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O presidente Bolsonaro ao lado de líderes evangélicos.
Presidente Bolsonaro conta com o apoio de diversas lideranças religiosas do meio evangélico| Foto: Isac Nobrega/PR

Representando cerca de 30% do eleitorado brasileiro, os evangélicos já começam a ser cortejados pelos principais pré-candidatos da disputa presidencial do ano que vem. Até o momento, o presidente Jair Bolsonaro (PL) conta com acenos de apoio das principais lideranças religiosas evangélicas. No entanto, outros nomes – como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-juiz Sergio Moro (Podemos) e o ex-governador Ciro Gomes (PDT) – buscam se aproximar de evangélicos.

De acordo com o último levantamento do Ipec, de setembro, Lula lidera entre os eleitores evangélicos, com 38% das intenções de voto. Em seguida, aparece o presidente Jair Bolsonaro com 29%, seguido por Sergio Moro e Ciro Gomes (PDT), com 5% das menções dos evangélicos cada um. João Doria (PSDB) somou 2% nesse segmento do eleitorado, enquanto Simone Tebet (MDB), Rodrigo Pacheco (PSD) e Alessandro Vieira (Cidadania) tiveram 1%, cada.

Mas, embora Lula lidera dentre os eleitores evangélicos, é Bolsonaro quem hoje tem o apoio declarado do maior número de lideranças evangélicas do país. E ele pretende manter a confiança que conquistou do segmento ainda nas eleições de 2018. Com a indicação de André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal (STF) e com a consolidação do partido Republicanos na coligação de reeleição de Bolsonaro, aliados do Planalto acreditam que o presidente terá influência sobre o voto evangélico em 2022. O Republicanos é ligado à Igreja Universal do Reino de Deus. E Mendonça é evangélico.

“Quero dar os parabéns ao presidente Bolsonaro, que manteve a sua palavra, mesmo sofrendo pressões internas e externas: indiciou um 'terrivelmente evangélico' [para o STF]. Mas não somente isso; [indicou] alguém de notório saber jurídico”, comemorou o pastor Silas Malafaia após a aprovação de Mendonça para o STF. O pastor é uma das principais lideranças religiosas ligadas ao Palácio do Planalto.

Nesta semana, Bolsonaro disse ainda que, se for reeleito, pretende indicar mais evangélicos para as vagas do Supremo que serão abertas no próximo mandato presidencial.

Lideranças evangélicas tentam indicar vice de Bolsonaro 

Integrantes do Republicanos tentam agora indicar um nome evangélico como vice na chapa de Bolsonaro para o ano que vem. O partido busca ocupar o espaço que até então vinha sendo pleiteado pelo Progressistas (PP), comandado pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira.

Na avaliação de integrantes do Republicanos, o partido precisa ocupar mais espaços no governo, já que hoje comanda apenas o Ministério da Cidadania com o ministro João Roma. De acordo com integrantes do partido, a indicação do vice seria uma forma de garantir apoio ao nome de Arthur Lira, do PP, para o comando da Câmara dos Deputados a partir de 2023.

Líder do governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PP-PR), afirmou que a escolha do vice passará pela coalização de partidos de apoio ao presidente. “Nós temos um tripé de apoio: Republicanos, Progressistas [o PP] e Liberais [PL, novo partido de Bolsonaro]. O vice é a última coisa que se escolhe numa campanha, pode ser evangélico, pode ser mulher, pode ser negro, pode ser nordestino, pode ser do Sul. É a última coisa [a ser definida], porque ela depende das outras peças do tabuleiro”, admitiu.

Lula tenta atrair evangélicos por meio de denominações menores 

Apesar de já ter contado com apoio de denominações como Assembleia de Deus e da Universal, o ex-presidente Lula considera remota a possibilidade de atrair lideranças que hoje apoiam o presidente Bolsonaro. No entanto, integrantes do PT tentam atrair denominações menores e que defendam algumas pautas progressistas. A deputada Benedita da Silva (PT-RJ), que é evangélica, tem promovido encontros de lideranças religiosas com Lula.

O ex-presidente também tem feito acenos aos evangélicos. Recentemente, disse que as políticas públicas implementadas nos governos petistas beneficiaram moradores da periferia, áreas com forte presença das igrejas.

“Quando fui presidente, não queria governar para um pastor. Eu queria governar para o povo. Tive uma extraordinária relação com todas as igrejas e governei para todo mundo”, disse Lula durante um encontro com pastores e fiéis.

De acordo com integrantes do PT, o objetivo desses acenos é engajar pastores e lideranças religiosas nas comunidades. “Nós, evangélicos, representamos 32% da sociedade brasileira. Porém, entre os públicos mais vulneráveis, há uma presença ainda maior de evangélicos. E todas as políticas que foram implementadas no governo Lula, consequentemente, atingiram as nossas famílias evangélicas”, diz Benedita da Silva.

Já a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), diz que a defesa da liberdade religiosa será a premissa da campanha de Lula. "Na nossa caminhada, nunca fizemos disputa religiosa. Nós sempre respeitamos todas as religiões, a fé e o credo das pessoas. Nossos adversários é que trouxeram a religião para a disputa política e inventaram mentiras. Respeitamos todos os credos e todas as religiões e o que queremos é colocar em prática um programa que melhore a vida das pessoas”, afirma Gleisi.

Além disso, Lula tende a evitar tocar em temas caros ao eleitor religioso, Pautas como a legalização do aborto e das drogas, por exemplo, devem ficar de fora do discurso de Lula em 2022.

Deltan pode aproximar Moro de evangélicos 

O ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro é outro pré-candidato a presidente que busca ampliar seu grupo político e, para isso, já faz acenos para diversos segmentos da sociedade, entre eles os evangélicos. Durante sua filiação ao Podemos, por exemplo, Moro defendeu a necessidade de “proteger a família” e dar “uma sólida formação moral”. Posteriormente, o ex-juiz disse numa entrevista ser contra o aborto.

Em outra frente, o ex-coordenador da Lava Jato em Curitiba Deltan Dallagnol poderá ser uma ponte entre Moro e os evangélicos da Igreja Batista. Deltan tem participação ativa nessa denominação evangélica e vai formalizar sua filiação ao Podemos nesta sexta-feira (10) – possivelmente para concorrer ao cargo de deputado federal pelo Paraná.

Além disso, Moro convidou o presidente da Associação Nacional dos Juristas Evangélicos (Anajure), Uziel Santana, para coordenar um núcleo de ações e agendas visando o segmento religioso. Para isso, Santana se afastou do cargo e recentemente postou uma foto ao lado de Moro nas redes sociais. "Que Deus o abençoe e sustente nesta dura missão", escreveu.

Já a presidente do Podemos, deputada Renata Abreu (SP), também tem se encontrado come lideranças religiosas e Sergio Moro. Ela é pastora e conta com apoio do ex-ministro Ronaldo Fonseca, que também é evangélico e exerce influência sobre algumas denominações religiosas.

Ciro Gomes compara Bíblia com a Constituição 

De forma mais tímida que os seus adversários, o pré-candidato pelo PDT, Ciro Gomes, também tenta atrair o eleitorado evangélico com alguns acenos. Recentemente, por exemplo, o pedetista divulgou um vídeo em suas redes sociais no qual exalta os valores cristãos enquanto segura a Bíblia em uma mão e a Constituição na outra. "O Brasil é uma República laica, mas a Bíblia e a Constituição não são livros conflitantes", disse.

O aceno, contudo, foi rebatido por Silas Malafaia, que disse que havia começado o que chamou de "temporada da enganação e da mentira política". "Ciro Gomes, tu pensa que vai enganar o povo Cristão? Vai enganar católicos e evangélicos? Conta outra, cara", disse Malafaia.

Mesmo assim, Ciro Gomes tem mantido interlocução com igrejas menores e com pastores de diferentes vertentes. A avaliação de integrantes do PDT, no entanto, é de que essa não será uma das prioridades do pré-candidato para 2022, tendo em vista sua pouca penetração no segmento evangélico.

Metodologia de pesquisa citada na reportagem 

O Ipec, antigo Ibope, ouviu 2.002 eleitores entre os dias 16 e 20 de setembro de 2021 em 141 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais e para menos. O nível de confiança é de 95%.

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