitor vote em quem está liderando as pesquisas”, diz Marcelino, acrescentando que alguns estudos pequenos em cenários fictícios apontam para esse resultado – embora saliente que não há literatura conclusiva sobre a influência das pesquisas no voto do eleitor. Contudo, um impacto no resultado da eleição só ocorrerá, segundo ele, se a disputa entre os candidatos for muito apertada.

Márcia, por sua vez, afirma que não há influência no resultado. “A pesquisa eleitoral é uma informação adicional que o eleitor pode ou não usar para decidir seu voto. Não há uma influência maligna sobre o eleitor. Vemos candidatos que começam lá embaixo nas pesquisas, depois vão ganhando força e acabam ganhando”, exemplificou.

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