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Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais.| Foto: Reprodução Facebook.

Surfando na onda da antipolítica, o empresário Romeu Zema (Novo) se elegeu governador de Minas Gerais no ano passado com a promessa de empreender uma revolução no modo comandar o estado por meio de um modelo de gestão empresarial. Sem nunca ter disputado nenhuma eleição, Zema é o primeiro e até agora único governador do Novo. Virou a "estrela" e "vitrine" do partido. Mas, após seis meses no governo, passou por um choque de realidade na política: embora tenha implantado algumas mudanças no modo de gerir o estado, enfrenta obstáculos para implantar sua agenda e não conseguiu cumprir promessas.

“Ele, de fato, implementou algumas mudanças. Por outro lado, teve que romper com algumas ideias [que apresentou na campanha]. Ele não tinha clareza de como seria o dia a dia do governador”, resume Malco Camargos, cientista político e professor da PUC-MG. O próprio Zema reconheceu a falta de experiência na gestão da máquina estatal.

Promessas descumpridas

Jetons não foram abolidos

Um dos cavalos de batalha da campanha de Zema foi a abolição do jeton – o valor que é pago aos parlamentares e secretários por sessões extraordinárias que participam, por exemplo, dos conselhos das empresas estatais. Depois de eleito, ele teve que recuar da promessa eleitoral.

Minas vive uma grave situação financeira há muitos anos, que obriga o governo a pagar baixos salários a servidores e autoridades. Os secretários mineiros ganham cerca de R$ 8 mil líquidos por mês, menos da metade do valor recebido por um secretário da prefeitura de Belo Horizonte. O pagamento dos jetons se tornou, portanto, uma forma de compensar os salários defasados.

“Realmente tenho de dar mão à palmatória porque errei nessa questão”, admitiu Zema em entrevista à CBN em junho. “É a primeira vez que assumo um cargo público e não tinha conhecimento de como estava [a realidade salarial no governo]. Mas continuo sendo contrário aos jetons. Eu gostaria, ainda no meu governo, assim que Minas recuperar as finanças, proibir que secretários participem de [conselhos de] empresas estatais, ou que eles vão como voluntários. E que tenham salário reajustado”, disse.

Os baixos salários da cúpula do estado se tornaram um problema para atrair profissionais qualificados no mercado para os cargos de gestão, já que a iniciativa privada paga mais. Isso é especialmente complicado para um governador que havia se comprometido a montar sua equipe com profissionais do mercado e não com a classe política tradicional.

Aproximação com a “velha política”

Apesar do discurso de distanciamento da política tradicional adotada pelo Novo, Zema se aproximou de figuras que integraram do PT e do PSDB – os dois partidos que governaram Minas antes dele.

Segundo revelado pelo jornal mineiro O Tempo, a alta cúpula do governo emprega pelo menos 56 pessoas indicadas por tucanos. O próprio líder do governo na Assembleia mineira, o deputado Luiz Humberto Carneiro, é filiado ao PSDB. A aproximação com o partido, muito desgastado pelos processos contra o deputado federal mineiro Aécio Neves, não foi vista de bons olhos por parte do Novo e acabou criando tensões internas.

O presidente do partido, João Amoêdo, defendeu Zema: “Não é razoável deixar de ter pessoas competentes porque elas estiveram em outro mandato. A gente aceitou esse risco de imagem para ter um ganho de eficiência na gestão pública”, disse em maio em entrevista à Folha de S. Paulo.

Na opinião do cientista político Malco Camargos, essa aproximação não desgastou a imagem do governador. “Ele não construiu uma imagem para chegar ao governo; a vitória se deu pela negação da classe [política] tradicional por parte do eleitorado. Isso dá uma margem a Zema”, explica. Segundo o especialista, a aproximação com a chamada “velha política” é inclusive necessária para conseguir vitórias no Legislativo, já que “ele tem sofrido derrotas contundentes”.

 “Farra” do helicóptero oficial

Um dos episódios mais polêmicos do novo governo ocorreu em 21 de abril, quando o vice-governador de Minas Gerais, Paulo Brant (Novo), usou o helicóptero oficial para viajar com a esposa Alexia Paiva de um spa de luxo em Macacos, distrito de Nova Lima, à cidade histórica de Ouro Preto para participar de uma cerimônia no Dia de Tiradentes. O governo justificou a viagem dizendo que o hotel se encontrava na rota para Ouro Preto.

Foi uma mudança de discurso em relação ao passado, quando o Partido Novo tratou o uso de helicóptero por outros governadores como “farra”. Após o caso vir à tona, Zema admitiu que, por questões de segurança, tempo e mobilidade, “o governador precisa locomover-se também em aeronaves oficiais”, mas que isso será feito “respeitando o dinheiro público”.

Promessas cumpridas (parcial ou totalmente)

Trabalho grátis

Em agosto do ano passado, durante a campanha eleitoral, Zema divulgou amplamente seu compromisso de abrir mão do salário de governador (R$ 10,5 mil) até que o pagamento do funcionalismo estadual fosse regularizado. Ele e o vice Paulo Brant firmaram até um compromisso em cartório e a medida valeria também para os secretários.

Quando, em março desse ano, Zema descobriu que a lei estadual impedia que o governador não recebesse o salário, ele doou o valor integral para instituições filantrópicas. Já os secretários receberam os vencimentos normalmente.

A reforma administrativa aprovada em maio e que entrou em vigor em 30 de junho alterou a lei e agora governador e secretários podem renunciar aos salários. Mas ainda não houve notícia de que alguém abriu mão formalmente da remuneração.

Redução de secretarias

Ao lado da abolição dos jetons, a redução do número de secretarias estaduais de 21 para 9 foi outro carro-chefe da campanha. Já no governo, Zema acabou ficando com 12 pastas. O governador havia anunciado também a fusão de algumas secretarias como a de Segurança Pública com a de Administração Prisional (o que acabou ocorrendo e que foi rebatizada de Secretaria de Justiça e Segurança Pública), e a do Meio Ambiente com a da Agricultura (o que não aconteceu).

Além disso, logo após a eleição, Zema definiu que os secretários seriam escolhidos por meio de processo seletivo e que uma empresa de recursos humanos seria contratada para recrutar nomes técnicos em cada área. De fato, Zema nomeou secretários com perfil técnico, com exceção de Custódio Antônio de Mattos, político filiado ao PSDB.

Casa alugada

Candidato mais rico que concorreu ao governo mineiro e dono de centenas de lojas espalhadas pelo estado, Zema se elegeu com a proposta de cortar mordomias. Em fevereiro, renunciou à residência oficial no Palácio das Mangabeiras e optou por uma casa alugada na Cidade Administrativa de Belo Horizonte.

O aluguel, que gira em torno de R$ 7 mil, e até o salário da funcionária da limpeza, são pagos com dinheiro próprio do governador. Segundo o governo mineiro, isso acarreta uma economia aos cofres públicos de R$ 155.816 por mês ou R$ 1,86 milhão por ano.

Em andamento

Seguindo a agenda liberal do partido, as privatizações são outro terreno favorável a Zema, mas que ainda não saíram do papel. Para privatizar a Cemig (companhia energética de Minas), o governador propôs no final de junho uma mudança na legislação estadual que permita a venda da estatal sem necessidade de um referendo popular, como determina atualmente a lei.

No final de maio, o governador e o secretário de Infraestrutura e Mobilidade, Marco Aurélio Barcelos, anunciaram a privatização de 2,5 mil quilômetros de rodovias.

As privatizações são inclusive exigência do governo Bolsonaro para iniciar o plano de recuperação fiscal de Minas, com duração de seis anos, para tirar as contas públicas estaduais do pesado déficit. Além da Cemig, o Tesouro Nacional pediu ao governo mineiro a privatização da Copasa (companhia de saneamento) e da Codemge/Codemig (companhias de desenvolvimento).

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