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PP: Senador Ciro Nogueira, presidente do Partido
Ao fundo, o senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP e um dos quatro investigados do partido no STF.| Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

O PP teve quatro de seus integrantes transformados em réus pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na última semana. A Segunda Turma da corte aceitou denúncia contra os deputados federais Aguinaldo Ribeiro (PB), Eduardo da Fonte (PE) e Arthur Lira (AL) e contra o presidente nacional da sigla, o senador Ciro Nogueira (PI).

Acusados de operar um esquema de desvios de recursos da Petrobras, os caciques 'enquadrados' no STF fazem ganhar força a expressão "quadrilhão do PP", apelido negativo dado à legenda pelo elevado número de seus integrantes envolvidos com denúncias relacionadas à Lava Jato, voltasse aos destaques dos jornais.

A dura notícia e a lembrança do termo "quadrilhão" poderiam representar um baque para qualquer grupo político brasileiro. Mas, no caso do PP, é pouco provável que isso abale a reputação do partido.

Afinal, o PP já detém alguma experiência em notícias negativas: foi um dos protagonistas do mensalão, ainda na década passada, e figurou também entre os mais relacionados com a Lava Jato desde o início da operação. Há ainda escândalos de corrupção de menor repercussão que envolvem outros membros do partido.

Ainda assim, a sigla é uma das principais forças da política nacional, condição que preserva desde a década de 1990 e que se mantém nos dias atuais. O número elevado de filiados e a boa capacidade de articulação de seus líderes são os fatores mencionados como decisivos para explicar o fato de o PP permanecer em destaque - mesmo estando, com frequência, na linha de fogo.

Caminhos da força do PP

O PP foi influente nos governos de Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer. Ocupou ministérios, teve líderes de bancada e foi decisivo para que os presidentes obtivessem votações favoráveis no Congresso.

Mesmo na gestão do presidente Jair Bolsonaro (PSL), que venceu as eleições sob o discurso da "nova política", a sigla segue com relevância - tem um dos vice-líderes no Congresso, o deputado Claudio Cajado (BA), e um dos vice-líderes na Câmara, o deputado Guilherme Derrite (SP). Além disso, seus deputados têm se posicionado na linha de frente da defesa da reforma da previdência.

No Congresso Nacional hoje a sigla reúne 39 deputados federais e seis senadores. Se o histórico do PP é de controvérsias e escândalos, um questionamento que poderia surgir é: como a sigla continua atraindo filiados e se mantendo desejável para os governantes de ocasião?

"Nenhuma liderança consegue desprezar um partido do tamanho do PP. Não dá para avançar, não dá para aprovar projetos sem ouvir o partido", afirmou um deputado federal de outro partido de centro, entre os mais experientes da Câmara.

Um integrante do PP, também deputado federal e que conversou em off com a Gazeta do Povo, acrescentou ao grande número de integrantes o fato de o partido ter entre os membros alguns dos principais articuladores do Congresso. "Eu acho que muita gente critica o PP porque gostaria de estar como nós estamos: com esse grande número de deputados, reunindo alguns dos mais experientes, outros ligados ao agronegócio, uma equipe qualificada…", ironizou.

Líderes são "cabeças" do Congresso

O PP teve oito parlamentares indicados entre os "cabeças" do Congresso na edição de 2019 da relação feita anualmente pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Eles são os senadores Espiridião Amin (SC) e Daniella Ribeiro (PB) e os deputados Laércio Oliveira (SE) e Ricardo Barros (PR), além dos quatro transformados em réu pelo STF - Arthur Lira, Aguinaldo Ribeiro, Ciro Nogueira e Eduardo da Fonte.

Fora do Congresso, o partido chama a atenção também pelo número de filiados: é o quarto com mais integrantes no Brasil, atrás apenas de MDB, PT e PSDB. A relevância do PP longe de Brasília se viu também em um episódio que acabou entrando para o folclore da política nacional, o apoio do ex-prefeito Paulo Maluf à candidatura de Fernando Haddad (PT) à prefeitura de São Paulo em 2012.

Maluf não apenas declarou voto em Haddad como pediu que ele e o ex-presidente Lula fossem à sua casa sacramentar a aliança. O acontecimento despertou críticas de lideranças de esquerda e fez com que a deputada Luiza Erundina, atualmente no PSOL mas que à época estava no PSB, desistisse de ser candidata a vice-prefeita na chapa de Haddad.

O ex-presidente Lula, com Haddad e Maluf comemoram aliança em campanha municipal de 2012. | Foto: Adriana Spaca/Folhapress
O ex-presidente Lula, com Haddad e Maluf comemoram aliança em campanha municipal de 2012. | Foto: Adriana Spaca/Folhapress

As muitas caras do PP

Outro componente que ajuda o PP a sobreviver aos escândalos é o fato de o partido não conter uma identidade nacional única. O que poderia ser interpretado como um defeito converte-se em uma virtude - um filiado de um estado pode alegar não ter vínculo algum com o político de uma região distante envolvido em um caso de corrupção.

Por exemplo, no Rio Grande do Sul o PP tem conexão grande com o agronegócio e com a direita local. Os dois principais expoentes do partido no estado são a ex-senadora Ana Amélia Lemos, vice de Geraldo Alckmin na chapa que concorreu à presidência em 2018, e o senador Luiz Carlos Heinze, que em 2018 recebeu mais de 2 milhões de votos. Já no Piauí, estado do presidente do partido, o PP fez parte da coligação do governador reeleito Wellington Dias (PT).

A variedade das “caras” do PP foi também citada em diferentes ocasiões por Jair Bolsonaro, que integrou a legenda entre 2005 e 2016. O presidente sempre disse atuar à margem da direção da sigla, e portanto não teria envolvimento com os casos que ganharam repercussão.

Limites da blindagem

A força do PP, entretanto, não é intransponível. A transformação dos quatro líderes do partido em réus trouxe um abalo - ainda que pequeno - à imagem da sigla dentro do Congresso. “Deixou uma mácula para eles. Isso foi bem perceptível dentro do parlamento", declarou o deputado do outro partido de centro. O membro do PP endossou o quadro e disse que o momento atual é de “prestar solidariedade” aos companheiros de sigla.

Já a ex-senadora Ana Amélia adotou o discurso habitual dos políticos que veem colegas de legenda relacionados a casos de corrupção: "A justiça está aí para fazer a análise. Eles [os parlamentares] devem fazer a sua defesa. No Estado de Direito é assim que funciona. Ninguém está acima da lei. Se houve irregularidades praticadas por eles, eles têm que dar explicações à justiça", afirmou à Gazeta do Povo.

A ex-senadora disse também que apoia as investigações feitas pela operação Lava Jato e que seu partido "não é feito de anjos". “Todos os partidos têm problemas. O PT tem ex-ministros e um ex-presidente da República na cadeia, o PSDB tem gente na cadeia, o MDB também", contemporizou.

Quadro eleitoral

Ana Amélia foi protagonista de uma aposta fracassada que o PP fez nas eleições de 2018. O partido foi, no início da corrida eleitoral, cobiçado por diferentes candidaturas presidenciais, de Jair Bolsonaro a Fernando Haddad. Acabou fechando com Geraldo Alckmin (PSDB), e indicou Ana Amélia para concorrer a vice-presidente. A expectativa era de que o PP fosse relevante para a disputa pelo tempo de televisão que o partido detinha, pelo seu grande número de filiados e, no caso específico da ex-senadora, pelo seu bom trânsito no meio do agronegócio.

Mas a chapa de Alckmin naufragou: recebeu menos de 5% dos votos válidos. A adesão do PP ao projeto tucano não foi das mais enfáticas. Ainda no primeiro turno, alguns integrantes da legenda já manifestaram apoio a Jair Bolsonaro. No segundo, a sigla esteve formalmente neutra, mas a maior parte de seus integrantes esteve ao lado do hoje presidente da República.

Além do insucesso no projeto presidencial com Ana Amélia, o PP também teve números negativos em outras esferas. A bancada federal foi de 50 para 37 deputados. Houve apenas uma vitória para o governo, com Gladson Cameli, no Acre. E duas governadoras que tentavam a reeleição, Suely Campos (RR) e Cida Borghetti (PR), passaram longe do triunfo.

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