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Criança de família que sobrevive de Bolsa Família em Rebouças, na região Sul do Paraná, espia por fresta da parede de sua casa de madeira
Uma das propostas prevê pagamento de renda mínima a crianças de zero a seis anos.| Foto: Gazeta do Povo

A crise econômica advinda da pandemia do novo coronavírus deu a deixa para que um assunto antigo dominasse as discussões entre economistas e ganhasse fôlego em Brasília. Trata-se da implementação de um programa de renda básica que atinja toda a população, independentemente da faixa salarial. Segundo seus defensores, esse é um poderoso mecanismo de combate à desigualdade. Para seus críticos, um benefício impagável.

Controvérsias à parte, versões de um possível programa de renda básica circulam no Congresso Nacional e até dentro do governo. Entre deputados e senadores, a articulação deu origem à Frente Parlamentar Mista em Defesa da Renda Básica, que tem como um de seus entusiastas o jovem deputado federal João Campos (PSB/PE).

Na segunda-feira (15), o próprio presidente Jair Bolsonaro falou do assunto. Em entrevista, disse que o governo estuda criar um programa de renda mínima para beneficiar quem ganhe menos de R$ 500, mas não deu mais detalhes.

A perspectiva de que um programa desse tipo possa ser implementado deu esperança a Eduardo Suplicy, ex-senador e hoje vereador em São Paulo. Defensor histórico da renda básica, o petista já teve um projeto sobre o assunto aprovado no Parlamento e sancionado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2004. Mas o texto da lei 10.835, que instituiu a renda básica da cidadania, nunca foi colocado em prática.

"Há um crescente interesse pela renda básica. Farei 79 anos no domingo (21) e avalio que finalmente chegou a hora da implementação", disse Suplicy à Gazeta do Povo.

Mas, afinal, quais são as propostas à mesa – e quanto elas custariam aos cofres públicos? De acordo com cálculos do economista Marcos Mendes, pesquisador associado do Insper, a despesa para o governo pode variar entre R$ 66 bilhões (no caso da duplicação do programa Bolsa Família) e R$ 1 trilhão (na proposta de renda mínima de R$ 400 por pessoa).

Entre os dois extremos, no entanto, há propostas intermediárias, que aparentam ser mais viáveis e efetivas. A Gazeta do Povo listou três das muitas ideias que vêm sendo discutidas. Confira:

1. A proposta de Guedes: unificação de benefícios sociais no programa Renda Brasil

O ministro da Economia, Paulo Guedes, já defendeu publicamente a unificação do Bolsa Família com outros benefícios sociais – como o abono salarial e o seguro-defeso – em um novo programa, chamado Renda Brasil. Assim, os trabalhadores informais identificados na concessão do auxílio emergencial durante a pandemia seriam incluídos permanentemente nos benefícios do governo – uma forma de fazer com que recursos públicos continuem chegando a essa população mais vulnerável no período de recuperação da crise.

O próprio governo ainda não tem uma estimativa de quanto o programa custaria. Sabe-se, porém, que só o Bolsa Família representou mais de R$ 30 bilhões em despesas em 2019. Com o auxílio emergencial, por sua vez, a previsão é de gastos de R$ 50,5 bilhões para cada mês de benefício.

2. Economistas defendem o pagamento de renda básica universal a crianças

Outra alternativa, que vem ganhando corpo no debate entre economistas, prevê o pagamento de meio salário mínimo a crianças de zero a seis anos, independentemente da renda familiar. De acordo com a economista Monica De Bolle, pesquisadora do Peterson Institute for International Economics e professora da Johns Hopkins University, um programa desse tipo "preencheria lacunas" deixadas pelos benefícios sociais já existentes. O custo seria algo entre 1% e 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Nos cálculos do economista Marcos Mendes, o impacto fiscal seria de quase R$ 130 bilhões por ano.

"O impacto total desse tipo de programa sobre as contas públicas acaba sendo menor do que parece, e a razão é simples: trata-se de uma transferência de renda que resulta em aumento do consumo, e o aumento do consumo eleva a arrecadação de impostos, o que financia, em parte, o programa. Além disso, o consumo aquece a economia e gera crescimento, de modo que há um efeito multiplicador: com mais renda, há mais consumo e, no fim, mais arrecadação", defendeu De Bolle em sua coluna no jornal O Estado de S. Paulo.

3. Com a benção de Maia e Alcolumbre, Congresso articula proposta

De forma independente do governo, técnicos do Legislativo também estudam formas de viabilizar a criação de um programa mais amplo que o Bolsa Família depois do término do pagamento do auxílio emergencial. A iniciativa para os estudos partiu dos grupos Câmara Viva e Muda Senado, que congregam cerca de 40 parlamentares.

A ideia que está sendo gestada, de acordo com o jornal "Valor Econômico", é do pagamento de um benefício de R$ 100 por pessoa para famílias com renda per capita de meio salário mínimo. Crianças de zero a seis anos teriam um auxílio extra de mais R$ 100.

Os cálculos dos técnicos apontam que, somando os valores já gastos pelo governo em benefícios sociais e o dinheiro represado em fundos públicos (R$ 119 bilhões, no total), ainda faltariam R$ 19 bilhões para que todas as despesas, de R$ 138 bilhões, fossem cobertas.

Se o valor do benefício subir para R$ 150, o custo total do programa saltaria para R$ 215 bilhões.

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