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Bolsonaro e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, um dos líderes do PP, em cerimônia pública no Dia do Servidor Público.| Foto: Valdenio Vieira/PR

A disputa pela filiação de Jair Bolsonaro faltando um ano para as eleições de 2022 provoca uma guerra fria entre caciques do PL, PP e PTB. As negociações se intensificaram nas últimas semanas, com os partidos fazendo promessas para conquistar a primazia de abrigar o projeto de reeleição do presidente da República. Bolsonaro ainda não tomou uma decisão e busca, dentre as opções, a sigla com as melhores condições para agrupar seus apoiadores e compor as bancadas estaduais.

O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, gravou um vídeo reforçando o convite de filiação para Bolsonaro, afirmando que o partido abre as portas também para os filhos e os seguidores do presidente. Horas depois da divulgação, Bolsonaro se reuniu com lideranças do PP, como o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, presidente licenciado do partido, e o presidente da Câmara Arthur Lira (AL). Os dois partidos são os maiores do Centrão, bloco de apoio do governo no Congresso Nacional.

O PL abriu negociações, inclusive, com deputados bolsonaristas que hoje estão no PSL. Em um jantar na casa do senador Wellington Fagundes (PL-MT), em Brasília, a deputada Bia Kicis (PSL-DF) recebeu a sinalização de que os demais integrantes do antigo partido do presidente poderiam ingressar no PL sem resistências.

Dentro do PL, a movimentação junto a deputados bolsonaristas foi vista como uma forma de ampliar a pressão sobre Bolsonaro. Aliados do presidente, que hoje estão no PSL, cobram que a escolha de um novo partido por Bolsonaro seja feita ainda neste ano, para que suas respectivas filiações já estejam pavimentadas quando a janela partidária for aberta no começo de 2022.

Diferentemente do PL, o PP tem mais resistências em receber a bancada bolsonarista por causa de divergências em alguns diretórios.

Vice-presidente da Câmara não pretende deixar o PL

Apesar das negociações, parte dos deputados do PL se divide sobre a possibilidade de filiação de Bolsonaro. O vice-presidente da Câmara, deputado Marcelo Ramos (AM), afirmou que não pretende deixar o partido e pede “licença” para não apoiar Bolsonaro.

"Eu e o presidente nacional do partido já tivemos essa conversa. Não há nenhuma possibilidade de eu apoiar a reeleição de Bolsonaro. Respeito quem pensa diferente, mas penso que ele possa até ser bom para o projeto eleitoral do PL, mas é ruim para o projeto de Brasil", argumentou Ramos.

Outros deputados já se movimentam para “se liberarem” do eventual apoio a Bolsonaro em 2022, principalmente em estados do Norte e do Nordeste. Recentemente, por exemplo, o líder do PL na Câmara, Wellington Roberto (PB), optou por não participar da agenda com o presidente durante a inauguração do eixo norte da obras de transposição do Rio São Francisco na Paraíba.

Caso Bolsonaro opte pelo PP, integrantes do PL dizem que não deverá ter um desembarque total do partido da base governista, pois alguns nomes como os dos senadores Jorginho Melo (SC) e Carlos Portinho (RJ) são mais alinhados ao presidente. No entanto, líderes da sigla ficariam liberados para construírem alianças de acordo com os interesses locais, inclusive com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

PTB critica negociações de Bolsonaro com o Centrão

A intensificação das negociações de Bolsonaro com partidos do Centrão repercutiu negativamente no PTB, sigla que propôs filiar o presidente e apoiar sua reeleição em 2022. Nesta quarta-feira (27), o presidente licenciado do PTB, Roberto Jefferson, criticou Bolsonaro e seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), pelo que ele descreve como "vício nas facilidades do dinheiro público".

Jefferson está preso no Rio de Janeiro e escreveu as críticas em carta encaminhada ao diretório do PTB. “O presidente tentou uma convivência impossível entre o bem e o mal. Acreditou nas facilidades do dinheiro público. (...) Desfrutou do prazer decorrente do dinheiro público, ganho com facilidade, nunca mais se abdica desse gozo paroxístico que ele proporciona. Bolsonaro cercou-se com viciados em êxtase com dinheiro público; Farias, Valdemar, Ciro Nogueira, não voltará aos trilhos da austeridade de comportamento. Quem anda com lobo, lobo vira, lobo é. Vide Flávio", afirmou Jefferson.

A presidente em exercício do PTB, Graciela Gienov, afirmou ter sido pega de “surpresa” com o vazamento da carta de Jefferson. No entanto, descartou que o partido esteja discutindo romper com Bolsonaro.

“Em momento algum a gente falou que romperia com Bolsonaro. Na reunião [da Executiva] a gente saiu firme em apoio ao Bolsonaro. Fomos pegos de surpresa por uma carta interna do partido que vazou. É bom deixar isso claro, que a carta era para o diretório, especificamente”, disse.

Bolsonaro recuou de filiação ao PTB

Reservadamente, integrantes do PTB, no entanto, afirmam que a sinalização dada por Roberto Jefferson é de um desembarque do governo. “Bolsonaro optou pelo Centrão ao invés de um partido que se reestruturou e defende as bandeiras conservadoras e de direita. O partido agora precisa de outro nome para levantar essas bandeiras. O Roberto [Jefferson] até sugeriu o vice-presidente Mourão”, afirmou um integrante do PTB.

Na carta, o presidente afastado do PTB orienta as lideranças do partido a convidarem o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) para disputar a presidência da República. “Vamos convidar o Mourão. O PTB terá candidatura própria, quem sabe apoiamos o Bolsonaro no segundo turno”, diz um trecho da carta.

Graciela reconhece que parte do diretório ficou “triste” pela decisão de Bolsonaro. Uma comissão chegou a ser criada no PTB para estruturar a filiação do presidente, mas o grupo não foi recebido pelo Palácio do Planalto.

"Estamos juntos com o Bolsonaro sem cargos e sem ministérios. Nós organizamos um partido alinhado a ele [Bolsonaro], onde de Norte a Sul é de direita. Metade do PP é de esquerda, o Nordeste todo está fechado com o PT. Gente, o PL tem um presidente (Valdemar da Costa Neto) que foi envolvido no mensalão, numa organização criminosa. Como um homem de bem pode ir para esses partidos? Eu entendo a mágoa do Roberto que está há 70 dias na prisão”, disse  Graciela.

A presidente interina do PTB afirma ainda que a carta de Roberto Jefferson era para o partido “refletir”. “Essa carta era para gente pensar em uma estratégia. Para que a gente não deixasse Bolsonaro, que é esse homem de bem, se juntar com pessoas que mancham a bandeira verde e amarela. Eu também estou revoltada em ver o abandono do nosso presidente. Confesso a vocês. Tentamos marcar uma agenda com ele, e ele não aceitou. Ele não quis nos receber no Palácio [do Planalto]", afirmou.

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