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Inpe e desmatamento: “Questionamentos do governo fazem sentido”, diz professor da USP
| Foto: Nasa/JHUAPL

O professor Alexandre Galvão Patriota, livre-docente do Departamento de Estatística do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (USP), afirmou neste sábado (3) que os questionamentos do governo aos dados sobre o desmatamento da Amazônia "fazem sentido".

Ele analisou os dados do Deter-B, o Sistema de Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real, operado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e as inconsistências levantadas pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em coletiva na última quinta-feira (2). Em uma série de posts em seu perfil no Twitter (confira abaixo alguns deles), Patriota evidenciou que há pelo menos três incongruências nos dados apresentados pelo Inpe.

A primeira é a questão das áreas sobrepostas, ou seja, a possibilidade de ter havido contagem duplicada do desmatamento. A segunda são as áreas desmatadas há meses ou anos que supostamente não foram detectadas na época e só foram contabilizadas em junho de 2019. E a terceira diz respeito a áreas com baixa vegetação que teriam sido detectadas como desmatamento.

Os dados divulgados pelo Inpe apontaram para o mês de junho um salto de 88% no desmatamento em relação ao mesmo período de 2018. O governo reagiu contestando os dados numa coletiva de imprensa da qual participaram o presidente Jair Bolsonaro e os ministros Ricardo Salles e Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Salles não apresentou números alternativos, mas apontou “falhas no monitoramento” do Inpe.

“Do Inpe eu esperava uma resposta oficial aos questionamentos do ministro. Em seu comunicado à imprensa, o instituto disse que os dados apresentados pelo ministro estão em consonância com o esperado pelo Deter. O que me impressionou, pois esperava uma contestação ponto a ponto da apresentação do Ministério do Meio Ambiente. Se não contestaram os pontos levantados pelo ministro, ele tem certa razão”, afirma Patriota em entrevista à Gazeta do Povo.

Para entender melhor a questão, Patriota disse que solicitou ao Inpe "informações sobre a variabilidade de uma análise de regressão empregada na validação do sistema Deter em relação ao Prodes" (Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia), outro sistema de monitoramento do Inpe que serve para calcular a taxa anual de desmatamento. Esse dado solicitado, uma espécie de margem de erro, vai mostrar o quão preciso é o Deter em relação ao Prodes. “O Deter apresenta uma estimativa da área desmatada que precisa ser confirmada pelo Prodes”, explica o professor.

Um dos problemas nas medições do Deter é causada pela alta nebulosidade em muitas áreas da floresta. Pode ocorrer que o satélite não consiga capturar as imagens durante um longo período numa área e, quando finalmente consegue, o desmatamento é contabilizado naquele mês, sendo que pode ter ocorrido meses ou até anos antes.

"Não foi um problema técnico do Inpe, foi de divulgação na mídia. O Deter não pode ser usado como detecção definitiva de desmatamento, mas sim de alerta. O Inpe deixa isso claro em seus relatórios metodológicos”, explica Patriota.

Segundo o especialista, uma discussão ideologizada e a divulgação de informações equivocadas podem causar dano ao Brasil no cenário internacional e nas relações diplomáticas. “Houve um problema de comunicação essencialmente. Provavelmente, o presidente [da República] ficou sabendo [dos dados] pela mídia. Penso que o dirigente do instituto [Ricardo Galvão, exonerado por Bolsonaro] deveria esclarecer de maneira adequada as limitações e características das medições para evitar que a confusão se enraizasse de maneira incontornável”, completa Patriota.

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